Por João Soares Neto (*)
“Compreender é complicar. É enriquecer-se
profundamente”. Lucien Lebvre (1878 -1956), historiador francês.
Há alguns anos resolvi criar uma
biblioteca. Dei a ela o nome de “Espaço da Leitura”. Ela é aberta ao público
todos os dias, inclusive aos domingos. Funciona das 10 da manhã às 10 da noite.
O espaço é climatizado, há jornais do dia, revistas e livros para todos os
gostos. O endereço: Av. Carapinima, 2200, 1º Piso. É só perguntar e chega
fácil. Pode levar o seu computador e copiar, se desejar. Mas é preciso fazer
isso em silêncio para não atrapalhar os outros usuários.
Visito-a, por vontade e zelo. Foi lá
que me deparei com Epicuro, filósofo ateniense, nascido em 341 antes de Cristo,
se o calendário não estiver errado. Pois bem, vejo a “Carta sobre a Felicidade”, escrita a Meneceu, um de seus
destinatários favoritos, embora tivessem. outros, inclusive Heródoto.
Nessa epístola, que cabe em bolso,
da Editora da Universidade Estadual de SP - UNESP, há uma elegia à felicidade.
É bom deixar claro que Epicuro, foi expulso de Atenas após a morte de Alexandre
Magno. Anos depois, volta para viver em casa com amplo terreno e jardim. Na
casa ateniense ficavam os mestres, no “Jardim de Epicuro” abrigavam-se os seus jovens seguidores.
É bom lembrar que a tese de
doutorado de Karl Marx versou sobre “A relação entre a filosofia de Epicuro e a de Demócrito”. Nela, Marx, entre outras
considerações, tratava da visão de Demócrito sobre causa e efeito e asseverava
que ela se aplicava tanto aos homens quanto à natureza. Ao falar de Epicuro,
Marx associa-se ao seu pensar, pois, tal como ele, não aceitava o determinismo
histórico e a fatalidade.
A carta é uma exortação ao exercício
filosófico. Essencial para a obtenção da felicidade, “acreditando nos deuses”. Jesus só nasceria três séculos e
meio depois de Epicuro. Logo no princípio, ele afasta o natural temor da morte:
“Torna-se absolutamente
necessário vencer esse medo da morte; ninguém deve temê-la, uma vez que não há
nenhuma vantagem em viver eternamente: o que importa não é a duração, mas a
qualidade da vida”.
A tradução da carta é de Álvaro
Lorencini, daí a linguagem atualizada. Para Epicuro, sábio seria aquele que
nunca acredita no destino e na sorte, mas o que acredita na sua vontade e na
sua liberdade. Daí que a repetida frase de Geraldo Vandré: “quem sabe faz a hora, não espera
acontecer” não tem nada de
novo.
“Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não
chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já
passou a hora de ser feliz”. É um apelo ao estudo da filosofia e, por meio dela, se chegar à
felicidade, pela prudência. Não existiria existência feliz sem cautela, sem
encanto e sem justiça. Deve-se viver sem medo da morte. E explana: “A morte, portanto não é nada, nem
para os vivos, nem para os mortos, já que para aqueles ela não existe, ao passo
que estes não estão mais aqui”.
Arremato e concluo crendo que ele
fala dos desejos humanos, os naturais e os necessários, básicos para a
felicidade: “o prazer é o início e
o fim de uma vida feliz”. Em contraponto,
afirma: “Toda dor é um mal, mas
nem todas devem ser sempre evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os
prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos… Tudo
que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil”.
(*) João Soares Neto é
escritor e membro da Academia Cearense de Letras.
Fonte: Publicado no jornal O Estado-CE, em 31/01/2016.
Nota: Baseado na “Carta sobre a Felicidade”, de Epicuro,
dedicada a Meneceu.
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