quinta-feira, 8 de setembro de 2016

VIVA BEM O PRESENTE


Por Affonso Taboza (*)

O passado já se foi e o futuro a Deus pertence.

Esta sentença, que de tão repetida nem mais dono tem e virou lugar-comum, espelha uma meia verdade. O passado realmente passou, mas a memória ficou e se reflete no presente. Não podemos mudar o passado, é verdade. O que fizemos de bom ou de mau está sacramentado. De cada episódio vivido podemos ter versões variadas, conforme a conveniência, mas uma só verdade, imutável.

Não existe felicidade, existem momentos felizes”, disse o poeta, com muita propriedade. Nossa vida passada foi feita de bons e maus momentos. E tais momentos podem ser revividos. Só que pessoas sãs costumam reviver os bons, e isso lhes traz um prazer imenso. Embora não possamos alterar o passado, podemos revivê-lo prazerosamente quantas vezes quisermos. Basta ativar nosso pensamento, nossas lembranças.

Imagino que a intenção de quem cita a frase é construtiva. Não adianta revirar o lado ruim do passado se não podemos alterá-lo pra melhor. Quem gosta de reviver maus momentos cuide de se curar pois a consequência desse hábito costuma ser um respeitável problema de saúde.

Quanto ao futuro, o raciocínio é semelhante, mutatis mutandis. Podemos até certo ponto moldá-lo, mas não defini-lo. Alguém já disse: “A única maneira de prever o futuro é construí-lo”. Claro que se trata de força de expressão, pois ninguém consegue fabricar seu próprio futuro. Mas nele influir, podemos. E isso fazemos a todo instante naturalmente. Quando nos graduamos na universidade, estamos influindo no nosso futuro. Da mesma forma quando fazemos um concurso ou montamos uma empresa. O que virá a partir daí é imprevisível e depende só de quão bem ou mal trabalhamos o presente. Este, sim, nos pertence in totum. Está em nossas mãos e nele fazemos o que bem queremos. Os reflexos voarão para a frente. Portanto, tratemos de aproveitá-lo com inteligência para moldar o porvir no rumo certo.

Somos em boa parte fruto de nossas decisões. O que decidimos e fazemos agora é que conta. Tratemos, pois, de viver intensamente e bem o átimo presente. É a integração de átimos bem vividos que faz a vida saudável.

Não adianta se punir pelo passado nem se preocupar com o futuro, pois tal comportamento não alterará o resultado.

Portanto, olhando pra frente, a palavra-chave é preocupação. Isso, sim, deve ser evitado. Reviver o lado bom do passado, sim. Influir positivamente no futuro, sim. Preocupação com o que nos espera, não. É um sentimento negativo que devemos evitar a todo custo. Enquanto nos preocupamos com o futuro, desperdiçamos energia que poderia ser usada no presente.

(*) Membro efetivo do Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico e Antropológico.

Fonte: Publicado In: O Povo. Fortaleza, 17/08/2016. Opinião. p.10.

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