Por Ricardo
Alcântara (*)
À pequena, média e longa distância (e com todos aqueles
sinistros detalhes que autorizam o ceticismo dos que estão bem informados o
suficiente para agir com expectativas modestas), sei bem como se movem os
homens públicos do meu país.
E lhes digo: é desoladora a generalização da má conduta.
A população, embora precariamente informada pela manipulação midiática, ainda
assim acerta no sentimento que escolhe para avaliar a qualidade da sua
representação. É péssima.
Com a bestialidade do debate, que não vislumbra os
fundamentos de sua própria crise, entre os que se acusam mutuamente de
judicializar a política e politizar decisões judiciais, quem mais perde são os
que pagam a conta de todo o atraso.
De dois em dois anos, eles dão um cheque em branco para
os partidos políticos e enquanto a próxima eleição não vem, enfrentam com dor
nos rins as longas filas dos postos de saúde para depois serem assaltados no
caminho de volta para casa.
A “incidadania” desses brasileiros não é, já foi dito,
obra de amadores. Ao longo dos séculos, foi concebida para funcionar assim
mesmo e são recentes os sinais de seu esgotamento. Seu sintoma mais agudo, o
crime organizado de iniciativa popular.
O que há de novo nisso tudo é a chegada ao poder daqueles
que representaram as esperanças dos assalariados, os vizinhos dos traficantes –
esperanças estas que represaram, na expectativa de soluções, a adesão provável
a recursos de violência.
Pelo modelo adotado, a que um petista histórico denominou
com honestidade de “reformismo moderado”, foram reverenciados dogmas do capital
financeiro para obter a estabilidade necessária e avançar em programas de
melhoria de renda.
Observado o registro frio das estatísticas no mandato
Dilma Rousseff, nada indica que haja nas alavancas escolhidas apoio suficiente
para dar conta da fase seguinte no projetado salto para o futuro, onde nos
espera a parte mais onerosa do desafio.
Trata-se de qualificar a estrutura pública de atendimento
básico e promover a modernização da infraestrutura e, aí, não digo que o tal do
PAC seja um engodo, mas são precários, os resultados, diante das demandas de
sustentabilidade.
Disso resultam os evidentes sinais de monotonia no
casamento da nação com o chamado “projeto popular”. As manifestações de junho
reagiram ao tédio do tipo “papai-e-mamãe” da estagnação, onde Bolsa família, agora,
é pirão mastigado.
Veja: com a Copa, há quem preveja novas manifestações, e
em proporções maiores, e há quem se fie nos dribles do Neymar para segurar a
galera, mas ninguém aposta, de verdade, que as coisas vão mesmo melhorar. A
pergunta é: 2014 virá para ficar?
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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