Meraldo Zisman (*)
Vejam só o que acontece com o
nosso cérebro - o arcabouço anatômico da mente - quando se trata de uma pessoa
televisual. Nos noticiários, por exemplo. Dizem que 75% das notícias ofertadas
às pessoas são veiculadas pela televisão. Elas são transmitidas, geralmente,
com brevidade, em segunda voz, sobrepostas a uma ou várias imagens. Em menos de
trinta minutos, contabilizando-se as propagandas e as conversas entre os
apresentadores, são veiculadas, em média, cerca de quarenta notícias. De tal
maneira, torna-se impossível formar um juízo de opinião daquilo que foi
noticiado, sendo logo esquecido. Ou, pior: deturpado. Os fatos são
transformados em meias verdades, quando não totalmente desvirtuadas.
O cérebro
é a estrutura
física da mente. Conhecer o que se passa dentro dela, quando nos tornamos um
ente televisual, é essencial para entendermos as manobras das psicologias de
massa e as lavagens cerebrais. O encéfalo é
constituído por dois hemisférios. O direito controla as atividades científicas
e artísticas; e, o esquerdo, é responsável pelas atividades matemáticas, nele
estando presente o centro da linguagem. A imagem projetada na tela penetra
direto no cérebro, através da visão, e estimula o lobo frontal, que está relacionado com a
personalidade, a individualidade.
Ao assistir à
televisão, o hemisfério direito se torna duas vezes mais ativo que o esquerdo,
o que, por si só, já não é muito normal. O cruzamento dos dois hemisférios,
então, libera substâncias químicas conhecidas por neurotransmissores
(desprendidas pelos neurônios e utilizadas para a transferência de informações
entre os dois hemisférios). Dentre os neurotransmissores conhecidos estão as
endorfinas, as beta-endorfinas, as encefalinas, possuidoras de efeito
assemelhado ao ópio e seus derivados, tais como a morfina, a heroína, e a
codeína. Todas elas são drogas alucinógenas e causam dependência.
Na escala
zoológica, a porção do cérebro superior, conhecida, também, por neocerebro,
é a mais desenvolvida, permanecendo inativa ou diminuída, já que as imagens
tele-apresentadas atuam sem a sua intervenção, indo diretamente para o cérebro
primitivo (regiões inferiores encefálicas, conhecidas, ainda, por sistema
límbico - reptiliânico ou visceral), a porção do sistema nervoso central que
desencadeia o processo primitivo de luta/fuga, presente em qualquer animal.
A porção
anterior do cérebro (o lobo frontal), em particular, a do lado do hemisfério
esquerdo, é a mais estimulada quando se trata de “televisual”, justamente a
responsável pela regulação/inibição do comportamento das pessoas. Tais
estímulos provocados no lobo frontal têm a ver com as dificuldades de atenção,
de concentração e de motivação, e com o aumento da impulsividade; desinibindo o
autocontrole, as dificuldades para reconhecer a culpa, a desinibição sexual, a
dificuldade de avaliar as consequências, as ações praticadas, com a ampliação
do comportamento agressivo, e o aumento da sensibilidade ao álcool (sintomas
correlacionados, positivamente, com os comportamentos criminosos), bem como a
inaptidão à aprendizagem.
Você já
tinha imaginado o tamanho do poder dos meios de comunicação de massa, quando
mal utilizados?
Cuidado
para poder distinguir o que é verdadeiro ou falso. E entenda porque, algo que é
transmitido pela televisão, pode levá-lo a crer que o mundo real contradiz o
que está sendo apresentado.
Desconheço,
no presente momento, um melhor meio – do que o ofertado pela televisão - que
contribua para criar uma cultura homogênea, ou para moldar e/ou controlar todo
um povo, em qualquer país. Se o mundo, aqui fora, contradiz aquilo que a
televisão apresenta, as pessoas tentam mudar o mundo real, para que ele se
torne parecido com o assistido através da televisão.
Quando
tentar entender/explicar o que está ocorrendo, de um modo geral, será que você
se considera telemanipulado? Pense bastante a esse respeito, antes de rir desta
croniqueta.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade
de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de
Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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