quinta-feira, 5 de novembro de 2015

FORMAÇÃO DE BONS MÉDICOS ESPECIALISTAS


Lúcio Flávio Gonzaga Silva (*)
O primeiro programa de Residência Médica no Ceará iniciou-se em 1961, no Hospital das Clínicas da UFC
Apesar dos registros históricos antigos (no Egito, havia especialistas em catarata e em doenças respiratórias), o livro de George Weisz que estuda o desenvolvimento da especialização médica na Europa e Estados Unidos afirma ser a especialidade médica um fenômeno dos séculos XIX e XX. Ela surgiu nas grandes cidades como um imperativo social. Paris foi a primeira a desenvolvê-la em larga escala, na década de 1830.
Há duas maneiras de formar médicos especialistas no Brasil: por meio da realização de uma residência médica ou por via da aprovação de provas de título de especialista promovidas pelas sociedades de especialidades médicas, vinculadas à Associação Médica Brasileira.
A Residência Médica (RM) é o padrão ouro. Ela segue o modelo idealizado no Hospital John Hopkins, Baltimore, nos anos de 1880, por Halsted, Osler, Kelly e Welch (ovacionados no quadro de Sargent: os quatro doutores), todos na faixa dos 30 anos, que formaram os fundamentos das residências médicas atuais.
Lembro do tripé do ideal Osleriano (William Osler, que dizia aos residentes: “escute o paciente, ele está dando o diagnóstico a você”): 1) É prioridade do hospital de ensino a formação médica; 2) Os especialistas e residentes pensam juntos o cuidado ao paciente; 3) A forte dimensão moral.
No Brasil, os primeiros programas de Residência Médica foram criados no Hospital das Clínicas de São Paulo, em 1944, e no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro em 1948. O primeiro programa no Ceará iniciou-se em 1961, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Ceará, craniado pelo professor Haroldo Juaçaba.
A RM é uma modalidade de ensino com objetivo profissionalizante, caracterizada pelo aprendizado em serviço, ou seja, o futuro médico aprende a agir como médico sob a supervisão de profissionais experimentados. Algumas especialidades requerem cinco anos de duração.
Este modelo ideal de formação do médico especialista no Brasil esteve ameaçado recentemente. No entanto, um esforço conjunto das entidades médicas brasileiras, tendo à frente o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, brindou à nossa sociedade e, sobretudo, ao paciente brasileiro, definitivamente, agora na forma de Lei (DL 8516/2015), a garantia da excelência técnica e moral do médico especialista brasileiro.
Devemos erguer as mãos para comemorar esta grande conquista da sociedade brasileira.
 (*) Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e conselheiro do Conselho Federal de Medicina
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/09/2015. Opinião. p.11.

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