Por Vasco Arruda, Psicólogo
Há uns três anos
uma amiga muito querida, a desembargadora Gizela Nunes da Costa, interpelou-me
nestes termos: “Eu gostaria de lhe convidar para
uma reunião da Academia Brasileira de Hagiologia”. Fiquei surpreso com o convite. Eu
não sabia da existência de tal sodalício, uma instituição com status de
academia dedicada ao estudo da vida e obra dos santos.
Dias depois lá
estava eu, na capela de Nossa Senhora de Lourdes do Colégio da Imaculada
Conceição, onde a agremiação se reúne mensalmente, assistindo a uma palestra
sobre o patrono de um dos acadêmicos. A Academia Brasileira de Hagiologia -
ABRAHGI (http://hagiologia.blogspot.com.br/) é composta por 40 cadeiras, cada
uma tendo por patrono ou patronesse um santo ou santa.
Desde muito cedo
fascinado pela vida e obra dos santos, logo me tornei um frequentador assíduo
das reuniões da ABRAHGI. O encontro mensal com aqueles homens e mulheres
dedicados ao afã de defender a causa dos santos provocou-me algumas questões
que passaram a martelar a minha cabeça cada vez que retornava para casa. Qual o
sentido de se falar em santidade hoje? Ou melhor, é cabível, ainda, no mundo
secularizado em que se vive, sustentar uma proposta de santidade?
Uma das minhas
atitudes mais imediatas, em face dos questionamentos, foi o retorno a alguns
livros que, há algum tempo, eu não folheava. Retornei às páginas da
“Autobiografia” de Santo Antônio Maria Claret, das biografias de Tereza
Benedita da Cruz (Edith Stein) e de Dom Bosco, o primeiro santo de que me
tornei devoto, aos dez anos de idade. Voltei, também, a me encantar com a
releitura dos maravilhosos relatos da “Legenda Áurea: vidas de santos”, do
italiano Jacopo de Varazze.
Encantamento. Essa
é a palavra. A vida está desencantada, e precisamos, urgentemente,
reencantá-la. O contato com a maravilhosa vida dos santos é um possível caminho
para tal reencantamento. Talvez seja esse um bom motivo para estudá-los. Eles
nos mostram, com sua existência, que as possibilidades humanas vão muito além
do que se possa imaginar. Recordo, a propósito, o surpreendente e impactante
trecho do livro “Teresa de Ávila ou o divino prazer”, da francesa Elisabeth
Reynaud, ao qual sempre retorno cada vez que penso a questão da santidade: “O santo é uma forma avançada da humanidade. Deu
alguns passos a mais nas metamorfoses do Homo Sapiens. O santo nos interessa
porque tem a sabedoria de ser louco, vale dizer, de ultrapassar as fronteiras
do natural para inventariar outras formas de comunicação com o invisível.
Provavelmente será alcançado pela ciência nas próximas décadas, pois experimenta
sozinho, sem ter pretendido, o campo das descobertas magnéticas que o futuro
está para nos revelar. Ele vibra com conhecimentos inexprimíveis, pois não é
nem o cientista nem o técnico daquilo que vivencia".
Fonte: O Povo, de 13/11/2016.
Opinião. p.11.
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