sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O BRASIL ANEDÓTICO LXII



A ESPADA E A BAINHA
Ernesto Matoso - "Coisas do meu tempo", pág. 237.
Chefe, embora, do Partido Conservador na província do Rio de Janeiro, o conselheiro Paulino José Soares de Sousa deixava nas mãos de Andrade Figueira todo o seu prestígio eleitoral. Certo dia, na Câmara, respondendo um aparte daquele político, fulminou-o Lafayette, então ministro, com esta observação:
- Eu sei que V. Excia. se diz chefe do Partido Conservador. Mas, de chefe, V. Excia. só tem a bainha.
E entre o riso da Câmara:
- Porque a espada, essa, está nas mãos do seu colega, o deputado Andrade Figueira!...
VISÃO DE COMBATE
Tobias Barreto - "Pesquisas e depoimentos", pág. 365.
Vendo-se, de súbito, traído pelos próprios camaradas de farda, com Floriano à frente, Deodoro passara a este o governo e subira, com os seus sofrimentos agravados, para Petrópolis. De regresso, o peito opresso, as pernas horrivelmente inchadas, recomendara-lhe o médico que subisse a pé, lentamente, e descesse, todas as manhãs, a ladeira da rua Taylor. Lucena era o seu companheiro de todo o dia, leal e devotado.
Certa manhã de abril, em 1892, desciam os dois a ladeira, Deodoro ao braço do amigo, quando, ao descortinar-se o panorama da baía, o generalíssimo estacou, os olhos fuzilantes. A barba tremia-lhe. E foi numa espécie de delírio, que exclamou, como na agitação de um combate:
- Onde está essa infantaria que não avança? E esses navios de fogos apagados?
Levado para casa, Deodoro nunca mais saiu.
MANUEL BEKMAN
Barbosa de Godói - "História do Maranhão", tomo II, pág. 318.
Português embora, Manuel Bekman se havia identificado de tal maneira com os brasileiros, que amava o Brasil muito mais que a sua pátria de nascimento. Daí a sua atitude desassombrada, chefiando o movimento popular contra o capitão-mor, interino, Baltasar Fernandes e, principalmente, contra o estanco, que estava arruinando a capitania do Maranhão. Vitoriosa a revolução, começava dentro de pouco tempo o desânimo entre os outros colaboradores, até que se restabeleceu o prestígio da metrópole, com a chegada de Gomes Freire a S. Luiz.
Condenado à morte e posta a prêmio a sua cabeça, foi Bekman entregue a uma escolta de Gomes Freire por um seu afilhado filho de criação, de nome Lázaro de Meio, quem haviam prometido uma patente de capitão. Sereno e digno, subiu o chefe da revolta maranhense ao patíbulo, exclamando, do alto dele:
- Pelo povo do Maranhão, morro contente!
A COMENDA DE DISRAELI
Ernesto Matoso - "Coisas do meu tempo", pág. 79.
Atendendo aos serviços prestados por Disraeli, primeiro ministro inglês, em favor das boas relações entre o seu país e o nosso, resolveu Pedro II enviar-lhe a comenda de dignitário da Ordem da Rosa. Semanas depois recebia, porém, o ministro de Estrangeiros, Manuel Francisco Correia, uma carta do estadista inglês, declarando não aceitar o distintivo, pois, possuindo outros de categoria mais elevada, não podia usar esse, na sua posição de chefe do governo da Inglaterra. Manuel Francisco Correia estava certo de que, ciente do caso, o Imperador mandaria dar a Disraeli a grã-cruz da Ordem.
- Não aceitou esta - fez Pedro II, tomando a comenda. - Muito bem.
E guardando-a:
- Pois outra não lhe dou!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).

Defesa de Tese em Saúde Coletiva (UECE) de Regina Cláudia Furtado Maia





Flagrante da banca examinadora, logo após a defesa de tese da Profa. Regina Cláudia Furtado Maia. A recém-doutora está ao centro, ladeada pelas professoras Patrícia Coelho de Soárez, Paula Frassinetti Castelo Branco Camurça Fernandes e Maria Helena Lima Sousa, à direita, e por Marcelo Gurgel Carlos da Silva e Ivelise Regina Canuto Brasil, à esquerda.
(Foto cedida por Ana Paula).



