sexta-feira, 19 de abril de 2013

VITÓRIA DE PIRRO?



Prof. Cajuaz Filho (*)
Uma das características do mundo antigo, e ao que parece do atual, era a barbárie. Imperava a lei do mais forte. Guerras e mais guerras, quase sempre sem motivo algum e com um único objetivo: alargar seus domínios territoriais à custa de vidas humanas. Barbaridade! Hoje também é a lei do faroeste e a do abuso do poder que dominam.
A História registra muitas destas catástrofes. Aqui quero me reportar às que houve entre Roma e o Épiro acontecidas nos anos 280 a.C e 279 a.C., já faz muito tempo, respectivamente, a de Heracleia e a de Ásculo que explicam o título epigrafado.
Nessas batalhas, venceu o Rei do Épiro, Pirro, mas essa vitória lhe custou perdas irreparáveis no seu exército.
No regresso, com os louros da vitória, ao ser cumprimentado por um seu vassalo pela grande vitória, Pirro disse que uma outra vitória como esta o arruinaria completamente.
Assim a expressão “Vitória de Pirro” ficou consagrada para significar uma vitória conseguida com grande dificuldade e acarretadora de grandes prejuízos. É evidente que toda vitória exige um grau de dificuldade muito grande e acarreta também prejuízos de todas as ordens. Desse modo, pode-se dizer que “Vitória de Pirro” é uma metáfora para descrever uma vitória que, de tão sacrificada, de tão desgastante, tornou-se uma vitória inútil.
Os professores das universidades estaduais vêm, por meio do seu sindicato, travando uma batalha violenta contra o abuso do poder executivo cearense para o reconhecimento de um direito conquistado no governo de Gonzaga Mota: o piso salarial, surrupiado no governo Tasso. Se as de Pirro duraram apenas dois anos, a dos professores já dura vinte e seis.
Nesse período, houve grandes vitórias no Supremo Tribunal Federal e no Tribunal Superior do Trabalho. A preocupação agora é que elas não se transformem em Vitória de Pirro. Os perdedores, o Estado, debochando da Justiça e ridicularizando-a dizem: Vocês ganharam, mas não vão levar. Querem apostar?
Que insensatez! Que barbaridade!Que ridicularidade (assim mesmo)! Que desrespeito! Se é assim, acabe-se com o Poder Judiciário. Para que ele existir se não for para fazer valer a justiça, apanágio da democracia? Não terá mais serventia. Voltará o mundo a viver a barbárie e sua bandeira será: Quem for podre que se quebre. Volta a lei do mais forte.
Será isso verdade. Acredito que não. Se não, por que tanta demora em finalizar com o sofrimento de tantos que esperam bradar aos quatro cantos do Estado do Ceará: A força do direito e da justiça derrotou o direito da força! A justiça, intemerata e intimorata, reconhece o direito de quem o tem. Se assim for, o mundo estará vivendo Idade de Ouro dos tempos primordiais. Que Beleza!
Os professores não estão pedindo favores. Se tivessem perdido em todas as instâncias, tenho certeza, já tinham enfiado a viola no saco e tinham ido bater em outra freguesia. Eles ganharam. Agora, que se faça justiça, mesmo que desabe o céu e desagrade os poderosos. Que seja executado, com urgência, porque justiça tardia é injustiça, aquilo que a Corte maior da Justiça brasileira decidiu como direito líquido e ordenou que fosse cumprido: a implantação do piso salarial dos professores das universidades estaduais do Ceará. Nada de temores dos poderosos, nada de medo de revanchismo dos perdedores. Coragem! Destemor! Justiça!
Foi esta nossa saga judicial uma Vitória de Pirro. Não, não e não. Foi uma Vitória da Justiça.
Por isso uma pergunta inocente: O que falta para acabar com esta pendenga?
(*) Professor aposentado da Uece. Editor de APESC Notícias.

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