terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O OVO ANTES DA GALINHA




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Eu acredito ser hilário, estéril, enganador, o burburinho produzido nas duas Casas Legislativas Federais, ao discutirem as destinações dos lucros-presumidos oriundos da extração do petróleo do “Pré-Sal”. Pelo que ouvi dizer, 80%, do montante do dinheiro auferido (em um futuro próximo), seriam destinados à Educação; e, os restantes 20%, ficariam para a Saúde.
Como um médico de província, e não sendo perito em coisa alguma, ou seja, apenas como um simples cidadão brasileiro, não saberia separar a Educação da Saúde.
A Bíblia conta que Moisés (1.250 a.C.), ficou vagueando pelo deserto por mais de quarenta anos, até alcançar a Terra Prometida. Não que o Patriarca desconhecesse o caminho correto. Tratava-se de um príncipe egípcio, (como afirmava Freud), educado na corte do Faraó, conhecia bem a região e, muito mais, a natureza humana. Ele compreendia que, com uma geração de escravos, ou filhos de cativos, nenhum povo pode encontrar a nacionalidade. Por isso, aguardou que os netos desses seguidores compusessem uma nova geração de homens e mulheres livres, para, então, empreender a conquista da Terra de Canaã.
Em meu tempo de estudante de Medicina, assisti à construção das primeiras casas de alvenaria, financiadas pela extinta Liga Social Contra o Mocambo, entidade fundada pelo Governador Agamenon Magalhães (se a memória não me trai), na década de 1950, durante a urbanização acelerada do Brasil. As casas eram de alvenaria e possuíam: uma sala, dois quartos, uma cozinha e um banheiro (com bacia sanitária, pia e chuveiro). Dessa forma, assim, pensavam os governantes da época, estaria resolvido o problema de moradia dos pobres do Recife.
Mas as coisas não eram, assim, tão fáceis!
Os novos moradores terminaram por fazer, das latrinas, jarros de plantar flores. Ficaram até bonitinhas! É verdade, eu juro que as vi! A questão era que eles desconheciam a serventia do vaso sanitário e continuaram a fazer “as suas necessidades” no mato, como era de costume.
Vocês, agora, entenderam a causa de eu indagar o que vem primeiro? Ou o que merece mais verbas? É a Saúde ou a Educação? Como um simples cidadão, eu digo: são os dois! Uma coisa depende da outra, e duvido que uma possa ocorrer sem a presença da outra.
Preambulando o que sabiamente, o jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980) afirmou: "Não é necessário ser nenhum gênio, para se aperceber do óbvio”.
Basta ter vivido o bastante e visto o suficiente. O resto é blá-blá, ou burburinho, ou ruídos espúrios, ou flatulentos (de onde quer que venham), seja das ruas, das instituições e, muito mais ou menos, dos partidos políticos. Ou da esquerda, ou da direita.
Pouco importa. O resto é resto!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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