Aconteceu na manhã de ontem (27/02/14), no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UECE, a defesa de tese do programa de Doutorado em Saúde Coletiva em Associação Ampla da Universidade Estadual do Ceará, da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza. 
A banca examinadora, composta pelos Profs. Drs. Patrícia Coelho de Soárez (USP), Maria Helena Lima Sousa (SESA), Paula Frassinetti Castelo Branco Camurça Fernandes (HUWC), Ivelise Regina Canuto Brasil (UECE) e Marcelo Gurgel Carlos da Silva (UECE), aprovou a Tese “Análise de custo-utilidade das terapias renais substitutivas em pacientes com insuficiência renal crônica”, apresentada pela nossa orientanda REGINA CLÁUDIA FURTADO MAIA.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor do Doutorado em Saúde Coletiva

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A VERDADE E A PAZ - Uma Croniqueta Quase Rabínica




Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Costuma-se comparar a verdade a um poliedro. Não se pode ver, simultaneamente, todas as suas faces. Da mesma maneira, é impossível perceber todos os componentes da verdade. De acordo com a posição tomada pelo observador, ela apresenta um aspecto diverso, para quem o examina. É uma questão de ângulo. Contudo, se juntarmos todas as percepções, poderemos alcançar o pleno significado daquilo que está à nossa frente. Eis a razão da necessidade de termos inúmeros observadores, comentários, opiniões sobre qualquer assunto e, mesmo assim, ainda é impossível, para os mortais, tudo abranger.
Diz a lenda que, a verdade, era um sólido com muitas faces planas e belas, feitas do mais puro cristal lapidado. Lapidado em mil facetas. E, cada uma delas, refletia uma luz diferente e esplendorosa. Uma vez por ano, um dos sábios, retirava aquele cristal de seu invólucro protetor e protegido, para que não sofresse qualquer arranhão. O reluzente cristal era mostrado, então, em sua perfeição, aos setenta sábios do Universo.
Certo dia, porém, as mãos do ancião-mor tremeram e, o Cristal da Verdade, caiu no chão, espatifando-se em mil pedaços. E, até hoje, todos os sábios ali presentes, tentam apanhar os cacos do quartzo, mas, não conseguem achá-los; e, muito menos, juntar suas partes. Por mais que tentem, não conseguem resolver o intrincado quebra-cabeça. Chamaram, inclusive, as crianças, porém elas não possuíam uma coordenação motora adequada, para realizar essa tarefa. Sendo assim, com a pequena parte que cada ancião ficou, afirmaram ser os únicos donos da verdade.
Portanto, nem aos sábios, após aquela ruptura, é ofertado o poder de enxergar a verdade por inteira. Somente as crianças (e, isto, quando muito pequenas), e os loucos, é que podem vê-la. No entanto, ambos representam um perigo para o poder constituído. Caso sejam realmente loucos, não podemos neles acreditar. E, no caso de serem crianças, elas são seres inocentes, pouco vividos, e que, também, não podem votar. E, não podendo votar, não têm poder algum.
A verdade pode ser idealizada, também, como um simples seixo. Se, visto muito de perto, enxergamos, apenas, certos detalhes de alguma de suas facetas. E, quando dele nos afastamos, vemos, somente, certas faces do seu todo. Por conseguinte, sempre haverá uma face que, para nós, ficará oculta.
Entra ano, sai ano, e os setentas sábios continuam se digladiando entre si, cada um com o seu fragmento da verdade, dizendo que aquele é o único válido. Após a quebra da verdade, e exaustos de tanto tentar juntar as partes da pedra de cristal, cada um voltou para a província que governavam, pela sabedoria, ou por direitos divinos. Traziam o seu pedacinho de verdade e, com ele, formaram exércitos para combater os vizinhos, cujas veracidades eram distintas da sua.
Travaram batalhas enormes! Chegou a peste, a violência, a incúria, os poderosos, a injustiça, a miséria, a escravidão, a luxúria. E a fome se espalhou pelo planeta Terra! Todas as nações, povos, tribos e, até, famílias, lutaram pelo seu naco de verdade, crentes de que possuíam as verdades verdadeiras! Subversivo era considerado aquele que, por tal cartilha, não fosse um leitor crédulo e obediente.
O tempo foi passando, as guerras ficaram cada vez mais mortíferas e, quando estavam prestes a se exaurirem, depois de causar tamanha carnificina e danos ambientais, em decorrência da imundícia dos combates sem fim, os anciões decidiram dar um basta final. Seria devido ao próprio instinto de conservação? Não se pode afirmar com precisão! Fato é que resolveram, por fim, viver em tranquilidade.
Passado o tormento, chegou à Terra um disco voador, vindo de uma galáxia distante. Aterrissado numa planície, ainda chamuscada pelo fogo dos combates, abriram a porta da espaçonave, desceram, e nada encontraram. À primeira vista, perceberam, tão-somente, a desolação e alguns arvoredos, renascendo.
- Que estranho esse planeta Terra, exclamou o astronauta Alfa, enquanto ajeitava o capacete.
- É mesmo! Mas, olhe ali uma casa que não desabou, disse o outro, que atendia pelo nome de Beta.
- Vamos lá, Alfa, falaram ambos, quase ao mesmo tempo.
E, foram andando, em direção àquela casa. Ao passar por um prado, eles viram algumas cabras, cuidadas por um pastor e, ao lado delas, uma onça-pintada, brincando com um cachorro. Admirados, certamente pensaram: Quem já se viu onça-pintada ser amiga de cachorro? Vou mandar um relatório para o Chefe!
Chegaram, afinal, à porta do casebre. Apesar de cansados, pois a força da gravidade exigia muito esforço deles, empunharam as armas de laser - seu lazer e instrumento de trabalho – e, com um chute, derrubaram a porta. Mas, qual não foi a surpresa ao virem homens e mulheres, das mais diversas cores e etnias, fazendo uma refeição, em perfeita harmonia! Eles pediram que os dois astronautas entrassem e, os mesmos, ficaram pasmos: pensaram que iam assustar os habitantes daquele planeta, com suas armas e violências... E, não sabiam como agir.
Os astronautas indagaram, em seguida:
- Aonde estão vossos soldados, vossos generais, e os donos do poder?
- Há muito tempo, deles não necessitamos, respondeu um dos presentes.
- E, vocês, não possuem heróis, nem exércitos, nem paradas militares, perguntou Alfa que me pareceu mais esperto?
- Para quê tudo isso, se temos nosso pão, nossos filhos, nossas azeitonas e, depois de comermos e bebermos, vamos todos rezar? Para quê precisamos de valentões?
- Que planeta mais estranho, será que erramos de endereço? Exclamaram Alfa e Beta, admirados! Que lugar é esse, não é o planeta Terra?
Nisso, um ancião parou de comer e, inquirindo suavemente os dois estranhos, perguntou:
- O que disseram vocês, caminhantes do espaço?
- Dissemos planeta Terra, retrucou Alfa, bastante mal humorado. Foi, então, que o ancião respondeu:
- Ah, nós mudamos o nome daqui para Planeta da Paz. O planeta Terra se foi há muito tempo, quando éramos uns tolos e guerreávamos por qualquer bobagem!
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MÉDICOS CONTAM CAUSOS DA CASERNA



