Meraldo
Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A psicologia profunda possui uma
visão universal dos homens e das mulheres. Respeita as peculiaridades, sejam
quais forem. Vai à busca do universal do caráter humano. Jamais é regionalista
e muito menos nacionalista ou contra ou “em – prol” de qualquer crença. Muito menos
quando trata de religiões com muitos seguidores, como a judaica, a cristã, a
muçulmana, a budista, etc. Repele as ditaduras e hegemonias, pois descrê em
soluções que não abarquem todas as partes envolvidas. Reconhece os instintos
humanos (Para Freud somos regidos por dois instintos: de vida e de morte).
Sentimos amor e ódio, desejo pela
vida, pela saúde, pelo movimento em busca do bem estar, ou desejo pela morte,
pela imobilização perante um conflito, uma dificuldade, busca pela doença, pelo
mal estar. Um instinto pode predominar sobre o outro, mas os dois estarão
sempre atuantes no indivíduo. Para D. Winnicott (pediatra e psicanalista) a mãe
sente ódio pelo filho, assim como sente também amor. Ódio pela mudança da sua
rotina com a chegada do bebê, por abrir mão do seu narcisismo, da sua
independência, por dar sem esperar um retorno, um reconhecimento pela sua
dedicação, esforço, sacrifício. Sentimos o ódio, mas não o tornamos realidade,
não o concretizamos.
Sem desejar ser pretensioso, sei
que a inclinação para a destruição prevalece em todas as épocas. As repressões
são de precários resultados. Quando se reprime com intensidade, o sentimento em
geral retorna com crueldade, atrocidades são cometidas contra pessoas inocentes
ou contra os que são julgados culpados. Em suma, a ênfase no amor, na caridade
ou na solidariedade só ocorre naqueles que já conquistaram o mal.
A excrescência do
fundamentalismo, seu devaneio, é reconhecida com mais facilidade nos outros do
que em nós, nos que são diferentes, nos estrangeiros e nas minorias. As eras
fundamentalistas dos séculos XX e XXI atingiram um paroxismo que beira a sanha
assassina. Para o nazismo a desculpa foi a pureza racial, para o comunismo, o
‘interesse do povo’. E agora o Ocidente e o Oriente veem o fundamentalismo
islâmico como a encarnação do demônio e vice-versa. Parece que ambas as partes
esqueceram-se de que o mal está dentro das pessoas. A destruição faz parte da
existência dos humanos.
É necessário aceitar isso para
que se possa encontrar a maneira de combatê-la. Creio que a causa não se
encontra nas injustiças sociais, muito menos na globalização ou noutras
exterioridades, mas sim na índole do Homem (mulheres, homens e crianças). A
expressão criada pela filósofa judeu-alemã Hannah Arendt (1906-1975) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hannah_Arendt) em seu livro: ‘Eichmann
em Jerusalém' (http://pt.wikipedia.org/wiki/Eichmann_em_Jerusal%C3%A9m) cujo subtítulo é "Um
Relato Sobre a Banalidade do Mal" é bastante conhecida e citada.
Banalizar o mal é incorrer num
conformismo baseado na ideia de que, como o mal faz parte da natureza humana,
devemos tolerá-lo (e também o terrorismo?). O que Hannah Arendt critica é a
apatia, o silêncio dos bons que acaba "Banalizando o Mal".
Apesar de tudo, espero que algum
dia o Homem chegue a conter esse instinto de destruição, mas acredito que no
presente, qualquer sistema adotado, por mais bem intencionado que seja, será
fadado ao fracasso ou, no mínimo, seu resultado será precário (voltarei ao
assunto).
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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