Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
O verdadeiro escritor vale pelo sentimento que
consegue transmitir ao leitor. Por mais que domine o vocabulário, a gramática e
a beleza das frases, se não transmitir sensibilidade não estará produzindo
Literatura.
Acredito que a história da vida de uma pessoa não
possa ser escrita por ela nem por outrem. Apesar de a maioria dos biógrafos
tentar explicar uma pessoa por meio de fatos da vida do biografado, na verdade
é o contrário. A partir da obra é que se pode contar a história de uma Vida.
Para o leitor, à primeira vista, poderá parecer que
o que escrevo não passa de um amontoado de alíneas, sem continuidade. Estou
imitando a vida como ela é, atemporal como nosso inconsciente.
Graciliano Ramos, em seu livro ‘Linhas Tortas’, diz:
A frase é reles
clichê perfeito, chavão repetido mil vezes em versinhos alambicados de poetas
de meia-tigela. Com todo o respeito e
admiração pelo exemplo da vida e obra literária desse alagoano ilustre, não vou
me importar se alguém me tachar de mais um produtor de clicherias literárias...
ou assemelhado.
Dia desses, relendo João Guimarães Rosa — Grandes
Sertões: Veredas, deparei-me com estas linhas: Ser escritor é “ser” um difusor
de ideias, semeador de transformações, mas nem por isso (permita-me acrescentar, Mestre João Guimarães), os
pássaros, os répteis, as borboletas, as abelhas, os beija-flores e tantos
outros bichos deixam de sê-lo..., sem se arvorarem o título de escritor.
O bicho gente, também; mesmo quando não pertence à
galeria dos escritores ilustres, nem por isso perde a capacidade de deitar uma
boa semente e dela florirem rosas. Como não pretendo gastar meu tempo como
aprendiz e, sim, pôr no papel as minhas experiências de homem e de médico; acho
que para alguma coisa estes escritos poderão vir a ser de proficuidade.
Parafraseando Paul Valery (1817-1945), concluo: Como escreve mal esse anotador. Que importa! O que escrevo é
pelo desejo de compartilhar minhas emoções com meus irmãos de jornada.
Lembro o que disse a nossa querida escritora Raquel
de Queiroz a respeito dos escritores medíocres:
Tanto luta e pena o bom escritor quanto o medíocre.
Enquanto o primeiro tem o seu prêmio nos aplausos, homenagens e reconhecimento
o medíocre trabalha à toa, somente recebe a paga do anonimato, esquecimento
indiferença, e o pior de tudo— o de não ser lido. Tanto um quanto o outro deseja escrever suas mentiras e não sabe que
estão escrevendo as suas verdades... De uma coisa tenho certeza: ninguém
escreve pois que quer.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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