Em 7/7/13, quando eu estava editando a antologia de 2013 da Sobrames-CE, recebi um e-mail do colega sobramista José Luciano Sidney Marques, com um arquivo anexo que completava a sua participação na obra.
Surpreendi-me com o conteúdo do arquivo, pois continha a descrição de onze causos ocorridos em ambiente militar, produzidos pelo autor Luciano Sidney Marques, meu colega da turma de 1977, da Faculdade de Medicina da UFC, que fez carreira no exército brasileiro, sendo hoje aposentado no posto de coronel, depois de uma larga folha de serviços prestados em seu labor.
O material enviado agradou-me pelo teor dos escritos e por saber que teria mais um companheiro de letras a incluir causos na antologia, algo que eu já vinha fazendo desde a antologia de 2009.
Ao comentar os seus causos, em conversa telefônica, ouvi uma provocação do Cel. Marques para que eu organizasse um livro de causos, nos moldes das antologias da Sobrames-CE. Como eu já havia publicado dois livros de causos médicos, retruquei que seria interessante fazer uma obra diferente, recorrendo a uma temática própria, focalizada em “Causos da Caserna”, mas, para isso, eu precisaria contar com o apoio dele, pois eu nunca tivera inserção profissional ou social na vida castrense.
De pronto, eu intuí que essa não seria uma tarefa tão ingrata, porquanto o meio militar é um depositório de muitos causos, como bem demonstra a seção de “Piadas de Caserna”, da revista Seleções Reader’s Digest, com suas estórias reais, demarcadas pelo burlesco e pelo pitoresco, e que havia, também, um bom número de médicos cearenses, versados na arte de contar e de escrever estórias, conforme pode ser observado no rol de publicações contendo causos médicos exibido no apêndice.
Em seguida, na reunião da Sobrames-CE, de 9/9/13, a proposta da obra foi apresentada e feita a conclamação aos sobramistas que desejassem se engajar, resultando em bom acolhimento. Além disso, buscou-se identificar médicos que atuaram nas forças armadas nacionais, ou na Polícia Militar do Ceará, tanto em quartéis como em hospitais militares, que pudessem contribuir com narrativas vivenciadas por eles mesmos, ou de domínio público, desde que não fossem meras piadas.
Os mais de setenta causos do livro “Meia-volta, volver! Médicos contam causos da caserna”, redigidos por dezessete médicos, são estórias verdadeiras, mas os personagens, quando aqui têm seus nomes mencionados, civil ou de guerra, estão com denominações fictícias, para evitar qualquer forma de ofensa pessoal; isso, no entanto, comportou honrosas exceções, quando o teor do escrito visava render homenagem ao perfilado.
No apêndice, foram ainda listados causos de natureza militar, encontrados no livro “O Brasil Anedótico”, o diligente trabalho de Humberto de Campos, publicado em 1927, que preservou centenas de causos, cobrindo o período que vai do Segundo Império aos primeiros anos da Velha República.
Para terminar, rememore-se que, de praxe, causos levam as pessoas a rir, e o riso é um bom rejuvenescedor.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Da Sobrames-CE e da Academia Cearense de Medicina
* Publicado In: Ceará em Brasília, 25 (259): 8, janeiro de 2014. (Jornal da Casa do Ceará em Brasília).

