quinta-feira, 30 de julho de 2015

Terrorismo e Fundamentalismo (A Banalidade do Mal)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A psicologia profunda possui uma visão universal dos homens e das mulheres. Respeita as peculiaridades, sejam quais forem. Vai à busca do universal do caráter humano. Jamais é regionalista e muito menos nacionalista ou contra ou “em – prol” de qualquer crença. Muito menos quando trata de religiões com muitos seguidores, como a judaica, a cristã, a muçulmana, a budista, etc. Repele as ditaduras e hegemonias, pois descrê em soluções que não abarquem todas as partes envolvidas. Reconhece os instintos humanos (Para Freud somos regidos por dois instintos: de vida e de morte).
Sentimos amor e ódio, desejo pela vida, pela saúde, pelo movimento em busca do bem estar, ou desejo pela morte, pela imobilização perante um conflito, uma dificuldade, busca pela doença, pelo mal estar. Um instinto pode predominar sobre o outro, mas os dois estarão sempre atuantes no indivíduo. Para D. Winnicott (pediatra e psicanalista) a mãe sente ódio pelo filho, assim como sente também amor. Ódio pela mudança da sua rotina com a chegada do bebê, por abrir mão do seu narcisismo, da sua independência, por dar sem esperar um retorno, um reconhecimento pela sua dedicação, esforço, sacrifício. Sentimos o ódio, mas não o tornamos realidade, não o concretizamos.
Sem desejar ser pretensioso, sei que a inclinação para a destruição prevalece em todas as épocas. As repressões são de precários resultados. Quando se reprime com intensidade, o sentimento em geral retorna com crueldade, atrocidades são cometidas contra pessoas inocentes ou contra os que são julgados culpados. Em suma, a ênfase no amor, na caridade ou na solidariedade só ocorre naqueles que já conquistaram o mal.
A excrescência do fundamentalismo, seu devaneio, é reconhecida com mais facilidade nos outros do que em nós, nos que são diferentes, nos estrangeiros e nas minorias. As eras fundamentalistas dos séculos XX e XXI atingiram um paroxismo que beira a sanha assassina. Para o nazismo a desculpa foi a pureza racial, para o comunismo, o ‘interesse do povo’. E agora o Ocidente e o Oriente veem o fundamentalismo islâmico como a encarnação do demônio e vice-versa. Parece que ambas as partes esqueceram-se de que o mal está dentro das pessoas. A destruição faz parte da existência dos humanos.
É necessário aceitar isso para que se possa encontrar a maneira de combatê-la. Creio que a causa não se encontra nas injustiças sociais, muito menos na globalização ou noutras exterioridades, mas sim na índole do Homem (mulheres, homens e crianças). A expressão criada pela filósofa judeu-alemã Hannah Arendt (1906-1975) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Hannah_Arendt) em seu livro: ‘Eichmann em Jerusalém' (http://pt.wikipedia.org/wiki/Eichmann_em_Jerusal%C3%A9m) cujo subtítulo é "Um Relato Sobre a Banalidade do Mal" é bastante conhecida e citada.
Banalizar o mal é incorrer num conformismo baseado na ideia de que, como o mal faz parte da natureza humana, devemos tolerá-lo (e também o terrorismo?). O que Hannah Arendt critica é a apatia, o silêncio dos bons que acaba "Banalizando o Mal".
Apesar de tudo, espero que algum dia o Homem chegue a conter esse instinto de destruição, mas acredito que no presente, qualquer sistema adotado, por mais bem intencionado que seja, será fadado ao fracasso ou, no mínimo, seu resultado será precário (voltarei ao assunto).
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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