Por CLÁUDIA COLLUCCI, de São Paulo
“Onde falta médico, falta dentistas e enfermeiros, mostra pesquisa”
A concentração de médicos nos grandes centros acompanha a
de outros profissionais de saúde, como dentistas e enfermeiros, e a de unidades
de saúde. Onde falta um, faltam os outros.
É o que o mostra um recorte da pesquisa Demografia Médica
no Brasil, que se baseou em dados da AMS (Assistência Médico-Sanitária) do
IBGE, que conta os postos de trabalho ocupados por profissionais de saúde.
Plano de carreira médica está emperrado há três anos no
ministério. Em cidades do Nordeste, enfermeiro faz papel de médico. Escassez é
aguda no sistema público, não no Brasil.
"Além da falta desses profissionais, eles estão mal
distribuídos. [Com o Mais Médicos], o governo alude em relação ao problema e
responde com ilusão", afirma Jairnilson Silva Paim, professor titular de
políticas de saúde da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Para ele, o debate, que deveria ser em torno de
"mais saúde", passa necessariamente por mais financiamento, mas
acabou sendo reduzido a "mais médicos".
O Brasil nunca resolveu o impasse do custeio do SUS. Em
2011, o Senado aprovou a regulamentação da Emenda 29, que determina os gastos
com saúde nos três níveis de governo, mas a bancada governista evitou que o
texto final obrigasse a União a investir 10% de sua receita na área.
Na avaliação de especialistas em saúde pública, medidas
focadas só na fixação de médicos nos rincões do país tendem ao fracasso.
"É um equívoco considerar isoladamente a presença de
médicos, sem atacar as raízes das desigualdades", afirma Mario Scheffer,
professor de saúde preventiva da USP e coordenador da pesquisa Demografia
Médica no Brasil.
"O médico nunca trabalha sozinho, precisa de uma
equipe, de condições objetivas para uma carreira de trabalho, de salário digno
e de condições para exercer a profissão. É impossível achar que um médico
sozinho vai dar conta do recado", diz Paim.
Dentistas
Embora o Brasil concentre 20% dos dentistas de todo o
mundo, a distribuição interna é desigual. A presença do pessoal de enfermagem
segue a mesma tendência e está diretamente ligada à dos médicos.
Nos Estados do Sul e do Sudeste, há uma média de quatro a
cinco médicos por profissional de enfermagem. No Norte e do Nordeste, essa
relação cai pela metade.
A presença dos profissionais da saúde em determinadas
localidades acompanha também concentração regional da produção e da renda.
Segundo Scheffer, áreas que apresentam melhores condições
de atração de médicos e demais profissionais são as que possuem vantagens de
infraestrutura, estabelecimentos de saúde, maior financiamento público e
privado, melhores condições de trabalho, remuneração e qualidade de vida.
"Já na década de 1970, o professor Carlos Gentile de
Mello [1920-1982], especialista em saúde previdenciária, fez um estudo no qual
demonstrou que só existiam médicos nos municípios onde havia agência bancária.
É um problema antigo e complexo", diz José Gomes Temporão,
ex-ministro da Saúde.
Fonte:
Folha/Notícias UOL 1º/09/2013, sob o título “Onde falta médico, falta dentistas e enfermeiros, mostra pesquisa”
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