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

E AÍ, EUNÍCIO: vai encarar?



Por Ricardo Alcântara (*)
Quando Eunício Oliveira recusou o ministério oferecido pela presidente Dilma, o ministro obteve ali a oportunidade de que tanto precisava para estabelecer no mercado eleitoral a premissa de que será candidato. O gesto mexeu com o cenário.
Lá se vai gorda fatia do tempo de propaganda eleitoral e fica o Partido dos Ferreira Gomes (PFG) ainda mais precisado de aliança com o PT para manter favoritismo na disputa. A boa notícia é que deseja o mesmo a maioria dos petistas que decidem.
O Pros, motel da hora para o pernoite governista, tem pouco tempo de televisão para a campanha. O PT tem mais. E tem o casamento estável da máquina pública com o movimento social. E tem Dilma. E tem Lula. E tem o Brasil do pleno emprego.
A conjuntura dá pertinência ao balão de ensaio que coloca a possibilidade de ser um filiado do PT indicado candidato com apoio do próprio governador. Tratar-se-ia de Camilo Santana, cuja militância no PT é, digamos assim, quase metafórica.
Sua candidatura sanaria os problemas ‘tempo de televisão’ e ‘apoio federal’, ambos decisivos para que um governo de popularidade mediana eleja um sucessor de sua confiança. O PT ocuparia posição privilegiada na chapa e o Pros faria o senador.
Assim, ficariam livres de outro problema: o constrangimento de ter José Guimarães candidato ao senado, pois não há só cuecas guardadas naquele armário. Há rumor de alopração no Banco do Nordeste e um irmão preso por ordem da corte suprema.
A candidatura de Camilo, afinal um petista, fragiliza a premissa de neutralidade do governo federal onde houver mais de um candidato da base aliada – tese fácil, mas execução difícil quando há candidato petista autorizado pelo comando nacional.
Mesmo rifado na vaga ao senado, Guimarães ocuparia ainda a alcova do Abolição – ele aceita, nem precisa pedir duas vezes. Mas até onde Camilo é possibilidade real ou manobra para intimidar Eunício Oliveira? Sabem lá eles e poucos mais.
(*) Jornalista e escritor. Publicado In: Pauta Livre.
Pauta Livre é cão sem dono. Se gostou, passe adiante.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

PARA QUE SERVE A UECE?



Por Plínio Bortolotti (*)
O governador Cid Gomes (Pros) dá declarações frequentes queixando-se do recurso despendido com as universidades estaduais. Insiste que o dever dele é com o ensino médio, conforme a divisão constitucional de responsabilidades na educação. Ocorre que o artigo 205 da Constituição dita que cada uma das esferas de poder deve atuar “prioritariamente” assim: educação infantil e ensino fundamental (municípios), ensino médio (estados e Distrito Federal) e ensino superior (União). Porém, por óbvio, “prioridade”, não significa excludência.
MEDICINA
Na sua peleja para desobrigar-se do ensino superior, a última do governador foi ameaçar transferir o curso de Medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) para a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), em Redenção (O POVO, 18/2: http://goo.gl/qY8d4e). Se, por exemplo, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), insinuasse transferir o curso de Medicina da USP para uma universidade federal, o céu desabaria sobre ele. A sociedade paulista (incluindo a situação e a oposição) por-lhe-ia a cobro. Aqui, nesta terra de sol, o negócio passou batido.
SEMINÁRIO
Cid ameaçou com retirada do curso de Medicina da Uece durante o seminário, reunindo cerca de 400 professores, estudantes e servidores, para debater o rescaldo da greve de três meses, finda no início deste ano. A propósito, ressalve-se, com louvor, o fato
de ter sido o próprio governador a propor o encontro, participando nos dois dias do evento, realizado esta semana no Centro de Eventos. (Nas outras universidades estaduais, Urca e UVA, também foram realizados seminários com a presença do governador.)
PROPOSTAS
Positivo também, o fato de Cid Gomes ter reafirmado o compromisso com as propostas que conduziram ao fim da greve: 1. correção dos salários e concurso público para servidores técnico-administrativos; 2. verba de R$ 10 milhões para aplicação em políticas de assistência ao estudante (a Uece vai investir a maior parte, R$ 6,5 milhões, em bolsas de estudo); 3. reforma e ampliação do campus de Itapipoca; 4. regulamentação do plano de cargos, carreiras e vencimentos (PCCV) dos professores e 5. concurso para professores.
O reajuste dos servidores técnico-administrativos será de 102%, escalonado. O concurso, em três etapas, contratará 134 novos servidores (número de baixas por aposentadoria e morte nos últimos sete anos). Tanto a primeira parcela do reajuste quanto a primeira etapa do concurso, serão realizados no atual governo. Para as demais fases, segundo o reitor Jackson Sampaio, será estabelecido um “marco legal” para garantir o cumprimento pela próxima gestão. (Atualmente a Uece tem 367 servidores; 20 anos atrás eram 970.)
Porém, o nó que opõe a comunidade universitária ao governador, é o concurso para novos professores. O reitor Jackson Sampaio afirma ser necessária a contratação emergencial de 163 professores (somente para repor as baixas dos últimos sete anos). Por seu turno, Cid discorda do número de professores necessários; deixando entender que autorizaria 50 contratações. Para Cid, há ociosidade, pois, na visão dele, os professores deveriam ficar mais em sala de aula, dedicando apenas 1/3 da carga horária para atividades extraclasse.
PESQUISA E EXTENSÃO
Pelo jeito, o governador Cid Gomes vê o ensino superior, como se fosse uma espécie de “colegialzão”, sem vislumbrar o importante papel da universidade na extensão social, pesquisa e inovação. A vida universitária não pode ser reduzida a uma sala de aula e a um giz (ou power point) manuseado pelo professor. Mesmo que o governador mantivesse essa visão estreita, ele poderia perceber que a Uece é um grande instrumento que ajuda a melhorar o ensino fundamental e médio (pelo qual ele é responsável), pois essa universidade é a maior formadora de professores do Ceará.
A comunidade universitária continua a debater o assunto. Por sua vez, o governo estadual afirma que, até a próxima semana, enviará as mensagens relativas às universidades para voto na Assembleia Legislativa.
(*) Jornalista. Ex-ombudsman de o Povo.
Fonte: O Povo, Política, de 22/2/1014.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Nota da Sociedade Médica São Lucas sobre a nossa posse no Instituto do Ceará


