Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Costumo deixar passar os 15 minutos de qualquer
explosão/estouro midiático para manifestar minhas opiniões sobre os
acontecimentos que foram notícias.
Por maior que seja a velocidade da informação na
sociedade do espetáculo, a opinião deve ter um tempo de amadurecimento para ser
enunciada. A anatomia humana permanece a mesma desde os 200 mil anos do
aparecimento do Homo sapiens no
planeta Terra. Apesar do desenvolvimento tecnológico, a velocidade da mente ao
processar ideias continua a mesma, mesmo com o aumento das sinapses nervosas,
como dizem os neurocientistas.
Com isso não quero dizer que os autores atuais, em sua
maior parte voltados para o entretimento e apesar da leveza dos seus textos não
haja talentos verdadeiros entre eles.
Na nossa época não há mais lugar para produções
literárias ousadas, como as de escritores do porte de um Guimarães Rosa, Joyce,
Kafka. Lamentavelmente. O mundo anda pra frente, diz o povão. E eu aceito com,
certas dúvidas.
Tais ideias vieram à minha mente depois de passeios pelas
maiores livrarias do Recife. Notei a presença mixuruca de escritores nacionais
na lista de best-seller e, quanto a autores pernambucanos, uma ninharia, escondida
nas prateleiras mais baixas.
Seja por culpa de quem quer que seja (distribuidores,
editores, vitrinistas), aprendi com meu pai, judeu da prestação, muito antes da
era da informática, que mercadoria que não se expõe não se vende. Isto continua
válido para tanto para o mundo real como para o virtual.
O fato que relembrou tal assertiva (pelo menos em mim)
foi o recente encantamento do Prêmio Nobel de Literatura (1992) Gabriel Garcia
Marques, considerado por muitos (embora não concorde, pois sou um dos milhares
de seus leitores), um mero mercador de uma imagem exótica da América Latina.
Bastaria conferir o seu livro ‘O Amor em Tempo de
Cólera’, que descreve com maestria a força e a beleza de um amor outonal, para
notarmos a energia da sua produção literária. Quanto à sua amizade com o
ditador Fidel Castro, costumo separar o artista de suas preferências políticas.
O que não posso é omitir o silêncio do Gabo, como gostava de ser chamado, de
não manifestar desaprovação quanto aos crimes do tirano cubano, muito embora
esta croniqueta não almeje debater/denunciar/tratar de tópicos ideológicos.
Apesar de tudo, a minha condição humana não permite de me eximir da Política.
As nossas editoras, jornais, rádios, canais de televisão,
mídia social, etc., que tanto temem serem considerados politicamente incorretos
do ponto de vista ideológico, não teriam, no caso do escritor baiano Jorge
Amado (1912-2001), um autor mais “à esquerda" do que o Gabo?
Descreveu ele as mazelas e virtudes de nossa gente sem
necessitar invocar mitos e muito menos realismos fantásticos - e foi traduzido
em 49 idiomas.
Suficiente será ler, reler, o texto de ‘Meninos de
Areia’, para predizer o que está acontecendo com nossas crianças e jovens nas
cracolândias das grandes cidades brasileiras. Quem gostar de realismo sem ser
mágico, procure em ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ algo que é muito mais
divertido e faz o gênero erótico com mais sensualidade.
Caso o leitor queira me chamar de nacionalista
tupiniquim, pouco importa. É a minha opinião. Diria, como Gabo: tenho o habeas corpus da idade.
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