terça-feira, 14 de junho de 2016

JOVENS (Não Se Deixem Enganar)


Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Goethe (1749-1832), considerado por muitos como o maior escritor alemão, narra em seu livro: Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister que o jovem de família de origem burguesa, contrariando as expectativas de sua classe e de seus pais, que lhe destinavam carreira no comércio, ingressa no mundo do teatro. Em meio a uma sequência de encontros, peripécias e diversas ligações amorosas, convive com os mais diferentes extratos sociais, num painel da sociedade de seu tempo.
Naquele livro o autor afirma: “não valeria a pena chegar aos 70 anos (agora diria 80 ou mais anos de idade), se toda a sabedoria do mundo fosse tolice e que não devemos levar as nossas falhas juvenis para a velhice, pois a velhice traz consigo defeitos que lhe são próprios”.
Os jovens são propensos a fazer o que se lhes apetece. Amam com paixão para logo desamarem e são, por isso, taxados de volúveis. São assim mesmo, impetuosos por temperamento, deixando-se facilmente conduzir pela cólera. Não toleram injustiças, indignam-se com facilidade. O seu caráter é puro porquanto não imaginam muitas improbidades. O futuro para eles é grandioso e o passado curto. São enganados com facilidade. São envergonhados, por natureza, e julgam os outros por si. Creem na virtuosidade dos seres humanos.
São magnânimos, confiantes, indulgentes. Quando gracejam sobre os mais velhos é sob um aspecto de atrevimento bem educado. Juventude é a época quando a emoção supera a razão; em que os sentimentos estão à flor da pele. Acreditam em mitos e sua visão do mundo contém um vínculo indissolúvel entre a estética e o sagrado. A beleza, para eles, não é simplesmente bela, mas sim um critério de verdade, profundo e essencial.
Numa época de globalização lembraria uma afirmação do filósofo polonês Zigmund Bauman que, com mais de 90 anos de idade, acredita que os jovens podem salvar o mundo e fazer algo para alterar a História, consertando os estragos que fizemos. Dependerá da capacidade deles pôr em prática imaginação e determinação. Para que se dê uma oportunidade aos jovens, nós das gerações anteriores precisamos aprender a resistir às pressões da fragmentação e recuperar a consciência da responsabilidade, a ser compartilhada para o futuro do Homem.
Não podemos ficar nos lamentado pelo que fizemos. Somente os tolos se queixam. Os jovens precisam trocar o mundo virtual, aqui entendido como sinônimo do possível, pelo mundo real. Assumir o que são e o que desejam. Neste imbróglio todo não é necessário nenhum disfarce. Desejo que mostrem suas caras. Acredito que muita gente vai querer manobrá-los como marionetes políticos. Principalmente agora quando uma crise política-financeira-moral aflige o nosso País. Eles gostam de nós, os mais velhos, e não podemos permitir que sejam manipulados. A engrenagem para o aperfeiçoamento da Democracia não pode ser lubrificada com o sangue da nossa juventude. Nossa tarefa urgente é resgatar o diálogo intergeracional.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).

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