Dr. Augusto Guimarães, Vice-Pres. da SMSL, e Marcelo Gurgel

 No dia 23/01/2014, às 19 horas, o Vice-Presidente Dr. Augusto Guimarães, representou a Diretoria da SMSL, na solenidade de posse do sócio efetivo eleito Marcelo Gurgel Carlos da Silva, associado da SMSL no Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico).
Fonte: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas. Ano 10, Nº 79. Janeiro de 2014. p.6.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Nota da Academia Cearense de Medicina sobre a nossa posse no Instituto do Ceará


Ac. João Pompeu, Pres. da Academia Cearense de Medicina, e Marcelo Gurgel

Sob a presidência do Prof. Ednilo Soárez, o Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), no dia 23 de janeiro, empossou dois novos sócios efetivos no disputado quadro social da centenária entidade. O engenheiro José Reginaldo Lima Verde Leal e nosso árcade M a r c e l o G u r g e l Carlos da Silva. Os novos sócios efetivos do Instituto do Ceará foram saudados pelo sócio Osmar Maia Diógenes. Os nossos efusivos cumprimentos por mais essa brilhante vitória do estimado confrade Marcelo Gurgel.
Fonte: Boletim Informativo da Academia Cearense de Medicina. Nº 15 - 3a Fase Janeiro de 2014.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

