Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
… O crescimento insatisfatório do bebê no útero influencia a altura do bebê no nascimento e a forma como o cérebro se desenvolve. Além disso, deturpa a produção dos neurotransmissores como a serotonina…
Ao nascer, a média do tamanho dos bebês nordestinos continua muito baixa, apesar da diminuição da mortalidade infantil (aquela que acontece durante o primeiro ano de vida). Porém uma coisa não mudou – a fome ancestral que assola a maior parte do povo brasileiro. Quando se compara o tamanho dos neonatos nordestinos com os de populações brasileiras de melhor renda, a diferença dos nossos recém-nascidos pobres é gritante.
Houve, de fato, uma diminuição no número de crianças com peso insuficiente ao nascer (menos de 2.500 g), mas essa diminuição é um indicador pouco significativo.
Nascer pequeno não é um handicap apenas físico, é também emocional. Diminui a capacidade de aprendizado enquanto aumenta o comportamento antissocial e a violência. Aqueles que nascem com menos de 47 cm são os que têm maior risco, já que um crescimento fetal insatisfatório poderá ter efeitos de longo prazo sobre a química do cérebro.
O crescimento insatisfatório do bebê no útero influencia a altura do bebê no nascimento e a forma como o cérebro se desenvolve. Além disso, deturpa a produção dos neurotransmissores como a serotonina, também conhecida como a substância “mágica” ligada ao desenvolvimento e ao humor de um modo geral, cuja presença é notadamente baixa em pessoas com depressão.
O pouco crescimento no útero pode ser causado pelo uso abusivo de drogas pela mãe, inclusive álcool, ou por uma dieta ruim ou mesmo por um ambiente estressógeno – de miséria e tantas outras causas.
É possível identificar gestações de risco em mulheres cuja situação é adversa, como aquelas com problemas sociais, adolescentes e as com passado criminoso. Desemprego, violência e insegurança econômica também causam estresse prejudicial.
Há evidências de que um auxílio a essas mães pode ter efeito no desenvolvimento da criança, no longo prazo.
É preciso pensar em um acompanhamento pré-natal que não se resuma ao fornecimento de cestas básicas ou a orientações médicas de última hora.
O buraco é mais embaixo …. (**)
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES).
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