Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Goethe (1749-1832), considerado por muitos como o
maior escritor alemão, narra em seu livro: Anos de Aprendizado de Wilhelm
Meister que o jovem de família de origem burguesa, contrariando as
expectativas de sua classe e de seus pais, que lhe destinavam carreira no
comércio, ingressa no mundo do teatro. Em meio a uma sequência de encontros,
peripécias e diversas ligações amorosas, convive com os mais diferentes
extratos sociais, num painel da sociedade de seu tempo.
Naquele livro o autor afirma: “não valeria a pena
chegar aos 70 anos (agora diria 80 ou mais anos de idade), se toda a
sabedoria do mundo fosse tolice e que não devemos levar as nossas falhas
juvenis para a velhice, pois a velhice traz consigo defeitos que lhe são
próprios”.
Os jovens são propensos a fazer o que se lhes
apetece. Amam com paixão para logo desamarem e são, por isso, taxados de
volúveis. São assim mesmo, impetuosos por temperamento, deixando-se facilmente
conduzir pela cólera. Não toleram injustiças, indignam-se com facilidade. O seu
caráter é puro porquanto não imaginam muitas improbidades. O futuro para eles é
grandioso e o passado curto. São enganados com facilidade. São envergonhados,
por natureza, e julgam os outros por si. Creem na virtuosidade dos seres humanos.
São magnânimos, confiantes, indulgentes. Quando
gracejam sobre os mais velhos é sob um aspecto de atrevimento bem educado.
Juventude é a época quando a emoção supera a razão; em que os sentimentos estão
à flor da pele. Acreditam em mitos e sua visão do mundo contém um vínculo
indissolúvel entre a estética e o sagrado. A beleza, para eles, não é
simplesmente bela, mas sim um critério de verdade, profundo e essencial.
Numa época de globalização lembraria uma afirmação
do filósofo polonês Zigmund Bauman que, com mais de 90 anos de idade, acredita
que os jovens podem salvar o mundo e fazer algo para alterar a História,
consertando os estragos que fizemos. Dependerá da capacidade deles pôr em prática
imaginação e determinação. Para que se dê uma oportunidade aos jovens, nós das
gerações anteriores precisamos aprender a resistir às pressões da fragmentação
e recuperar a consciência da responsabilidade, a ser compartilhada para o
futuro do Homem.
Não podemos ficar nos lamentado pelo que fizemos.
Somente os tolos se queixam. Os jovens precisam trocar o mundo virtual, aqui
entendido como sinônimo do possível, pelo mundo real. Assumir o que são e o que
desejam. Neste imbróglio todo não é necessário nenhum disfarce. Desejo que
mostrem suas caras. Acredito que muita gente vai querer manobrá-los como
marionetes políticos. Principalmente agora quando uma crise
política-financeira-moral aflige o nosso País. Eles gostam de nós, os mais
velhos, e não podemos permitir que sejam manipulados. A engrenagem para o aperfeiçoamento
da Democracia não pode ser lubrificada com o sangue da nossa juventude. Nossa
tarefa urgente é resgatar o diálogo intergeracional.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
Nenhum comentário:
Postar um comentário