“Canções de Ninar de Auschwitz” narra a história da alemã Helene Hannemann, que salvou milhares de pessoas após ganhar a confiança de Josef Mengele
Das lembranças tenebrosas que o
mundo guarda de Auschwitz, não parece fazer sentido que canções de ninar
pudessem acalmar crianças num campo de concentração nazista. Mas foi assim,
cantando uma carinhosa cantiga, que a enfermeira alemã Helene Hannemann teria
deixado sua casa às pressas com o marido Johan, violinista de origem cigana, e
os cinco filhos pequenos, escoltados por soldados da Gestapo. De origem ariana,
Helene não havia sido presa. Mas ela escolheu seguir voluntariamente até
Birkenau, em Auschwitz II, ,com a certeza de que seu lar era sua família,
aprisionada pelos nazistas.
O livro “Canções de Ninar em Auschwitz”, do escritor espanhol Mario Escobar (Ed. Harper Collins),
narra um diário ficctício baseado em pesquisa de fatos reais. Helene morreu com
os demais prisioneiros do campo cigano, parte de Auschwitz destinada a essa
minoria, em agosto de 1944. Segundo informações do Arquivo de Auschwitz, nem um
registro restou de sua família, nem fotos suas. O escritor e historiador joga
luz no genocídio de 20 mil pessoas de origem cigana, aprisionadas e mortas em
Auschwitz. Mais de 250 mil romenos foram assassinados na Europa e na Rússia
durante a Segunda Guerra Mundial.
RESISTÊNCIA Na luta para proteger da morte seus
cinco filhos, Helene driblou o terror por 16 meses (Crédito:Divulgação)
Por ser alemã e prisioneira
voluntária, Helene conquistou por algum tempo o respeito do carrasco nazista
Josef Mengele, que atuava no campo de concentração do nazismo. Na primeira vez
em que se deparou com o “Anjo da Morte”, ela se apresentou como ariana, enfermeira e mãe de filhos
de origem cigana. Ao salvar suas crianças da morte, ela evitou o extermínio de
milhares de pessoas, convencendo o médico rever a decisão de executar os
ocupantes de dois pavilhões pelo risco de contrair tifo.
Helene foi autorizada por Mengele a
criar e dirigir uma creche no campo polonês. “Por
isso, Mengele considerava a opinião dela. Mas, acima de tudo, Mengele queria
que ela criasse a creche no Campo Cigano (onde as famílias, diferentemente dos
judeus, podiam ficar juntas com seus filhos). Suas intenções eram guiadas por
seu interesse pessoal”. O médico fazia
experiências genéticas.
Enquanto viveu, Helene Hannemann
continuou cantando canções de ninar para seus filhos e outras crianças de
Auschwitz. A melodia era do compositor alemão Johannes Brahms. Ela abriu espaço
para o amor, mesmo em lugar de horror e morte. “Helene utilizava as cantigas de
ninar para acalmar seus filhos, algo muito natural em uma mãe”, diz Escobar. “O que ela realmente queria era que eles vissem a realidade
através de seus olhos.” Segundo o historiador,
Helene foi capz de acalmar todo o acampamento cigano em Auschwitz.
Fonte: Isto É Ano 39 n.2.426 de 8/6/2016, p.76-77.
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