quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A OUTRA MENINA QUE ROUBAVA LIVROS

A história de garota de 14 anos que foi responsável pela circulação de obras clandestinas no bloco 31 de Auschwitz-Birkenau, um dos piores campos de concentração nazistas

Por Mariana Brugger (marianabrugger@istoe.com.br)

Dita Kraus: livros eram o único contato entre os confinados e o mundo.
Era uma biblioteca diminuta: apenas oito livros, amassados e sem lombada, arrumados sob as tábuas soltas no chão ou escondidos embaixo das saias de uma menina judia de 14 anos, Dita Kraus. Ela se encontrava no bloco 31 do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No pavilhão onde se concentravam as crianças prisioneiras circulavam, escondidos dos soldados da SS e sob a responsabilidade da garota tcheca, títulos como “Uma Breve História do Mundo”, de H.G. Wells e “As Aventuras do Bravo Soldado Svejk”, de Jaroslav Hasek. Fascinado por essa história de resistência e coragem durante a guerra, o jornalista espanhol Antonio G. Iturbe escreveu “A Bibliotecária de Auschwitz”, que chega agora ao País pela Editora Agir, uma ficção inspirada em fatos reais, já publicada em 11 países.

CONTATO O autor Iturbe encontrou Dita Kraus, hoje com 84 anos, em Praga, de onde ela foi expulsa (Foto: B. Fishman/Corbis)
 
Fim da Infância: Crianças em Auschwitz.
Os nazistas impediam as crianças e os adolescentes de brincar ou frequentar os parques públicos. Dessa forma, converteram o cemitério em um lugar para jogos e espaço de liberdade”, conta.  Dita parou no bloco 31 do campo de Auschwitz por equívoco, pois os internos desse local deveriam ter no máximo 13 anos. Ela, já com 14, passou a cuidar de todos. Ao chegar, o líder do grupo, Alfred (Fredy) Hirsch (1916-1944), ofereceu a ela o cargo de bibliotecária. Cabia à garota controlar o empréstimo de livros aos professores do pavilhão, além de reunir e esconder todas as obras nas inspeções diárias para que não chegassem às mãos dos oficiais nazistas. “Fredy Hirsch é um personagem que ainda não ganhou a importância histórica devida”, afirma Iturbe. Hirsch suicidou-se em Auschwitz em condições suspeitas. Mesmo quase 70 anos depois da guerra, histórias como as de Dita são lições de resistência. “A vida dela é como uma janela de esperança porque, nessas situações-limite, vemos como surge o pior e o melhor da condição humana”, diz o autor.
Fonte: Isto É, Nº 23343, de 20/8/2014. p.102-3.
 
 

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