Por Affonso Taboza (*)
O passado já se foi
e o futuro a Deus pertence.
Esta sentença, que
de tão repetida nem mais dono tem e virou lugar-comum, espelha uma meia
verdade. O passado realmente passou, mas a memória ficou e se reflete no
presente. Não podemos mudar o passado, é verdade. O que fizemos de bom ou de
mau está sacramentado. De cada episódio vivido podemos ter versões variadas,
conforme a conveniência, mas uma só verdade, imutável.
“Não existe
felicidade, existem momentos felizes”, disse o poeta, com muita
propriedade. Nossa vida passada foi feita de bons e maus momentos. E tais
momentos podem ser revividos. Só que pessoas sãs costumam reviver os bons, e
isso lhes traz um prazer imenso. Embora não possamos alterar o passado, podemos
revivê-lo prazerosamente quantas vezes quisermos. Basta ativar nosso
pensamento, nossas lembranças.
Imagino que a
intenção de quem cita a frase é construtiva. Não adianta revirar o lado ruim do
passado se não podemos alterá-lo pra melhor. Quem gosta de reviver maus
momentos cuide de se curar pois a consequência desse hábito costuma ser um
respeitável problema de saúde.
Quanto ao futuro, o
raciocínio é semelhante, mutatis mutandis.
Podemos até certo ponto moldá-lo, mas não defini-lo. Alguém já disse: “A única maneira de
prever o futuro é construí-lo”. Claro que se trata de força de expressão, pois
ninguém consegue fabricar seu próprio futuro. Mas nele influir, podemos. E isso
fazemos a todo instante naturalmente. Quando nos graduamos na universidade,
estamos influindo no nosso futuro. Da mesma forma quando fazemos um concurso ou
montamos uma empresa. O que virá a partir daí é imprevisível e depende só de
quão bem ou mal trabalhamos o presente. Este, sim, nos pertence in totum. Está em nossas mãos e nele
fazemos o que bem queremos. Os reflexos voarão para a frente. Portanto,
tratemos de aproveitá-lo com inteligência para moldar o porvir no rumo certo.
Somos em boa parte
fruto de nossas decisões. O que decidimos e fazemos agora é que conta.
Tratemos, pois, de viver intensamente e bem o átimo presente. É a integração de
átimos bem vividos que faz a vida saudável.
Não adianta se
punir pelo passado nem se preocupar com o futuro, pois tal comportamento não
alterará o resultado.
Portanto, olhando
pra frente, a palavra-chave é preocupação. Isso, sim, deve ser evitado. Reviver
o lado bom do passado, sim. Influir positivamente no futuro, sim. Preocupação
com o que nos espera, não. É um sentimento negativo que devemos evitar a todo
custo. Enquanto nos preocupamos com o futuro, desperdiçamos energia que poderia
ser usada no presente.
(*) Membro efetivo do Instituto do Ceará –
Histórico, Geográfico e Antropológico.
Fonte: Publicado In: O Povo.
Fortaleza, 17/08/2016. Opinião. p.10.
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