quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

A MENTIRA PRECISA SER DESMASCARADA




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
04.08.13
O Brasil está se transformando em um país de classe média; ele não está sozinho nessa transformação. É fenômeno mundial, não resultado de algum governo. Dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), dizem que, de 2001 a 2011 cerca de 35 milhões de brasileiros deixaram a pobreza para serem incluídos nas fileiras da nova classe média, segmento que hoje incluiria 53% da população.
Homi Kharas, perito em economia global, principalmente a da Ásia, sintetizou: “entre os problemas surgidos com a afluência de uma nova classe média, deve-se (ou não) pensar ser tal população capaz de tomar o lugar dos EUA como motor da economia global”.
Definir a nova classe média pela renda diária é impossível, pois a variação é tamanha (renda per capita diária variando de 10 a 100 dólares norte-americanos). Na América Latina e no Caribe, mesmo que as condições externas para a região permaneçam favoráveis, será muito difícil retornar taxas de crescimento como as que ocorreram na década anterior.
Como não sou economista e sim um médico preocupado com a população de crianças e jovens brasileiros, vejo que surge uma verdade além do capital econômico — é necessária a formação de capital cultural e social. Então, é uma mentira – de fio a pavio - dizer que essas pessoas (beneficiadas por programas sociais ou incluídas no consumo) são de –“classe média”. Elas são, isso sim, meros compradores de geladeiras, liquidificadores e automóveis em módicas prestações mensais, a perder de vista.
São aleivosias tanto do Banco Mundial como do FMI (Fundo Monetário Internacional), que tentam vender um avanço da economia mundial. Isso tem a ver mais com oportunismos políticos.
Se não, veja leitor:
No Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), estamos ao lado de China, Índia, África do Sul, Turquia, Bangladesh, Chile, Gana, Ilhas Maurício, Ruanda. Segundo este órgão: entre 1990 e 2010, a classe média que vive nos chamados países do Sul (a forma como o PNUD se refere às nações emergentes) passou de 26% a 58% da população mundial. Até 2030, 80% desse segmento social deverão viver nesses países e responder por 70% do consumo do mundo.
Será?
Na verdade, nesses países, existe uma classe média (?) em expansão, em um contexto em que é cada vez mais fácil se organizar por internet e a repressão política é menos aceitável e somente isto...
Para o horizonte da juventude, isso será cansativo, se não inútil, e não importa quais sejam as ideologias ou os partidos políticos. Eu sei disso porque lido com jovens há mais de meio século. No mundo atual, a luta por uma vida melhor não deverá ser confundida com violência pura e simples. Chamar os jovens de baderneiros é muito grave. É acabar com o futuro deles.
Na China são 400 milhões de pessoas, na Índia outros tantos milhões, os que melhoraram de status social. No Brasil cerca de 40 milhões (população maior do que a de muitos países do continente Latino-Americano) de jovens sabem, sentem e sofrem que não é fácil ter um lugar ao sol ou no mínimo da mesma altura/espaço dos seus pais.
Certamente os jovens se sentem inseguros e sabem que eles são que morrerão na nova Guerra Contemporânea, por falta de emprego, trabalho e oportunidades. Nenhum jovem acredita que vai morrer e nem precisa de razões para viver, necessita exclusivamente de pretextos. E agora os pretextos são verdadeiros.
O disfarce (máscara) que os jovens estão usando nas passeatas seria uma homenagem ao soldado revolucionário inglês, Guy Fawkes (1570-1606), também conhecido como Guido Fawkes, cuja história é a seguinte:
Guy Fawkes foi um soldado inglês católico que teve participação na "Conspiração da Pólvira", que pretendia assassinar o rei protestante Jaime I da Inglaterra e todos os membros do parlamento, durante uma sessão em 1605, objetivando o início de um levante católico. Guy Fawkes era o responsável por guardar os barris de pólvora que seriam utilizados para explodir o parlamento durante a sessão. Porém a conspiração foi descoberta e, após o seu interrogatório e tortura, Guy Fawkes foi condenado à execução na forca por traição e tentativa de assassinato.
Em um último ato de desafio antes de ser conduzido ao local de execução, Fawkes conseguiu se desvencilhar dos guardas e pular de uma escada, quebrando o pescoço e evitando assim a tortura da forca. Sua captura é celebrada no Reino Unido, até os dias atuais, no dia 5 de novembro, na chamada "Noite das Fogueiras" (Bonfire Night). Dizem as más línguas que o nosso herói foi o único homem a entrar no Parlamento sabendo o que iria fazer - tinha uma missão.
Tirem as máscaras. Assumam o que são e o que desejam. Neste imbróglio todo não é necessário nenhum disfarce. Mostrem suas caras. Acredito que muita gente vai querer manobrá-los como marionetes políticos.
Cuidado. Não se deixem enganar.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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