Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Entende-se por humanismo a
visão panorâmica do conhecimento humano, nas ciências, nas letras e nas artes.
O lexicógrafo (dicionarista) Antonio Houaiss (1915-1999) define “humanística”
como o conjunto de conhecimentos relativos às belas-letras. E para maior
conhecimento do leitor, um certo dr. Bessinger, C.D, cunhou a palavra
“humanitologia”, como estudo dos valores que afirmam a vida e a sobrevida da
civilização “New Engl. J. Med, 314 (4): 249-250, Jan. 23, 1986). Acima
sublinhamos “letras”, pois delas também carecemos para melhor entender e tratar
nossos doentes.
O estudo das “humanidades
médicas” ou do binômio Medicina & Literatura, em 1972, resultou, nos
Estados Unidos, de uma reforma educacional. A inovação foi consolidada com a
publicação anual da Universidade Johns Hopkins – Literature and Medicine – a
partir de 1982. No Brasil, aulas semelhantes foram iniciadas, no Sul (Santa
Catarina) e no Sudeste (São Paulo), em 2001 (Folha de S. Paulo, 24/6/2013).
O departamento de Doenças
Infecciosas Parasitárias da USP, desde 1º/2006, oferece, semestralmente, esta
disciplina de quatro créditos e carga e 60 horas. Como instrumento auxiliar do
trabalho médico, a Literatura descortina novos mundo e modos de pensamento, introspecção,
emoções e experiências. Humaniza, tonifica a alma, enriquece a atuação médica,
mormente daqueles que ostentam as duas sensibilidades: o amor e pela humanidade
(filantropia), e pelo seu ofício (filotecnia), como pregava Sir William Osler.
Seguramente a leitura de ficção literária fortalece a competência humana dos
médicos (“Ann Int, Medicine”, 122:599-606,1995). Portanto, está indicada,
sobremaneira, para aqueles que não são apenas “mecânicos do corpo”!
Entre os autores médicos mais
conhecidos surgem sempre A. Checkhov: Enfermaria Número Seis; A. J. Cronin: A
Cidadela; Axel Munthe: O Livro de San Michele; Somerset Maugham: Servidão
Humana. Como apenas escritores avulta L. Tolstoy com a Morte de Ivan Ilych.
Tenho-me reportado ao assunto,
na Faculdade de Medicina da UFC, na revista Literapia (Nº 12, junho, 2005), e
neste jornal: 10/11/2007, 11/3/2009 e 22/6/2011: I UnimedLit. Escritores foram
igualmente os drs. Clemenceau, Laenec (do estetoscópio), Claude Bernard,
Marañon. Em
Portugual Júlio Dantas: A Ceia dos Cardeais, Julio Diniz: As
Pupilas do Senhor Reitor, Fernando Namora, Miguel Torga. No Brasil sobressaem
Manoel Antonio de Almeida: Memórias de um Sargento de Milícias, Joaquim Manoel
de Macedo: A Moreninha, Almeida Prado, Arnaldo Vieira de Carvalho, Franco da
Rocha, Graça Aranha, Oscar Freire, Miguel Couto, Clementino Fraga, Afrânio
Peixoto, Guimarães Rosa, Pedro Nava.
Reconhecendo a importância
dessa antiga afinidade, a Unimed Fortaleza (leia-se Mairton Lucena) desde 2011
vem promovendo cursos de Literatura para médicos. O próximo (III UnimedLit)
será de 17-26 de setembro. Assim reconhece que, para ser mais humanitário, o
médico deve ser mais humanístico, e nortear-se pela humanitologia.
(*) Médico e secretário geral
da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 14/08/2013.
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