segunda-feira, 5 de agosto de 2013

VOCÊ É TELEMANIPULADO?



Meraldo Zisman (*)
Vejam só o que acontece com o nosso cérebro - o arcabouço anatômico da mente - quando se trata de uma pessoa televisual. Nos noticiários, por exemplo. Dizem que 75% das notícias ofertadas às pessoas são veiculadas pela televisão. Elas são transmitidas, geralmente, com brevidade, em segunda voz, sobrepostas a uma ou várias imagens. Em menos de trinta minutos, contabilizando-se as propagandas e as conversas entre os apresentadores, são veiculadas, em média, cerca de quarenta notícias. De tal maneira, torna-se impossível formar um juízo de opinião daquilo que foi noticiado, sendo logo esquecido. Ou, pior: deturpado. Os fatos são transformados em meias verdades, quando não totalmente desvirtuadas.
O cérebro é a estrutura física da mente. Conhecer o que se passa dentro dela, quando nos tornamos um ente televisual, é essencial para entendermos as manobras das psicologias de massa e as lavagens cerebrais. O encéfalo é constituído por dois hemisférios. O direito controla as atividades científicas e artísticas; e, o esquerdo, é responsável pelas atividades matemáticas, nele estando presente o centro da linguagem. A imagem projetada na tela penetra direto no cérebro, através da visão, e estimula o lobo frontal, que está relacionado com a personalidade, a individualidade.
Ao assistir à televisão, o hemisfério direito se torna duas vezes mais ativo que o esquerdo, o que, por si só, já não é muito normal. O cruzamento dos dois hemisférios, então, libera substâncias químicas conhecidas por neurotransmissores (desprendidas pelos neurônios e utilizadas para a transferência de informações entre os dois hemisférios). Dentre os neurotransmissores conhecidos estão as endorfinas, as beta-endorfinas, as encefalinas, possuidoras de efeito assemelhado ao ópio e seus derivados, tais como a morfina, a heroína, e a codeína. Todas elas são drogas alucinógenas e causam dependência.
Na escala zoológica, a porção do cérebro superior, conhecida, também, por neocerebro, é a mais desenvolvida, permanecendo inativa ou diminuída, já que as imagens tele-apresentadas atuam sem a sua intervenção, indo diretamente para o cérebro primitivo (regiões inferiores encefálicas, conhecidas, ainda, por sistema límbico - reptiliânico ou visceral), a porção do sistema nervoso central que desencadeia o processo primitivo de luta/fuga, presente em qualquer animal.
A porção anterior do cérebro (o lobo frontal), em particular, a do lado do hemisfério esquerdo, é a mais estimulada quando se trata de “televisual”, justamente a responsável pela regulação/inibição do comportamento das pessoas. Tais estímulos provocados no lobo frontal têm a ver com as dificuldades de atenção, de concentração e de motivação, e com o aumento da impulsividade; desinibindo o autocontrole, as dificuldades para reconhecer a culpa, a desinibição sexual, a dificuldade de avaliar as consequências, as ações praticadas, com a ampliação do comportamento agressivo, e o aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas correlacionados, positivamente, com os comportamentos criminosos), bem como a inaptidão à aprendizagem.
Você já tinha imaginado o tamanho do poder dos meios de comunicação de massa, quando mal utilizados?
Cuidado para poder distinguir o que é verdadeiro ou falso. E entenda porque, algo que é transmitido pela televisão, pode levá-lo a crer que o mundo real contradiz o que está sendo apresentado.
Desconheço, no presente momento, um melhor meio – do que o ofertado pela televisão - que contribua para criar uma cultura homogênea, ou para moldar e/ou controlar todo um povo, em qualquer país. Se o mundo, aqui fora, contradiz aquilo que a televisão apresenta, as pessoas tentam mudar o mundo real, para que ele se torne parecido com o assistido através da televisão.
Quando tentar entender/explicar o que está ocorrendo, de um modo geral, será que você se considera telemanipulado? Pense bastante a esse respeito, antes de rir desta croniqueta.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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