quarta-feira, 4 de setembro de 2013

BURRICE DOUTORAL




Meraldo Zisman (*)
Para que algo exista, tome corpo e venha a fazer parte da imaginação humana, deverá ser – antes - nomeado. Ter um nome designante para passar a existir.
A palavra opção, com relação à sexualidade humana, deveria ser mais bem estudada quanto à sua aplicação correta: ato, faculdade ou efeito de optar; livre escolha, preferência. Aceitar a prática canhestra de denominar de ‘opção sexual’ a natureza do gênero das pessoas é uma burrice.
Ser do sexo masculino ou feminino é fato, anatômico e fisiológico. Ter um distúrbio de gênero, não corresponder ao seu próprio corpo, pode ser tudo menos opção sexual. Aceitá-lo como uma variante sexual é correto e nada tem de patológico. Patológica é uma sociedade que não aceita essas variações naturais da afetividade humana. Por exemplo: julgar como errôneas as preferências dos meninos e meninas por brinquedos específicos do outro gênero é mais do que preconceito, é um estereótipo, é uma irresponsabilidade social, grupal e tudo mais que desejarem contra o Direito Humano. Jamais se deve considerar uma variante sexual como sendo imposta pela cultura.
De há muito, sabe-se que tanto o sexo masculino como o feminino possuem certas inclinações por esta ou aquela maneira de estar no Mundo. Ser macho ou fêmea não é atributo exclusivo da espécie humana. Acontece em todo do reino animal. Assim, chipanzés machos preferem fazer suas brincadeiras usando os galhos das árvores como armas, enquanto que as fêmeas fazem com eles ninhos e locas. Nada impede que os machos, às vezes, dêem uma mãozinha.
Não importa se na gestação o feto do sexo feminino tenha recebido mais ou menos testosterona circulante no sangue de sua mãe. O fato é que embriões que nascem de mães com mais testosterona em seu sistema circulatório podem ter ou não ter maior ou menor gosto por brincadeiras mais agressivas ou preferir as cores vermelho ou rosa. Pergunto: - Será que o gosto das meninas chinesas pela cor de rosa é igual ao das brasileiras?
Certas coincidências são difíceis de aceitar. Muito menos quanto à causa de os enxovais dos meninos serem, de preferência, azuis. Deveríamos entender que a nossa ignorância é muito grande sobre tal assunto. A biologia não poderá responder por tudo nem por todas as nuances da alma humana. Muito menos a genética ou outros conhecimentos, por mais desenvolvidos que sejam ou venham a ser.
Pratiquei a Pediatria por mais de meio século e bastava notar na minha sala de espera, cheia de brinquedos, a preferência das meninas pelas bonecas e a dos meninos por carrinhos pois, para ser politicamente correto, proibia a atendente de manter cópias de armas de fogo na minha brinquedolândia. Mas os meninos as traziam para brincar e algumas meninas, também! Que fazer?
Menino gosta de brincar com soldadinho de chumbo e menina com casinha de boneca (não façam esse teste com seus filhos ou filhas, procurem a ajuda de um profissional, como dizem os enlatados norte-americanos para os donos de cães). Era assim, mas agora as crianças dos dois sexos gostam mais de joguinhos eletrônicos! Isso mostra que a tecnologia não resolve determinados mistérios da alma. Tenham cautela, senhores pais ou avós. E para afirmar tudo isso não é necessário ser um Psicoterapeuta ou um velho Pediatra. Qualquer pessoa disso tem ciência.
Mas qual o motivo de tanto preconceito positivo ou negativo quanto às preferências sexuais? Como entendo muito de preconceito, pois há mais de cinco mil anos sou perseguido, fico temeroso quando noto esses cuidados com o homossexualismo, as homofobias e outros penachos, pois creio que todos são/devem ser iguais perante a Lei.
Tenho muito medo é dos doutores - honoris causa- sem causa. Premiar a ignorância é burrice. Na verdade, após viver tanto tempo, não mudo o resultado da minha observação: quanto mais se é ignorante menos se deseja saber. Como velho que sou, confesso que realmente não aguento mais assistir tanta burrice junta.
Ainda mais quando ela passou a ser... Doutoral.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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