quarta-feira, 11 de setembro de 2013

JURAMENTO




Meraldo Zisman (*)
Na minha formatura fiquei calado, enquanto os outros colegas juravam em voz alta. Em sua maioria, cristãos: católicos quase todos e protestantes ainda minoritários, à época; havia um judeu (eu) e mais quatro ou cinco colegas judias colando grau. Não havia sido inventado o tal de culto Ecumênico, portanto houve missa católica, culto evangélico e cerimônia judaica. Só não houve cerimônias dos cultos africanos, pois não eram aceitas e eram até perseguidas. Também não havia nenhum afrodescendente, segundo a atual classificação do IBGE. Os mais escurinhos eram brancos. Não eram agora doutores? Aí saio do juramento e entro em outra praia. Vamos deixar essa questão de ter mais ou menos melanina pra lá! Juramento está mais para religião do que para discriminação.
Para mim os que juraram, pecaram — perjuros. Perjurar é jurar com falsidade (eu, também pequei, fiz de conta que jurei). Já faz tanto tempo que Deus e Belzebu até já esqueceram. Mas veja meu leitor se não tenho razão. O Olimpo Greco Romano é um lugar de muitos deuses e semideuses, tantos que misturo um com outro apesar de ter estudado humanidades.
No juramento médico são avocados vários deles: Apolo é um deus muito poderoso. Embora tenha tido inúmeros amores, foi infeliz nesse terreno, mas teve vários filhos. Atualmente é patrono de cultos pagães ou de religiões politeístas. Esculápio é o deus da Medicina e da cura. Teve duas filhas: Hígia (deusa da saúde, limpeza e higiene) e Penácea (deusa da cura), daí o nome de panaceia — remédio(s) que cura(m) todos os males.
Chega de cultura clássica. Voltemos às religiões. Cada um com a sua. Advirto que não desejo converter ninguém. Mas creio ser mais apropriado, para os dias de hoje e após tantos avanços médicos, uma mudança desse juramento, que dizem datar do século IV antes de Cristo, pois Hipócrates viveu entre os anos de 460-377 a.C.
 “Ó Deus, enchei meu espírito de amor pela arte e por todas as criaturas. Não consintas que a sede de riqueza ou o desejo de glória influam no exercício da minha profissão; fazei com que eu consiga ter sempre presentes a ciência e a experiência. Grandes e sublimes são as investigações científicas quando seu objetivo é conservar a saúde e a vida de todas as criaturas; fazei com que eu seja moderado em tudo, mas insaciável em meu amor pela ciência” (o negrito é do autor).
Assim fica mais fácil clinicar. Não acham?
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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