terça-feira, 22 de novembro de 2016

CONVERSA DE HAGIÓLOGO


Por Vasco Arruda, Psicólogo
Há uns três anos uma amiga muito querida, a desembargadora Gizela Nunes da Costa, interpelou-me nestes termos: “Eu gostaria de lhe convidar para uma reunião da Academia Brasileira de Hagiologia”. Fiquei surpreso com o convite. Eu não sabia da existência de tal sodalício, uma instituição com status de academia dedicada ao estudo da vida e obra dos santos.
Dias depois lá estava eu, na capela de Nossa Senhora de Lourdes do Colégio da Imaculada Conceição, onde a agremiação se reúne mensalmente, assistindo a uma palestra sobre o patrono de um dos acadêmicos. A Academia Brasileira de Hagiologia - ABRAHGI (http://hagiologia.blogspot.com.br/) é composta por 40 cadeiras, cada uma tendo por patrono ou patronesse um santo ou santa.
Desde muito cedo fascinado pela vida e obra dos santos, logo me tornei um frequentador assíduo das reuniões da ABRAHGI. O encontro mensal com aqueles homens e mulheres dedicados ao afã de defender a causa dos santos provocou-me algumas questões que passaram a martelar a minha cabeça cada vez que retornava para casa. Qual o sentido de se falar em santidade hoje? Ou melhor, é cabível, ainda, no mundo secularizado em que se vive, sustentar uma proposta de santidade?
Uma das minhas atitudes mais imediatas, em face dos questionamentos, foi o retorno a alguns livros que, há algum tempo, eu não folheava. Retornei às páginas da “Autobiografia” de Santo Antônio Maria Claret, das biografias de Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein) e de Dom Bosco, o primeiro santo de que me tornei devoto, aos dez anos de idade. Voltei, também, a me encantar com a releitura dos maravilhosos relatos da “Legenda Áurea: vidas de santos”, do italiano Jacopo de Varazze.
Encantamento. Essa é a palavra. A vida está desencantada, e precisamos, urgentemente, reencantá-la. O contato com a maravilhosa vida dos santos é um possível caminho para tal reencantamento. Talvez seja esse um bom motivo para estudá-los. Eles nos mostram, com sua existência, que as possibilidades humanas vão muito além do que se possa imaginar. Recordo, a propósito, o surpreendente e impactante trecho do livro “Teresa de Ávila ou o divino prazer”, da francesa Elisabeth Reynaud, ao qual sempre retorno cada vez que penso a questão da santidade: “O santo é uma forma avançada da humanidade. Deu alguns passos a mais nas metamorfoses do Homo Sapiens. O santo nos interessa porque tem a sabedoria de ser louco, vale dizer, de ultrapassar as fronteiras do natural para inventariar outras formas de comunicação com o invisível. Provavelmente será alcançado pela ciência nas próximas décadas, pois experimenta sozinho, sem ter pretendido, o campo das descobertas magnéticas que o futuro está para nos revelar. Ele vibra com conhecimentos inexprimíveis, pois não é nem o cientista nem o técnico daquilo que vivencia".
Fonte: O Povo, de 13/11/2016. Opinião. p.11.

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