Celina Côrte
Pinheiro (*)
De acordo com
estatística do Detran-CE, datada de dezembro de 2015, há no Estado 1.226.722
motos, com predomínio do Interior. A frota cearense é a terceira maior do País
e a primeira do Nordeste. O relativo baixo custo, as facilidades oferecidas
para aquisição, a agilidade de deslocamento, a utilização para fins
profissionais além do lazer, a insuficiência e inadequação de transporte
público, a substituição de veículos de tração animal por motorizados estão
entre os motivos que propiciaram o crescimento do número de motocicletas
circulantes e, como consequência, um expressivo aumento no número de vítimas no
trânsito.
Este lamentável
fato não é decorrente apenas da maior vulnerabilidade do motociclista ao contexto
do trânsito, onde se observam o desrespeito, a falta de educação e gentileza, a
demonstração de poder, o desprezo à direção defensiva etc. por parte dos
motoristas. A negligência de motociclistas às normas básicas de segurança,
arriscando-se em manobras bruscas, é nítida. Fazem ultrapassagens indevidas,
circulam pelas ciclofaixas, não obedecem aos sinais de trânsito, andam na
contramão, dirigem sob efeito de substâncias psicoativas…
Um profundo
desprezo à própria vida e às alheias. Sobretudo no Interior, não é incomum
vermos condutores sem capacete ou portando-o de forma inadequada (solto na
cabeça ou preso ao cotovelo), sandálias soltas nos pés, dois ou mais
passageiros na garupa. Muitos sequer possuem carteira de habilitação.
De janeiro a agosto
de 2015, contabilizaram-se 1.674 vítimas fatais no trânsito do Ceará. Dentre
essas, 742 eram motociclistas (44,32%). Entre as 7.737 vítimas não fatais,
4.366 eram motociclistas (56,43%). As vítimas de acidentes com motos ocupam
cerca de 70% dos leitos do Instituto Dr. José Frota (IJF). Uma tragédia urbana,
com vultosos prejuízos pessoais, familiares e sociais, devendo ser encarada
como mais uma importante questão de saúde pública.
É urgente dar-se um
basta a esta realidade por meio de políticas públicas sérias, voltadas à
prevenção, educação, fiscalização e repressão.
(*) Médica ortopedista e traumatologista.
Presidentes da Sobrames/CE.
Fonte: Jornal O Povo, de 4/03/16. Opinião, p.8.
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