terça-feira, 26 de agosto de 2014

FALANDO DAS MULHERES


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

É sempre temerário homens falarem/escreverem sobre mulheres. Vou correr esse risco, sabendo que a mulher é antes de tudo mãe (mesmo que não sendo) e conta com esse dom da Natureza no seu dia a dia.

Desde os primeiros tempos da existência, meninos e meninas são criados de forma diferenciada pela mãe e isso está na origem da distinção e dos papéis que cada um vai assumir como adulto.

No caso da mulher, são papéis que se dividem em três exaustivas missões: ser ao mesmo tempo dona de casa, profissional e companheira (partner). A mulher não tem uma jornada dupla de trabalho, ela é tripla. Ser mãe, dona de casa, esposa (namorada, noiva, companheira), sem mencionar a sua vida profissional.

Até hoje, com todos os avanços, o homem não tem a incumbência do lar, com raras exceções. Apesar das mudanças, o homem casado perante a mulher e os filhos, permanece com pretensão de ser aquele que se sacrificou pelo bem de todos. Portanto, estamos distante de um Mundo no qual homens e mulheres sejam iguais no trabalho. Talvez elas, as mulheres, sejam mais próximas da vida concreta.

Os homens vivem a metade do tempo em fantasias, às vezes inconfessáveis, tipo "o que vou fazer quando ganhar na loteria". Isso pode ocupar 30% do tempo deles, e não estou exagerando.

A mulher pode até jogar na loteria, mas não vai perder tempo pensando em como gastar aquele dinheiro. O homem é investido pela mãe da tarefa de ser a realização de todas as aspirações maternas. Essa é uma razão por que ele não para de sonhar...

A mulher pode ter outros desejos, mas o fato de sonhar uma vida totalmente diferente não é uma coisa pela qual ela vá perder muito tempo. Ainda hoje as mães tratam meninos e meninas, desde bebê, de forma diferente. Não é porque elas não amam sua filha, seria absurdo afirmar isso. Os homens também têm forte rivalidade no trabalho, mas o ciúme entre as mulheres é fortíssimo e não é meu desejo psicanalisar esse argumento impossível.

Esclareço: Durante séculos a mulher foi culpada de ser mulher. É como se carregasse uma imperfeição. Freud foi muito criticado nos anos 1960, mas, quando você o lê afirmando como se formam psiquicamente os dois sexos, tem-se a impressão de que o sexo feminino foi descrito por ele e por muitos negativamente, como aquele sexo ao qual falta um pênis.

O movimento feminino dos anos 60 teve uma função muito grande na mudança dessa percepção. Porém isso não acabou.

A mulher ainda sofre com a herança maldita, por ser "imperfeita". O tempo inteiro tem que mostrar que pode e é capaz. Já o homem, por ser homem, seria aquela coisa maravilhosa da mãe. Os homens continuam profundamente machistas, achando que a mulher não pode fazer tudo. E elas têm certa condescendência com esse comportamento, porque deixam os homens acreditarem nisso.

A mulher é mais plástica e tem mais facilidade de enfrentar situações diferentes, se adaptar a elas e mudar rapidamente. Isso pode ser uma vantagem muito grande para o bem da Humanidade.

(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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