Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Seriam estas
nossas únicas certezas. À medida que são celebradas novas maneiras para adiar a
morte, cresce o interesse pelo seu estudo. Este criou foros de ciência e ganhou
um nome grego: tanatologia (tanatos = morte), aplicado pela médica
suíço-americana Elizabeth Kübler-Ross (Zurique, 1926 – Arizona, 2004), pioneira
na assistência aos doentes terminais. Desde os Vedas, escritos 2000 anos a.C.,
até os pensadores modernos, a meta tem sido elucidar o sentido da morte.
Sócrates, Platão e Montaigne enfatizaram ser a filosofia um mero estudo desta.
Assim,
filosofando, superaríamos o medo que dela têm alguns. O cineasta americano
Woody Allen declarou não temê-la, embora não querendo estar presente quando ela
chegar! Thomas Mann (1875-1955), alemão, prêmio Nobel 1929, afirmou que, sem o
passamento, não haveria poetas. Em verdade, este foi o tema do primeiro texto
épico, e do poema lírico inicial da literatura mundial. Longo poema épico, o
Gilgamesh data “circa” 700 a.C.
E uma das famosas poetisas primevas (iniciais) foi Safo. Seus versos fúnebres
ainda hoje ecoam universalmente.
As artes,
desde seus primórdios, guardam vínculos e vincos com a morte, e foram funéreas
as composições iniciais de Bach, Gluck, Mozart, Beethoven, Schubert, Liszt e
Verdi. Contudo, o óbito até há pouco era um assunto interdito nas comunidades
ocidentais, quedando escondido atrás das paredes dos hospitais, ou sob as
máscaras cosméticas dos esquifes (caixões mortuários) nos velórios. Desde 1969,
este assunto passou a ser abertamente debatido graças ao seminal (inspirador)
livro Sobre a Morte e o Morrer, da Dra. Elizabeth Kübler-Ross que tivemos o
prazer de conhecer em Fortaleza (Ed. Edart, Universidade de São Paulo, 1977).
Estranhamos a
omissão do seu histórico nome em matéria dos psicólogos A. Escudeiro e F.
Marinho publicada em jornal local (DN, 9/7/2013). Seus dois outros livros foram
Questions and Answers on Death and Dying. Ed. Macmillan, New York,
1974, e Death: The Final Stage of Growth (“Morte: o Estágio Final do
crescimento”). Ed. Prentice-Hall Inc.,
Londres. 1975, também traduzidos para o português.
Ano passado, o
tema começou a ser encarado filosoficamente nos grupos (“café da morte”)
confidenciais e não lucrativos, em 40 cidades norte-americanas. Tais
agremiações surgiram há cerca de 10 anos na Suíça e na França (“Cafe mortel”) e
estudam tanatologia, inclusive a eutanásia (morte induzida sem sofrimento),
questionando as técnicas de reanimação em moribundos desenganados (New York
Times, 24/6/2013).
Há muito,
neste jornal, vimos visitando esta pauta: 25/6/2007, 13/5/2009, 13/11/2010, com
em Qualidade de Morte (5/1/2011), e em 27/3/2013. A morte no Japão tem um
verbete específico: “Shuukatsu” – preparar o próprio fim, tendo cuidado até do
sepultamento, para não ocupar/onerar outros.
O novelista
espanhol Vicente Blasco Ibañez (1867–1928) autor de Os Quatro Cavaleiros do
Apocalipse e Sangue e Areia declarou serem o esquecimento e a esperança as duas
forças que ajudam a viver. Talvez mercê da segunda, a última a morrer, os
cientistas vêm procurando reverter ou deter o envelhecimento protelando a
morte. O Criador ainda não completara Sua criação?
(*)
Médico e secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 17/07/2013.
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