segunda-feira, 28 de março de 2016

NOMES QUE PASSARAM


Por Sânzio de Azevedo (*)
Em palestra proferida na Academia Cearense de Letras em 2005, falei de Poetas Esquecidos, título que roubei de um livro de Mário Linhares. Mas no meu caso eu só contemplaria aqueles que tiveram fama e depois mergulharam no esquecimento. Como, entre tantos, Aureliano Lessa, Vitoriano Palhares, Narcisa Amália, Valentim Magalhães, Luís Murat, Hermes Fontes, Hermeto Lima e Alceu Wamosy.
Para me fixar num só exemplo, lembro Olegário Mariano, nascido no Recife em 1889 e falecido no Rio de Janeiro em 1958. Chegou a frequentar o famoso grupo de Bilac e seria eleito em 1938 príncipe dos poetas brasileiros, sucedendo a Alberto de Oliveira, que fora o sucessor de Bilac.
Em 1930, João Ribeiro disse que sua poesia era “conhecida em todo o Brasil”, e Peregrino Júnior, quando ele faleceu, disse: “foi um dos maiores poetas do Brasil”. Quem se lembra hoje dele? Ao publicar em 1920 o livro Últimas Cigarras, que seria reeditado várias vezes, ganhou o título de Poeta das Cigarras.
Ficou mais que famoso o soneto “O Enterro da Cigarra”, que resumo aqui: “As formigas levavam-na... Chovia!.../ Era o fim... Triste outono fumarento!... / Perto, uma fonte, em suave movimento, / Cantigas de água trêmula carpia.” E no final, “Pobre cigarra! Quando te levavam, /Enquanto te chorava a Natureza, / Tuas irmãs e tua mãe cantavam...”
Em artigo de 1937, conta Manuel Bandeira que em Petrópolis uma velhinha lhe disse haver lido uns versos tão belos que ela os decorou. Pediu-lhe o poeta que ela dissesse os versos e conclui: “fiquei enternecidís-simo quando ela começou: ‘As formigas levavam-na... Chovia...’ Desde esse dia passei a querer grande bem à poesia de Olegário. Compreendi instantaneamente que ela haveria de ficar”.
Mas a verdade é que não ficou. Nem mesmo a simpática homenagem de Herman Lima, seu amigo, publicando o Olegário Mariano da Coleção Nossos Clássicos, da Agir, em 1968, conseguiu resgatar sua obra do esquecimento em que mergulhou. E temos de reconhecer que se trata de um belo poeta. A literatura tem dessas coisas nem sempre explicáveis...
(*) Doutor em Letras pela UFRJ; membro da Academia Cearense de Letras (ACL).
Fonte: Publicado In: O Povo. Fortaleza, 22/03/2016. Opinião. p.9.

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