DOM ALOÍSIO: um homem além do seu tempo


Aloísio, Cardeal Lorscheider

O dia 23 de dezembro é sempre lembrado pela Turma Dr. José Carlos Ribeiro, por marcar a data em que se celebra o aniversário da formatura, ocorrida há trinta anos. Agora, para os companheiros, integrantes da coorte de médicos graduados pela UFC, em dezembro de 1977, esse dia também estará associado à partida de Dom Aloísio ao encontro do Pai.
Ao retornar da missa, na catedral metropolita de Fortaleza, presidida por Dom José Antônio, em reverência ao cardeal, que falecera às 5h20 do domingo (23/12/07), o porteiro do prédio onde resido falou-me, com tristeza, do desaparecimento de Dom Aloísio; no dia seguinte, véspera de Natal, logo ao entrar na Biblioteca do Hospital do Câncer/ICC, fui cumprimentado por uma funcionária administrativa, ao mesmo tempo em que manifestou espontâneo pesar pelo fim da vida terrena do estimado cardeal.
Como as duas pessoas referidas são evangélicas, compreendi que o Pastor que se fora, um defensor ferrenho do ecumenismo, não era querido apenas em seu rebanho, contido nos limites de um redil, mas ele se fizera admirado por cristãos de diferentes denominações, por aqueles de religiões não cristãs, e até mesmo pelos que não professam qualquer religião, embora providos do sentimento de afeição por seus semelhantes; a justificativa para a amplificada e diversificada benquerença tinha o seu fulcro no exemplo dignificante das ações que pautaram toda a sua existência.
O primeiro contato que tive com D. Aloísio foi memorável, mesmo decorridos tantos anos. Aconteceu em 1973, logo depois dele ter assumido o pastoreio da Arquidiocese de Fortaleza; recordo quando um fusca branco parou no cruzamento da Rua Justiniano de Serpa com a Av. Bezerra de Menezes, porque o semáforo fechara. Eu estava na Praça dos Libertadores, no Otávio Bonfim, bem defronte à casa em que nasci. Ao olhar para o veículo, notei que era conduzido por um homenzarrão, que mal o continha, tamanha a sua envergadura. Uma figura pujante e carismática, vestindo uma batina, sobrepunha-se naquele minúsculo quatro-rodas, glória da indústria automobilística alemã dos tempos da II Guerra Mundial: era o nosso arcebispo metropolitano; fitei-o, e ele, com naturalidade, cumprimentou-me com um sorriso e um aceno de mão, gestos demonstrativos de sua afabilidade.
Acompanhei, com admiração, o trabalho pastoral de Dom Aloísio, no Ceará, em prol dos grupos sociais desfavorecidos, e, com certa perplexidade, vi crescer, em âmbito nacional, a sua postura política, quando esteve no comando da CNBB, na defesa intransigente dos direitos humanos e da liberdade do cidadão, enfrentando, com determinação, as forças repressivas que se encastelaram no poder, na vigência do regime militar brasileiro pós-1964.
O preparo intelectual do Cardeal Lorscheider não se cingia aos conhecimentos de teologia e de filosofia, recebidos durante a sua formação religiosa. Transitava com segurança e sólida fundamentação científica, por outros campos dos saberes, sendo capaz de dialogar, debater e escrever, com profundidade, temas intrigantes e assaz complexos, em patamares correspondentes aos doutores e aos ditos especialistas. Apesar de tantas qualificações e de sobejos estudos, guardava, no recôndito d’alma, uma virtude dos verdadeiros sábios: a simplicidade.
No entanto, não tive o privilégio de conviver ou trabalhar com Dom Aloísio, no tempo em que ele foi o guia espiritual do povo cearense, como arcebispo diocesano, de 1973 a 1995, porquanto, nesses vinte e dois anos, estava eu comprometido com outras obrigações acadêmicas e profissionais. Todavia, não fiquei de todo ausente, porque, além da mídia, eu recebia os bons sinais da obra evangelizadora e da ação política do Cardeal Lorscheider, por meio de minha irmã, a jornalista Márcia Gurgel, que frequentemente escrevia matérias sobre ele ou o entrevistava, ou por intermédio de minha mãe, Elda Gurgel, uma ativa participante do Ministério Extraordinário da Eucaristia.
No início de 2004, quando eu estava organizando, junto com Elsie Studart, o livro “Frei Lauro Schwarte e os anos iluminados do Otávio Bonfim”, fui agraciado pela oportunidade de conversar com Dom Aloísio e, na sequência, dele receber um texto, com um expressivo depoimento em resgate do frade que revolucionou os conceitos paroquiais da Igreja de Nossa Senhora das Dores, tornando-se, para a comunidade, um Apóstolo da Juventude do Bairro de Otávio Bonfim.
Em junho de 2004, apresentei ao Conselho Universitário da Uece a proposição do Diploma de Doutor Honoris Causa a Aloísio Cardeal Lorscheider, aprovada unanimemente pelos conselheiros, cuja outorga aconteceu em cerimônia celebrada em janeiro de 2005. Por ter sido eu o proponente da honraria, fui designado pelo Magnífico Reitor, Dr. Jader Onofre de Moraes, para fazer a saudação ao homenageado. Relembro que Dom Aloísio, ao iniciar a sua fala, antes de pronunciar a magistral conferência: “O homem, um ser religioso”, olhou para mim, de forma afetiva, como que agradecido, e dirigiu-se aos presentes dizendo que fora alvo de muitas homenagens em sua vida, mas aquela, em especial, tocava-o imensamente, no imo do coração.
Como desdobramento dessa outorga, pus em marcha um ousado projeto de organizar o livro “Dom Aloísio Lorscheider: doutor honoris causa da Uece”, que foi lançado em novembro de 2005, na presença do retratado, no Seminário da Prainha, com renda destinada às obras sociais da Igreja Católica. A obra ganhou repercussão nos meios eclesiais e na sociedade cearense, como um todo, vindo a ser distribuída, largamente, pela CNBB, em muitas dioceses brasileiras.
Ainda em 2005, sugeri à Fundação Demócrito Rocha a inclusão de Dom Aloísio entre os perfilados da coleção “Terra Bárbara”, sugestão que foi acatada e devolvida com a solicitação de que assumisse o trabalho, o que foi feito em parceria com a Profa. Elsie Studart, que assinou, bem merecidamente, como primeira autora do livro “Dom Aloísio Lorscheider”, reunindo passagens que começavam em 1924 e continuavam até 2006, para alegria dos seus amigos e admiradores, e para honra e glória da Igreja de Cristo, em cujas fileiras o pastor de almas militou, desde 1948, até o seu falecimento.
Na esteira dos acontecimentos que se seguiram à perda de Dom Lorscheider, escrevi um artigo, a pedido do jornal O Povo, cujo fecho revelou a vontade expressa de que as autoridades públicas do Ceará venham ao encontro dos anseios da população, que tanto o admirava e aprendeu a amá-lo, prestando-lhe, postumamente, as honras merecidas, com a aposição de seu nome, em monumentos e logradouros públicos, concorrendo, assim, para a preservação do legado de tão especial filho de Deus.
Ao ensejo da Missa da Ressurreição, por Dom Aloísio, sugeri ao vereador Paulo Mindêllo que apresentasse um projeto de lei municipal, denominando de Avenida Dom Aloísio Lorscheider a chamada Via Expressa; a medida poderia não só perpetuar o seu nome, como, sob as graças desse santo homem, talvez pudesse converter aquela artéria marcada pela violência em uma via de duas mãos: vida e paz.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Integrante da Sociedade Médica São Lucas
* Publicado In: Boletim Informativo da Sociedade Médica São Lucas, 10(78): 3-4, janeiro de 2014.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Convite: Lançamento de "Pacoti, História & Memória"




