Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Apesar
das discussões acadêmicas, se a crônica é, ou não, um gênero literário, nem por
isso, grandes escritores, a partir do século XIX, deixaram de cultivá-la.
No mundo
atual, a crônica aporta numerosas vantagens: é opinativa e, de certa forma,
representa uma conversa com o leitor. Por ser seletiva e curta, tornou-se uma
das modalidades narrativas para a internet
e para os periódicos impressos.
A internet, por sua vez, libertou-a do
acanhado espaço jornalístico. Voltou a ser um factível de maior liberdade.
Ademais, se permitido, de serem acrescentados novos lances, novos enredos,
diferentes finais e histórias, que crescem e adquirem novos contornos, à medida
que são lidas.
Diante do
corre-corre, da rapidez da vida moderna, adquiriu, junto com pequenas
histórias, novelas, quadrinhos, fotografias, animações, e tantos outros, um
sólido espaço, em se tratando de modos de contar e opinar sobre o momento.
Não
poucas vezes, esquecem os escritores que, as plateias (os leitores), mudaram.
Elas não são mais constituídas por ouvintes passivos. Sobram-lhes informações.
A crônica não representa mais aqueles ouvintes, de narrativas contadas à beira
do fogo, à beira da água, ao luar, nas bagaceiras dos engenhos, nas calçadas,
nos alpendres das casas, nos balcões das vendas, ou em velórios.
O
leitor-escritor transmudou-se em narrador de sua própria saga. Passou a ser um
agente ativo da epopeia de como se encontra no mundo. Narrar, é mais que contar
a própria história.
Nós,
médicos, gostamos de contar nossos ‘causos’, nossas historietas dos/com os
nossos pacientes, e com a crônica ganhamos uma ferramenta facilitadora. Talvez,
para algum ortodoxo literário, o médico não passe de um nadador de piscina, no
que se refere à Literatura.
A crônica
aparenta ser um modelo literário bem mais fácil, para aqueles que não ousam, ou
não merecem ter uma existência literária. A vida é dinâmica. Diante da
posteridade, tudo se torna bastante pequeno. Como arremate, no mais, eu
considero a crônica como a canção da Literatura.
E o resto
é, tão somente, o resto!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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