Lúcio Flávio
Gonzaga Silva (*)
O primeiro programa de Residência Médica no Ceará
iniciou-se em 1961, no Hospital das Clínicas da UFC
Apesar dos
registros históricos antigos (no Egito, havia especialistas em catarata e em
doenças respiratórias), o livro de George Weisz que estuda o desenvolvimento da
especialização médica na Europa e Estados Unidos afirma ser a especialidade
médica um fenômeno dos séculos XIX e XX. Ela surgiu nas grandes cidades como um
imperativo social. Paris foi a primeira a desenvolvê-la em larga escala, na
década de 1830.
Há duas maneiras de
formar médicos especialistas no Brasil: por meio da realização de uma
residência médica ou por via da aprovação de provas de título de especialista
promovidas pelas sociedades de especialidades médicas, vinculadas à Associação
Médica Brasileira.
A Residência Médica
(RM) é o padrão ouro. Ela segue o modelo idealizado no Hospital John Hopkins,
Baltimore, nos anos de 1880, por Halsted, Osler, Kelly e Welch (ovacionados no
quadro de Sargent: os quatro doutores), todos na faixa dos 30 anos, que
formaram os fundamentos das residências médicas atuais.
Lembro do tripé do
ideal Osleriano (William Osler, que dizia aos residentes: “escute o paciente,
ele está dando o diagnóstico a você”): 1) É prioridade do hospital de ensino a
formação médica; 2) Os especialistas e residentes pensam juntos o cuidado ao
paciente; 3) A forte dimensão moral.
No Brasil, os
primeiros programas de Residência Médica foram criados no Hospital das Clínicas
de São Paulo, em 1944, e no Hospital dos Servidores do Rio de Janeiro em 1948.
O primeiro programa no Ceará iniciou-se em 1961, no Hospital das Clínicas da
Universidade Federal do Ceará, craniado pelo professor Haroldo Juaçaba.
A RM é uma
modalidade de ensino com objetivo profissionalizante, caracterizada pelo
aprendizado em serviço, ou seja, o futuro médico aprende a agir como médico sob
a supervisão de profissionais experimentados. Algumas especialidades requerem
cinco anos de duração.
Este modelo ideal
de formação do médico especialista no Brasil esteve ameaçado recentemente. No
entanto, um esforço conjunto das entidades médicas brasileiras, tendo à frente
o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira, brindou à
nossa sociedade e, sobretudo, ao paciente brasileiro, definitivamente, agora na
forma de Lei (DL 8516/2015), a garantia da excelência técnica e moral do médico
especialista brasileiro.
Devemos erguer as
mãos para comemorar esta grande conquista da sociedade brasileira.
(*) Professor da Universidade Federal do
Ceará (UFC) e conselheiro do Conselho Federal de Medicina
Fonte: Publicado In: O Povo, de 30/09/2015. Opinião. p.11.
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