"Pacoti, História & Memória" é o título do livro de pesquisa histórica, com iconografia e manuscritos inéditos, que o professor e historiador Levi Jucá lançará amanhã, em Fortaleza.
O evento literário ocorrerá às 19 horas, no Instituto Dragão do Mar. Vide convite.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

História de Pacoti é resgatada em livro inédito de memórias




A obra "Pacoti, História & Memória" é fruto de pesquisa realizada pelo historiador, durante sete anos nas mais diversas instituições de pesquisa do Estado e do Brasil, dentre eles o Arquivo Público do Estado do Ceará e a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, incluindo o Arquivo Público Municipal de Pacoti, que foi criado e organizado a partir de 2009.
Sua narrativa aborda o histórico do município de maneira inovadora nos moldes da historiografia moderna, trazendo à baila assuntos pertinentes ao desenvolvimento da identidade sociocultural da região, diferindo-se da bibliografia existente sobre os municípios do Interior do Nordeste, a qual, geralmente, se utiliza do discurso positivista, de vultos ilustres e outros heróis.
De acordo com o escritor, a obra poderá ser bem aplicada na rede municipal de ensino, especialmente na formação dos jovens, para a promoção da educação patrimonial e do direito à memória.
A pesquisa é a primeira a ser publicada sobre Pacoti. Poderá servir de incentivo a novas estudos e pesquisas acerca do interior cearense, muito necessários e atualmente em ascensão. A transcrição de documentos, resgate de antigas fotografias e tabelas informativas fazem parte do layout do livro. No final de sua introdução, o autor indica que "... passado e presente, juntos, estão para ensinar. Portanto este livro não está pronto, acabado. Ele precisa de você, do seu tempo, para funcionar como ferramenta de produção de conhecimento, que transforma e revitaliza nossa História de cada dia e aquilata nossa identidade cultural". Nisto, Levi Jucá buscou trilhar em oito capítulos uma história temática na tentativa de lançar luzes em diversas áreas do universo municipal.
Trata de assuntos como educação, economia, saúde e formação sociocultural do lugar, a partir do século XIX, quando da formação do povoado da Pendência que daria origem à cidade de Pacoti. A obra aproveitando para corrigir antigos erros historiográficos das cópias que marcaram a ausência de pesquisas sérias e embasadas em fontes diversificadas.
Fonte: Diário do Nordeste, de 16 de janeiro de 2014.
Nota do Editor do Blog: o livro será relançado dia 21/02/14, sexta-feira, em Fortaleza, no Centro Dragão do Mar.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

MEDICINA PADRÃO CUBA



Em agosto do ano passado, deu-se a chegada da primeira leva de médicos cubanos, que foram calorosamente recebidos por grupos de pessoas integrantes de alguns movimentos sociais, com palavras de ordem em que proclamavam a implantação do socialismo na América Latina, o desejo de ter uma medicina com o padrão de Cuba, o repúdio ao Revalida para os cubanos, além dos “vivas a Fidel e à revolução cubana”.
Houve, inegavelmente, até a derrocada soviética, evidentes sucessos da Saúde Pública cubana, refletidos em alguns dos seus indicadores de saúde, com resultados favoráveis obtidos à custa de alta concentração de recursos para determinadas ações, que têm bom apelo midiático. Esses frutos não foram, todavia, superiores ou melhores do que os logrados por outros países, como o Chile e a Costa Rica, com êxitos reais, claramente eficientes, e sem comprometer a liberdade individual e os direitos humanos.
A medicina cubana está sucateada e é, atualmente, tecnicamente sofrível, inexistindo, nesses poucos mais de sessenta anos de instalação da revolução castrista, qualquer contribuição de relevo ao progresso médico mundial, salvo por pseudo-inovações, inteiramente empíricas, como o uso da cartilagem de tubarão ou de um extrato de um escorpião azul etc., para tratamento de diferentes enfermidades, por meio de experiências exóticas em anima nobile, dignas de concorrerem ao “Prêmio Ignóbil”, e até o vencerem, se pelo menos fossem publicadas em veículos científicos.
A carência de recursos financeiros em Cuba solapa a possibilidade de dispor de meios e materiais mínimos para se oferecer um cuidado médico adequado a cada situação de saúde. A formação em massa de médicos, em fornadas de cerca de dez mil por ano, realça a baixa qualidade técnica dos seus profissionais, fato ratificado por aprovação abaixo de 10% no Revalida, entre os egressos de escolas médicas cubanas.
Para ter inovação tecnológica, é preciso contar com investimentos de vulto em infraestrutura, de laboratórios a centros de pesquisas de ponta, e em recursos humanos, com uma massa crítica composta por pesquisadores possuidores de alta qualificação acadêmica, o que não parece ser o caso desse país insular, haja vista a forte presença de meros licenciados conduzindo, ensinando e orientando em cursos de pós-graduação de Cuba.
Por tudo isso, é bom ter mais razão, e menos paixão, em nossas bandeiras de luta.
Marcelo Gurgel Carlos da Silva
Professor titular de Saúde Pública-Uece

