O ORGULHO DE
PARANÁ
Joaquim Nabuco
- "Um analista do Império", tomo I, pág. 400.
Era
o Marquês do Paraná presidente do Gabinete, quando surgiu a candidatura do seu
filho, Honório Carneiro Leão, a deputado geral por Minas Gerais, nas eleições
de 1856. Informado do fato, o Imperador, em conversa com o seu ministro,
procurou abordar o assunto, fazendo-lhe sentir o inconveniente de apresentar-se
como candidato “o filho do presidente do Conselho”. Paraná era, porém,
orgulhoso demais para deter-se.
- Eu, como Honório Hermeto
Carneiro Leão, não preciso do favor do presidente Conselho para eleger um
deputado por Minas! - declarou.
Ocorrendo,
porém, a sua morte antes do pleito, o seu filho foi estrondosamente derrotado.
OS DOIS
ORNAMENTADORES
J.M. de Macedo
- "Memórias da Rua do Ouvidor", pág. 227.
À
rua do Ouvidor, entre a atual rua Sachet e a dos Ourives, cortada pela Avenida,
havia, outrora, a Livraria Mongie, em frente à qual era estabelecido o
cabeleireiro Desmarais.
- Temos os dois a mesma profissão - dizia o livreiro
ao seu velho amigo de palestras à porta. - Ambos nós
adornamos as cabeças.
E
concluía:
- Eu por dentro, e você por fora!
MORTE DE MARIZ E
BARROS
Moreira de
Azevedo - "Mosaico Brasileiro", pág. 394.
Nascido
em 1835, Antônio Carlos de Mariz e Barros, filho do Visconde
de Inhaúma, tinha apenas 31 anos e já se havia coberto de glória no
Paraguai. A 7 de março de 1866, ao retirar-se o Tamandaré do
bombardeio do forte de Itapirú, foi esse navio, do qual era comandante o moço
oficial, atingido por uma granada inimiga, cujos destroços mataram e
feriram grande número de homens da guarnição. Com uma das pernas
esfacelada, tinha Mariz e Barros de submeter-se a uma amputação, e os médicos
pediram-lhe que se deixasse cloroformizar.
- Prefiro um charuto, - declarou, rindo, o bravo
marinheiro.
E
foi fumando, e conversando alegre que se deixou amputar.
O
terminar, porém, a operação, durante a qual não soltou, sequer, um gemido,
cessou de sorrir e começou a empalidecer.
- Digam a meu pai que eu sempre honrei o seu nome, -
pediu, em despedida, às mãos amigas que lhe eram estendidas.
E
pendeu a cabeça, morto.
EFEITOS DO
CASAMENTO
Melo de Morais
Filho - "Artistas do meu tempo", pág. 175.
Após
uma juventude acidentada e boêmia, que se comprazia em ferir os outros com as
flechas de ouro da ironia, Laurindo Rabelo sentiu o coração tocado por uma
funda simpatia pela moça que veio a ser depois sua esposa. Casou-se. E a
modificação que sofreu, pelo menos por algum tempo, foi completa. Abandonou as
rodas brejeiras, pôs de parte o costume de despertar inimizades. Até o violão,
seu companheiro de infância, foi posto à margem. Os amigos interpelavam-no
sobre mudança tão brusca. E ele respondia, rindo:
- Case-se o mar, que o mar ficará manso!
Fonte: Humberto de Campos. O Brasil Anedótico (1927).