quinta-feira, 14 de agosto de 2014

GABO (Gabriel Garcia Marques)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta

Costumo deixar passar os 15 minutos de qualquer explosão/estouro midiático para manifestar minhas opiniões sobre os acontecimentos que foram notícias.

Por maior que seja a velocidade da informação na sociedade do espetáculo, a opinião deve ter um tempo de amadurecimento para ser enunciada. A anatomia humana permanece a mesma desde os 200 mil anos do aparecimento do Homo sapiens no planeta Terra. Apesar do desenvolvimento tecnológico, a velocidade da mente ao processar ideias continua a mesma, mesmo com o aumento das sinapses nervosas, como dizem os neurocientistas.

Com isso não quero dizer que os autores atuais, em sua maior parte voltados para o entretimento e apesar da leveza dos seus textos não haja talentos verdadeiros entre eles.

Na nossa época não há mais lugar para produções literárias ousadas, como as de escritores do porte de um Guimarães Rosa, Joyce, Kafka. Lamentavelmente. O mundo anda pra frente, diz o povão. E eu aceito com, certas dúvidas.

Tais ideias vieram à minha mente depois de passeios pelas maiores livrarias do Recife. Notei a presença mixuruca de escritores nacionais na lista de best-seller e, quanto a autores pernambucanos, uma ninharia, escondida nas prateleiras mais baixas.

Seja por culpa de quem quer que seja (distribuidores, editores, vitrinistas), aprendi com meu pai, judeu da prestação, muito antes da era da informática, que mercadoria que não se expõe não se vende. Isto continua válido para tanto para o mundo real como para o virtual.

O fato que relembrou tal assertiva (pelo menos em mim) foi o recente encantamento do Prêmio Nobel de Literatura (1992) Gabriel Garcia Marques, considerado por muitos (embora não concorde, pois sou um dos milhares de seus leitores), um mero mercador de uma imagem exótica da América Latina.

Bastaria conferir o seu livro ‘O Amor em Tempo de Cólera’, que descreve com maestria a força e a beleza de um amor outonal, para notarmos a energia da sua produção literária. Quanto à sua amizade com o ditador Fidel Castro, costumo separar o artista de suas preferências políticas.

O que não posso é omitir o silêncio do Gabo, como gostava de ser chamado, de não manifestar desaprovação quanto aos crimes do tirano cubano, muito embora esta croniqueta não almeje debater/denunciar/tratar de tópicos ideológicos. Apesar de tudo, a minha condição humana não permite de me eximir da Política.

As nossas editoras, jornais, rádios, canais de televisão, mídia social, etc., que tanto temem serem considerados politicamente incorretos do ponto de vista ideológico, não teriam, no caso do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001), um autor mais “à esquerda" do que o Gabo?

Descreveu ele as mazelas e virtudes de nossa gente sem necessitar invocar mitos e muito menos realismos fantásticos - e foi traduzido em 49 idiomas.

Suficiente será ler, reler, o texto de ‘Meninos de Areia’, para predizer o que está acontecendo com nossas crianças e jovens nas cracolândias das grandes cidades brasileiras. Quem gostar de realismo sem ser mágico, procure em ‘Dona Flor e Seus Dois Maridos’ algo que é muito mais divertido e faz o gênero erótico com mais sensualidade.

Caso o leitor queira me chamar de nacionalista tupiniquim, pouco importa. É a minha opinião. Diria, como Gabo: tenho o habeas corpus da idade.

 (*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

Nenhum comentário:

 

Free Blog Counter
Poker Blog