* Publicado In: O Povo. Fortaleza, 18 de fevereiro de 2014. Caderno A (Opinião). p.9.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

LÍNGUA MORTA



Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Costumo recorrer nos meus artigos de jornal, a citações frequentes, não apenas como adorno do texto, mas como seu apoio. A citação nada mais é, por vezes, do que um pensamento coincidente, indicativo de que outro escritor, antes de nós, pensou o que também pensamos, e lhe deu forma, com a vantagem da precedência. Estas duas frases foram escritas pelo grande romancista maranhense Josué Montello (1917-2006), no Jornal Brasil de 21/4/1981. Dele são os magistrais romances “Tambores de São Luis”, e “Degraus do Paraíso”, ambos (como quase todos seus) ambientados naquela cidade.
Outro dia, leitor indagado se teria lido meu artigo mais recente, respondeu sim, contudo deplorando o número de citações. Tal estranhamento é comum entre os “opsímatas”. Êpa! O termo deriva do grego “opse” = tardio, e “mathe” aprendizado. Embora ausente dos léxicos brasileiros mais conhecidos, já constava da 11ª edição do “Dicionário de Língua Portuguesa”, de Cândido de Figueiredo (Editoras Bertrand & Jackson, Inc, Lisboa, 1949). Denomina os que chegaram tarde à literatura, não às primeiras letras. Curiosamente Ralph Waldo Emerson, famoso poeta, ensaísta e filosofo norte-americano (1803-1882) afirmou ter ódio às citações. Não obstante declarou que por necessidade, tendência, ou prazer, todos nós citamos.
Alguns autores não citam para afetar erudição, como se o que escreveram fosse originalmente deles; outros citam em demasia, para afetá-la ainda mais. Há muito tempo lendo poemas de Augusto Frederico Schmidt (Rio de Janeiro, 1906-1965) deparei a frase “viver é mais fácil do que o sânscrito, a química, ou a economia política”. Trata-se aqui de uma tradução servil pois literal (“ipsis litteris”) de “Aldous Huxley” , em “Point Counter Point”. Eis um exemplo de apropriação indébita, pirataria literária.
O brasileiro – talvez sub-estimando o conhecimento do leitor - plagiou o inglês, este em livro bem anterior ao seu. Seria um mimetismo (imitação) inconsciente? Temos que as citações excitam a mente, criando curiosidades quanto ao autor e/ou ao tema. Assim, aumentam o patrimônio intelectual do leitor. Neste sentido Winston (Leonard Spencer) Churchill (1874-1965), também Prêmio Nobel de Literatura (1953) aconselhava às pessoas menos letradas lerem livros de citações (“My Early Life”). Contudo, estas devem ser feitas apenas quanto basta. No Brasil, celebrado críitico literário carioca, Guilherme Merquior (1941-1991) (22 títulos), já reconhecido aos 18 anos, citava exageradamente, e às vezes não conseguimos identificar o que é seu ou dos escritores referendados.
Aliás afirma-se, por ironia que roubar palavras de outrem é plágio, mas quando de inúmeros outros é pesquisa! Os latinismos, embora não nos apercebamos, são sempre eloquentes nas citações, e úteis, nos ensinando como falar corretamente. Diz-se “procrastinação” (adiamento), com “r”, porque “cras” significa “amanhã” em latim. Não é obrigado sabermos latim, mas deplorável tê-lo esquecido por completo. Por alguns reconhecidas como línguas mortas, o grego e o latim perpetuaram-se, ecoando em outros idiomas como português, espanhol, italiano, francês, romeno. Língua morta, propriamente dita, nem a do Onassis!
(*) Médico, ex presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 5/2/2014. p.4.