terça-feira, 9 de julho de 2013

Médicos para o Interior: com a cara e a coragem



“A UFC aderiu ao Provab e tem 441 médicos vinculados a 58 supervisores nos três Cursos de Medicina”
Maria Neile Torres de Araújo (*)
O Provab é um programa do Ministério da Saúde para provimento de médicos em áreas selecionadas. Os médicos que aderem recebem um acréscimo de 10% na nota em concursos de residência. Em 2013, os Municípios ofereceram 9.429 vagas e se inscreveram mais de 8 mil médicos. Foram validados 4.569 postos do Provab no Brasil, reduzidos para 3.966 por entradas em residências médicas, desistências etc. Mas sobraram médicos e sobraram vagas, ou seja, quase 4 mil médicos ficaram de fora.
Inaceitável!
A Universidade Federal do Ceará (UFC) aderiu ao Provab e tem 441 médicos vinculados a 58 supervisores nos três Cursos de Medicina: Fortaleza, Sobral e Barbalha. Analisemos agora os dados de 381 relatórios. A visão geral sobre as Unidades de Saúde mostra que 55% delas são adequadas. Assim, 45% são inadequadas. Inadequações que variam desde a falta de uma simples fita métrica (39%) à falta de oxigênio para atendimento de emergências (95%). A adequação de macas para exame dos pacientes é vista em 58% das unidades e de banheiros em 44%. Material de curativo adequado existe em 51% das Unidades e de sutura, em apenas 12%. Medicamentos para hipertensão têm abastecimento adequado em qualidade e quantidade em 47% das unidades, para diabetes em 51% e antibióticos em 50%.
Conflitos começam a ocorrer. Como atender um paciente sem maca para exame, sem estetoscópio e tensiômetro? Não se pode aceitar trabalhar em tão precárias condições, que se refletem, obviamente, na qualidade do atendimento. “Não se pode consertar tudo do dia para a noite”, ouve-se de gestores. Mas quando isto vai acontecer? Precisamos de um plano de ação sob pena de se desperdiçar uma excelente estratégia que despontou com criatividade e pode realmente contribuir para a construção do SUS.
É inócuo interiorizar o médico, com a cara e a coragem, a enfrentar desafios éticos e técnicos. O Provab, sem o apoio de recursos, será mais uma iniciativa fracassada.
Por que tanta dificuldade? Faltam recursos? Os Municípios se justificam, o Estado aponta tímidas medidas e o Ministério da Saúde cala-se. Sabemos, no entanto, que deixou de executar R$ 17 bilhões do seu orçamento no ano passado. Isso dói. Dói e frustra a todos os que se envolveram com o projeto.
(*) Coordenadora do Provab/UFC -Fortaleza
Publicado In: O Povo, de 8/7/13. Opiniã. p.7.

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