Prof. Cajuaz
Filho (*)
Uma das características do mundo antigo, e ao que parece do atual, era
a barbárie. Imperava a lei do mais forte. Guerras e mais guerras, quase sempre
sem motivo algum e com um único objetivo: alargar seus domínios territoriais à
custa de vidas humanas. Barbaridade! Hoje também é a lei do faroeste e a do abuso
do poder que dominam.
A História registra muitas destas catástrofes. Aqui quero me
reportar às que houve entre Roma e o Épiro acontecidas nos anos 280 a.C e 279 a.C., já faz muito tempo,
respectivamente, a de Heracleia e a de Ásculo que explicam o título epigrafado.
Nessas batalhas, venceu o Rei do Épiro, Pirro, mas essa vitória lhe
custou perdas irreparáveis no seu exército.
No regresso, com os louros da vitória, ao ser cumprimentado por um
seu vassalo pela grande vitória, Pirro disse que uma outra vitória como esta o
arruinaria completamente.
Assim a expressão “Vitória de Pirro” ficou consagrada para
significar uma vitória conseguida com grande dificuldade e acarretadora de
grandes prejuízos. É evidente que toda vitória exige um grau de dificuldade
muito grande e acarreta também prejuízos de todas as ordens. Desse modo,
pode-se dizer que “Vitória de Pirro” é uma metáfora para descrever uma vitória
que, de tão sacrificada, de tão desgastante, tornou-se uma vitória inútil.
Os professores das universidades estaduais vêm, por meio do seu
sindicato, travando uma batalha violenta contra o abuso do poder executivo
cearense para o reconhecimento de um direito conquistado no governo de Gonzaga
Mota: o piso salarial, surrupiado no governo Tasso. Se as de Pirro duraram
apenas dois anos, a dos professores já dura vinte e seis.
Nesse período, houve grandes vitórias no Supremo Tribunal Federal e
no Tribunal Superior do Trabalho. A preocupação agora é que elas não se transformem
em Vitória de Pirro. Os perdedores, o Estado, debochando da Justiça e
ridicularizando-a dizem: Vocês ganharam, mas não vão levar. Querem apostar?
Que insensatez! Que barbaridade!Que ridicularidade (assim mesmo)!
Que desrespeito! Se é assim, acabe-se com o Poder Judiciário. Para que ele
existir se não for para fazer valer a justiça, apanágio da democracia? Não terá
mais serventia. Voltará o mundo a viver a barbárie e sua bandeira será: Quem
for podre que se quebre. Volta a lei do mais forte.
Será isso verdade. Acredito que não. Se não, por que tanta demora
em finalizar com o sofrimento de tantos que esperam bradar aos quatro cantos do
Estado do Ceará: A força do direito e da justiça derrotou o direito da força! A
justiça, intemerata e intimorata, reconhece o direito de quem o tem. Se assim
for, o mundo estará vivendo Idade de Ouro dos tempos primordiais. Que Beleza!
Os professores não estão pedindo favores. Se tivessem perdido em
todas as instâncias, tenho certeza, já tinham enfiado a viola no saco e tinham
ido bater em outra freguesia. Eles ganharam. Agora, que se faça justiça, mesmo
que desabe o céu e desagrade os poderosos. Que seja executado, com urgência,
porque justiça tardia é injustiça, aquilo que a Corte maior da Justiça
brasileira decidiu como direito líquido e ordenou que fosse cumprido: a
implantação do piso salarial dos professores das universidades estaduais do
Ceará. Nada de temores dos poderosos, nada de medo de revanchismo dos
perdedores. Coragem! Destemor! Justiça!
Foi esta nossa saga judicial uma Vitória de Pirro. Não, não e não. Foi
uma Vitória da Justiça.
Por isso uma pergunta inocente: O que falta para acabar com esta
pendenga?
(*) Professor aposentado da Uece. Editor
de APESC Notícias.
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