Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
04.08.13
O Brasil está se transformando em um país de classe
média; ele não está sozinho nessa transformação. É fenômeno mundial, não
resultado de algum governo. Dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE),
dizem que, de 2001 a 2011 cerca de
35 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para serem incluídos nas fileiras
da nova classe média, segmento que hoje incluiria 53% da população.
Homi Kharas, perito em economia global, principalmente a
da Ásia, sintetizou: “entre os problemas surgidos com a afluência de uma nova
classe média, deve-se (ou não) pensar ser tal população capaz de tomar
o lugar dos EUA como motor da economia global”.
Definir a nova classe média pela renda diária é
impossível, pois a variação é tamanha (renda per capita diária variando de 10 a 100 dólares norte-americanos).
Na América Latina e no Caribe, mesmo que as condições externas para a região
permaneçam favoráveis, será muito difícil retornar taxas de crescimento como as
que ocorreram na década anterior.
Confira no site: (http://www.brookings.edu/research/reports/2013/06/latin-america-macroeconomic-outlook-talvi-munyo).
Como não sou economista e sim um médico preocupado com a
população de crianças e jovens brasileiros, vejo que surge uma verdade além do
capital econômico — é necessária a formação de capital cultural e social.
Então, é uma mentira – de fio a pavio - dizer que essas pessoas (beneficiadas
por programas sociais ou incluídas no consumo) são de –“classe média”. Elas
são, isso sim, meros compradores de geladeiras, liquidificadores e automóveis
em módicas prestações mensais, a perder de vista.
São aleivosias tanto do Banco Mundial como do FMI (Fundo
Monetário Internacional), que tentam vender um avanço da economia mundial. Isso
tem a ver mais com oportunismos políticos.
Se não, veja leitor:
No Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD), estamos ao lado de China, Índia, África do Sul, Turquia, Bangladesh,
Chile, Gana, Ilhas Maurício, Ruanda. Segundo este órgão: entre 1990 e 2010, a classe média que
vive nos chamados países do Sul (a forma como o PNUD se refere às nações
emergentes) passou de 26% a 58% da população mundial. Até 2030, 80% desse
segmento social deverão viver nesses países e responder por 70% do consumo do
mundo.
Será?
Na verdade, nesses países, existe uma classe média (?) em
expansão, em um contexto em que é cada vez mais fácil se organizar por internet
e a repressão política é menos aceitável e somente isto...
Para o horizonte da juventude, isso será cansativo, se
não inútil, e não importa quais sejam as ideologias ou os partidos políticos.
Eu sei disso porque lido com jovens há mais de meio século. No mundo atual, a
luta por uma vida melhor não deverá ser confundida com violência pura e
simples. Chamar os jovens de baderneiros é muito grave. É acabar com o futuro
deles.
Na China são 400 milhões de pessoas, na Índia outros
tantos milhões, os que melhoraram de status social. No Brasil cerca de 40
milhões (população maior do que a de muitos países do continente
Latino-Americano) de jovens sabem, sentem e sofrem que não é fácil ter um lugar
ao sol ou no mínimo da mesma altura/espaço dos seus pais.
Certamente os jovens se sentem inseguros e sabem que eles
são que morrerão na nova Guerra Contemporânea, por falta de emprego, trabalho e
oportunidades. Nenhum jovem acredita que vai morrer e nem precisa de razões
para viver, necessita exclusivamente de pretextos. E agora os pretextos são
verdadeiros.
O disfarce (máscara) que os jovens estão usando nas
passeatas seria uma homenagem ao soldado revolucionário inglês, Guy Fawkes
(1570-1606), também conhecido como Guido Fawkes, cuja história é a seguinte:
Guy Fawkes foi um soldado inglês católico que teve
participação na "Conspiração da Pólvira", que pretendia assassinar o
rei protestante Jaime I da Inglaterra e todos os membros do parlamento, durante
uma sessão em 1605, objetivando o início de um levante católico. Guy Fawkes era
o responsável por guardar os barris de pólvora que seriam utilizados para
explodir o parlamento durante a sessão. Porém a conspiração foi descoberta e,
após o seu interrogatório e tortura, Guy Fawkes foi condenado à execução na
forca por traição e tentativa de assassinato.
Em um último ato de desafio antes de ser conduzido ao
local de execução, Fawkes conseguiu se desvencilhar dos guardas e pular de uma
escada, quebrando o pescoço e evitando assim a tortura da forca. Sua captura é
celebrada no Reino Unido, até os dias atuais, no dia 5 de novembro, na chamada
"Noite das Fogueiras" (Bonfire
Night). Dizem as más línguas que o nosso herói foi o único homem a entrar
no Parlamento sabendo o que iria fazer - tinha uma missão.
Tirem as máscaras. Assumam o que são e o que desejam.
Neste imbróglio todo não é necessário
nenhum disfarce. Mostrem suas caras. Acredito que muita gente vai querer
manobrá-los como marionetes políticos.
Cuidado. Não se
deixem enganar.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Nenhum comentário:
Postar um comentário