José Jackson
Coelho Sampaio (*)
Palestrantes
das novas escolas de planejamento, gestão, marketing ou autoajuda reincidem na
alegoria da galinha que cacareja, diante da produção de seus pequenos ovos, e
da pata que silencia frente aos seus grandes ovos. O elogio ao cacarejo da
galinha e a declarada reserva frente ao comportamento da pata, que não
propagandeia seu produto, tem-me feito refletir. E penso que a pata tem razão.
O
industrial quer reproduzir prolífica linha de montagem e o usuário quer acesso
às informações sobre preço e quantidade dos frutos destas aves. A ambos
interessa os cacarejos, mais ainda aos publicitários que buscam unir as pontas
desse processo produtivo, todos lucrativos beneficiários da exploração da
natureza. Mas, da perspectiva das aves alegóricas, instrumentalizando-nos com a
teoria da evolução, qual seria a moral da história?
Os
galináceos são individualistas e desorientados; dormem completamente, quando o
fazem; os machos cercam e bicam as fêmeas, para o acasalamento, e são dispostos
à guerra com os competidores. O galo tem pênis de 2 mm e não penetra, no ato
sexual. Uma galinha põe algo em torno de 300 ovos/ano, de 55 mg cada, fortes na
incubação, e os pintos também são fortes já na primeira semana de vida. Como a
taxa de sucesso é alta, o cacarejo da galinha é luxo que apenas torna
cenográfico o processo reprodutivo.
Os
patos têm senso de comunidade e de direção; atentos, dormem com metade do
cérebro; e os machos dançam para conquistar a fêmea que escolhe e indica aos
demais cortejadores com quem consumará o acasalamento. O pato tem pênis de 5 cm e penetra, no ato sexual.
Porém, uma pata põe apenas 40 ovos por ano, de 100 g cada, muito frágeis na
incubação, tendendo a morrer por insuficiente evaporação de água, e os patinhos
também são frágeis na primeira semana de vida, pela escassa penugem protetora.
A penetração aumenta o sucesso da fecundação e o silêncio da pata gera eficaz
defesa evolucionista, preservando os patinhos dos predadores. É de ouro o silêncio
da pata.
(*) Professor titular em saúde pública e
reitor da Uece.
Publicado In: O
Povo, Opinião, de 24/1/15. p.8.
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