Pedro
Henrique Saraiva Leão (*)
Na Academia Cearense de Medicina
professava eu há pouco preferir o termo operação à palavra cirurgia, para
designar genericamente procedimentos médicos realizados com as mãos, ou atos
cirúrgicos (do grego “cheir”, mão, e “ergon”, trabalho). Assim, a redução
manual de uma fratura, sua correção, é um exemplo de operação, embora incruenta
(sem sangue), sem auxílio de instrumentos, mas integrando o conjunto de procedimentos
da ciência denominada “cirurgia”. Igualmente, pegar uma veia, puncionando-a
garantindo o acesso para administração de medicamentos líquidos, será, a rigor,
melhor considerada uma operação, não uma cirurgia. Mas, não cuidemos aqui das
minúcias da etimologia (estudo da origem das palavras), pois destas nos
ocupamos neste jornal em 29/2/2012. Estas considerações vêm ao encontro de uma
louvável preocupação já apoderada das sociedades médicas no ocidente: a
segurança cirúrgica nas operações, visando à prevenção de seus contratempos.
Em julho de 2008, a Organização
Mundial de Saúde (OMS) e a Universidade norte-americana de Harvard,
desenvolveram um programa, de nome desnecessariamente comprido: “Safe Surgery
Saves Lives” (Cirurgia Segura Salva Vidas), instalado em Washington, D.C.,
(EUA) com a divulgação de normas para aquele fim. Na América Latina, o Colégio
Brasileiro de Cirurgiões (CBC), fundado há 86 anos (MCMXXIX), atualmente
presidido pelo professor cearense Heládio Feitosa de Castro Filho, lançou há
pouco o seu “Manual de Cirurgia Segura”. Tenho a honra de ser membro titular
dessa colenda confraria e ter sido Mestre de seu capítulo cearense por dois
anos (1986-1988).
Segundo a OMS, cerca de 254 milhões
de operações são realizadas diariamente no mundo, uma média de uma intervenção
cirúrgica para cada 25 pessoas. Estes números ensejam quase sete milhões de
complicações pós-operatórias. Aludida estatística justifica à farta a
publicação desse manual, e vem diminuindo em mais de 30% a ocorrência desses
transtornos. Em Fortaleza, o médico clínico Eduilton Girão, titular da Academia
Cearense de Medicina, e presidente da Associação Cearense de Estudos e Controle
de Infecção Hospitalar (Acecif) há muito esposava ideia semelhante. Apoiado por
essas duas entidades, e pelo capítulo cearense do CBC (prof. Lusmar Veras, UFC)
organizou um curso idêntico, viabilizado pela Secretaria Estadual de Saúde,
esta também reconhecendo sua importância para médicos residentes em Cirurgia e
Anestesia. O programa contou com a competente colaboração dos colegas João
Martins, Iran Rabelo e Janedson Baima. As 20 horas/aula foram ministradas de 8
a 26 de setembro último, para 120 alunos, o que demonstrou a relevância desse
seminário. Que tal chamá-los doravante “Cursos de Primavera”? Foi mais um tento
logrado pela atenta diretoria (Dr. Vladimir Távora) da Academia Cearense de
Medicina. Saravá!
(*) Médico. Professor
Emérito da UFC. Ex-presidente e atual secretário geral da Academia Cearense de
Letras.
Fonte: O Povo,
Opinião, de 14/10/2015. p.7.
Nenhum comentário:
Postar um comentário