Mulher de um dos novos ministros da equipe de Dilma, ex-miss
Bumbum tira fotos no gabinete do marido e dissemina na internet o retrato de um
governo que agoniza
Por: Rodrigo Rangel
Na manhã de segunda-feira, a ex-miss Bumbum Milena Santos
foi a um salão de beleza de Brasília. Queria se produzir para o grande evento
do dia: um ensaio fotográfico da sua primeira visita ao novo gabinete do
marido, o petista Alessandro Teixeira, nomeado três dias antes pela presidente
Dilma Rousseff para o cargo de ministro do Turismo. Conhecida na internet,
local onde se contam às dezenas as páginas em que aparece em fotos sensuais e
vídeos eróticos, Milena vive há dois anos com o ministro, mas, até onde se
sabe, mantinha-se, digamos, recolhida desde que chegou a Brasília. Na semana
passada, decidiu que era hora de fazer-se, digamos, mais visível. Com um
vestido branco de um só botão, abaixo e acima do qual tudo se revelava, ela
posou para fotos e depois postou as imagens na página de uma rede social.
Exibindo uma bolsa Dolce & Gabbana de 8 000 reais, a ex-miss Bumbum aparece
nas fotos trocando olhares e beijos com o marido, faz poses diante da mesa de
reuniões e ao lado da bandeira nacional. "Compartilhando
com meus amigos meu primeiro dia de primeira-dama do Ministério do Turismo do
Brasil. Te amo, meu amor, juntos somos mais fortes. Não é atoa (sic) que ao
lado de um grande homem existe sempre uma linda e poderosa mulher", escreveu ela.
Em questão de minutos, a sessão de fotos causou furor nas
redes sociais - e, claro, virou notícia. Com o governo derretendo e a presidente
da República em via de ser despejada do Palácio do Planalto, era a cena que
faltava para imprimir a marca de zorra total ao clima de fim de festa em
Brasília. O fato de o coadjuvante do escândalo ser figura próxima da presidente
só fez piorar a situação. O gaúcho Alessandro Teixeira é homem de confiança de
Dilma, ocupou cargos importantes no governo e participou da coordenação da
campanha da petista à reeleição. Em tempos normais, o ministro - qualquer
ministro - que se visse envolvido nessa situação, digamos, insólita teria
sofrido pelo menos uma das famosas reprimendas da chefe. Os tempos são outros.
A anestesia da presidente reflete o estupor reinante nas repartições públicas
de Brasília.
São muitos os sinais de que o governo experimenta seus
últimos dias de poder. Na manhã de quinta-feira, no subsolo do Palácio do
Planalto, funcionários providenciavam caixas de papelão vazias. A limpeza das
gavetas foi antecipada. A rotina também já era bem diferente daquela dos dias
normais. "Na verdade não dá nem para
falar em rotina. Está tudo parado por aqui",
disse uma funcionária da Presidência. "O clima é de enterro. Está
começando a cair a ficha de que erraram feio." Dilma ainda tenta
demonstrar que tudo funciona normalmente, mas sua agenda revela o oposto. Nas duas
últimas semanas, houve 23 audiências, a maioria com ministros da casa - e todas
para tratar do processo de impeachment e da estratégia de classificar o
afastamento como "golpe". Nada de encontros com chefes de Estado
estrangeiros ou presidentes de multinacionais. Nada de discutir projetos e
ações de governo. Com a debandada dos aliados, a Esplanada está repleta de
representantes do terceiro escalão chefiando ministérios. Alguém sabe como se
chama o ministro da Saúde? Imagine o dos Portos...
Na intimidade, no Palácio da Alvorada, a presidente tem
passado madrugadas em claro. Ela se recolhe no fim da noite, mas desperta no
meio da madrugada. No escritório, a alguns metros do quarto presidencial, liga
o terminal em que recebe despachos de agências de notícias. Fica on-line, lendo
o que será publicado nos jornais, até praticamente o raiar do sol. A família
tem ajudado a presidente a lidar com a situação. Dias antes de o plenário da
Câmara votar o impeachment, ela ganhou o afago do irmão, Igor, que deixou a pequena
Passa Tempo, no interior de Minas, para ficar uma semana como hóspede do
Alvorada, ao lado de Dilma e da mãe, Dilma Jane. Ao retornar a Minas, Igor
Rousseff teve de ouvir piada do patrão, o empresário Alberto Ramos, para quem
toca um projeto de criação de peixes. "Eu
disse a ele, brincando: 'Agora você vai ter de trabalhar mais porque sua irmã
em poucos dias já não vai ser mais presidente' ",
contou Ramos. O empresário, que nos tempos áureos de Dilma chegou a ser levado
por Igor para uma conversa de duas horas com a presidente em Brasília, também
já abandonou o barco. "Eu contrato o
Igor, mas a irmã dele eu não contrataria. Ela está caindo por ignorância e
incompetência", diz.
Às vésperas da decisão do Senado sobre seu afastamento, a
presidente corre para anunciar um pacote de bondades. Tenta criar uma agenda
positiva em meio ao caos. Divulgou que pretende, por exemplo, reajustar o Bolsa
Família. Em paralelo, esforça-se para mostrar resiliência. Na sexta-feira, em
nova cerimônia para a militância no Planalto, classificou a denúncia que deu
origem ao processo de impeachment de "ridícula". No fim de festa em que
se transformou o seu governo, com até ex-miss Bumbum dando espetáculo, o
adjetivo pode ter larga aplicação.
Fonte: A festa do fim de festa. In: Veja Ed
2476. Ano 49, n. 18. 4/5/2016. p.50-1.
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