terça-feira, 8 de dezembro de 2015

CURSOS DE PRIMAVERA


Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Na Academia Cearense de Medicina professava eu há pouco preferir o termo operação à palavra cirurgia, para designar genericamente procedimentos médicos realizados com as mãos, ou atos cirúrgicos (do grego “cheir”, mão, e “ergon”, trabalho). Assim, a redução manual de uma fratura, sua correção, é um exemplo de operação, embora incruenta (sem sangue), sem auxílio de instrumentos, mas integrando o conjunto de procedimentos da ciência denominada “cirurgia”. Igualmente, pegar uma veia, puncionando-a garantindo o acesso para administração de medicamentos líquidos, será, a rigor, melhor considerada uma operação, não uma cirurgia. Mas, não cuidemos aqui das minúcias da etimologia (estudo da origem das palavras), pois destas nos ocupamos neste jornal em 29/2/2012. Estas considerações vêm ao encontro de uma louvável preocupação já apoderada das sociedades médicas no ocidente: a segurança cirúrgica nas operações, visando à prevenção de seus contratempos.
Em julho de 2008, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Universidade norte-americana de Harvard, desenvolveram um programa, de nome desnecessariamente comprido: “Safe Surgery Saves Lives” (Cirurgia Segura Salva Vidas), instalado em Washington, D.C., (EUA) com a divulgação de normas para aquele fim. Na América Latina, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), fundado há 86 anos (MCMXXIX), atualmente presidido pelo professor cearense Heládio Feitosa de Castro Filho, lançou há pouco o seu “Manual de Cirurgia Segura”. Tenho a honra de ser membro titular dessa colenda confraria e ter sido Mestre de seu capítulo cearense por dois anos (1986-1988).
Segundo a OMS, cerca de 254 milhões de operações são realizadas diariamente no mundo, uma média de uma intervenção cirúrgica para cada 25 pessoas. Estes números ensejam quase sete milhões de complicações pós-operatórias. Aludida estatística justifica à farta a publicação desse manual, e vem diminuindo em mais de 30% a ocorrência desses transtornos. Em Fortaleza, o médico clínico Eduilton Girão, titular da Academia Cearense de Medicina, e presidente da Associação Cearense de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar (Acecif) há muito esposava ideia semelhante. Apoiado por essas duas entidades, e pelo capítulo cearense do CBC (prof. Lusmar Veras, UFC) organizou um curso idêntico, viabilizado pela Secretaria Estadual de Saúde, esta também reconhecendo sua importância para médicos residentes em Cirurgia e Anestesia. O programa contou com a competente colaboração dos colegas João Martins, Iran Rabelo e Janedson Baima. As 20 horas/aula foram ministradas de 8 a 26 de setembro último, para 120 alunos, o que demonstrou a relevância desse seminário. Que tal chamá-los doravante “Cursos de Primavera”? Foi mais um tento logrado pela atenta diretoria (Dr. Vladimir Távora) da Academia Cearense de Medicina. Saravá!
(*) Médico. Professor Emérito da UFC. Ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de Letras.
Fonte: O Povo, Opinião, de 14/10/2015. p.7.

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