Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Deparei-me esta semana com
uma publicidade de página inteira, veiculada por revista de circulação
nacional, propalando os benefícios de uma medicação veterinária contra pulgas e
carrapatos. O que mais me impressionou nessa propaganda foram os dizeres:
"Não deixe seu cão perder a melhor parte de ser um
cão. Dê um mundo inteiro para o seu cão”.
Gostaria de indagar ao
leitor sobre o que acha desse tipo de cuidados antropocêntricos para com os
animais. Recordando o termo antropocêntrico do ponto de vista filosófico:
Diz-se, principalmente, das doutrinas finalísticas que admitem que todas as
coisas foram criadas por Deus para propiciar a vida humana.
Quando se invoca o nome de
Deus em vão, algo está errado. Mas deixemos as religiões para os teólogos. E as
proliferações das lojas “pet-shop” (tudo agora é em inglês) para os economistas
e assemelhados.
Os pobres animais de
estimação e seus donos viraram criaturas escravizadas da sociedade de consumo,
inebriados pelo cinismo, pelo narcisismo, pela violência e pela delinquência.
Humanizar é tornar humano,
dar condição humana. Quando vejo/assisto/ testemunho esses acontecimentos
recordo-me de uma passagem do escritor Franz Kafka no seu ‘Um relatório para
uma Academia’ (1917).
O agraciado (ou relator)
nessa sessão era um macaco amestrado que após treinamento especializado passa a
se comportar como humano, embora permaneça com a anatomia de macaco - e confessa:
... “Se chego em casa tarde
da noite, vindo de banquetes, sociedades científicas, reuniões agradáveis, está
me esperando uma pequena chimpanzé semi-amestrada e eu me permito passar bem
com ela à maneira dos macacos. Durante o dia não quero vê-la; pois ela tem no
olhar a loucura do perturbado animal amestrado; isso só eu reconheço e não
consigo suportá-lo....”
Para que não se diga que
falei exclusivamente do reino animal, concluo contando um fato que incluiu
também os vegetais.
Um grande paisagista
nacional, já falecido, foi interpelado por uma senhora da alta sociedade que
lhe perguntou:
- O que o senhor acha: as
plantas crescem mais com a música de Bach ou com a de Mozart?
Respondeu ele:
- Não saberia dizer senhora,
qual deles é mais importante. O que eu sei é que as plantas crescem melhor com
titica de galinha.
Juro que foi verdade. Nessas
coisas não se pode invocar testemunhos. Pena. Foi somente entre mim e ele - o
paisagista.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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