Por Ricardo
Alcântara (*)
Às vezes, falta faz um debochado que venha a público dar às
coisas os termos que elas merecem. Paradoxalmente, são eles, os de menor senso,
que dizem a verdade necessária em tempos que desconhecem a medida de sua
própria hipocrisia.
Sobre o Brasil, Tim Maia dizia que “tudo é possível em um
país onde as prostitutas se apaixonam e os traficantes se viciam”. Agora,
sabe-se que este é também o país onde os corruptos se dirigem às celas com a
altivez dos perseguidos de opinião.
É ridículo, o esforço de alguns petistas para dar aspecto de
missão histórica à crise moral de lideranças que por trinta anos foram a
palmatória da nação e, flagrados agora em práticas afins, tentam poupar suas
reputações do crivo da realidade.
Ainda que discorde de alguns termos com que foi posta a ação
penal do chamado – a meu ver impropriamente – “mensalão”, ali houve um crime
que afeta o interesse mais profundo de uma nação que deseja viver sob um padrão
ético mais avançado.
Se José Dirceu não cometeu o crime do qual é acusado,
cometeu outros, apesar da precariedade das provas idas a juízo, como antes
mesmo do “mensalão” já viera à tona no caso de assessor seu, um pilantra
juramentado chamado Waldomiro Diniz.
Se o ex-ministro é preso político, minha mãe é uma ema. Não
recordo um mártir da resistência democrática que tenha recebido dos porões o
“benefício” da tortura em regime semi-aberto com direito a carteira assinada em
hotel quatro estrelas.
Se o agá do ‘Zé” atenua a vergonha de parcela menos
esclarecida de sua militância, já em grande parte pendurada nos cabides do
serviço público, não sensibiliza – ao contrário, desaponta ainda mais – os
eleitores comuns de seu próprio partido.
Pesquisa Datafolha divulgada recentemente aponta que nove em
cada dez eleitores habituais do próprio PT concordam que há justiça na escolha
do novo endereço destinado pelo tribunal aos líderes da sigla preferencial de
seus votos.
O entendimento, comum mesmo entre cidadãos identificados com
os resultados apresentados por eles no exercício do poder, discrepa do nevoeiro
de calculada indignação com que seus áulicos tentam, em vão, turvar a clareza
dos fatos.
Mas não creia que isso agora será motivo de reflexão:
continuarão culpando o sofá pelo que acontece na sala, justificando a tudo como
“campanha difamatória da imprensa burguesa” – pequena parte da verdade – a
serviço de interesses espúrios.
(*) Jornalista e
escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre
é cão
sem dono. Se gostou, passe adiante.
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