Por Sânzio de Azevedo (*)
Em palestra
proferida na Academia Cearense de Letras em 2005, falei de Poetas Esquecidos,
título que roubei de um livro de Mário Linhares. Mas no meu caso eu só contemplaria
aqueles que tiveram fama e depois mergulharam no esquecimento. Como, entre
tantos, Aureliano Lessa, Vitoriano Palhares, Narcisa Amália, Valentim
Magalhães, Luís Murat, Hermes Fontes, Hermeto Lima e Alceu Wamosy.
Para me fixar num
só exemplo, lembro Olegário Mariano, nascido no Recife em 1889 e falecido no
Rio de Janeiro em 1958. Chegou a frequentar o famoso grupo de Bilac e seria
eleito em 1938 príncipe dos poetas brasileiros, sucedendo a Alberto de
Oliveira, que fora o sucessor de Bilac.
Em 1930, João
Ribeiro disse que sua poesia era “conhecida em todo o Brasil”, e Peregrino
Júnior, quando ele faleceu, disse: “foi um dos maiores poetas do Brasil”. Quem
se lembra hoje dele? Ao publicar em 1920 o livro Últimas Cigarras, que seria
reeditado várias vezes, ganhou o título de Poeta das Cigarras.
Ficou mais que
famoso o soneto “O Enterro da Cigarra”, que resumo aqui: “As formigas
levavam-na... Chovia!.../ Era o fim... Triste outono fumarento!... / Perto, uma
fonte, em suave movimento, / Cantigas de água trêmula carpia.” E no final,
“Pobre cigarra! Quando te levavam, /Enquanto te chorava a Natureza, / Tuas
irmãs e tua mãe cantavam...”
Em artigo de 1937,
conta Manuel Bandeira que em Petrópolis uma velhinha lhe disse haver lido uns
versos tão belos que ela os decorou. Pediu-lhe o poeta que ela dissesse os
versos e conclui: “fiquei enternecidís-simo quando ela começou: ‘As formigas
levavam-na... Chovia...’ Desde esse dia passei a querer grande bem à poesia de
Olegário. Compreendi instantaneamente que ela haveria de ficar”.
Mas a verdade é que
não ficou. Nem mesmo a simpática homenagem de Herman Lima, seu amigo,
publicando o Olegário Mariano da Coleção Nossos Clássicos, da Agir, em 1968,
conseguiu resgatar sua obra do esquecimento em que mergulhou. E temos de
reconhecer que se trata de um belo poeta. A literatura tem dessas coisas nem
sempre explicáveis...
(*) Doutor em
Letras pela UFRJ; membro da Academia Cearense de Letras (ACL).
Fonte:
Publicado In: O Povo. Fortaleza, 22/03/2016. Opinião. p.9.
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