Por Marcelo Gurgel
Carlos da Silva
Instada a falar sobre o marido, Glória
Wanderley, viúva de Capelo, relatou o seguinte:
“Os causos são muitos, mas me lembro bem
que, quando os meninos eram pequenos, com crises de amigdalite recorrentes,
eles tomavam ilosone, e logo no início do tratamento, o remédio, com muita
freqüência, sumia; depois de muito procurar, o Capelo dizia que tinha dado para
o filho de um funcionário da Fisiologia, que também estava doente, e o pai não
tinha como comprar. Assim acontecia com os "Kichutes", que os meninos
usavam para ir à escola, ele, "escondido" da família, também levava os
pares que estavam às suas vistas, para os filhos do funcionário, que não devia
ter como comprar “calçados”, tal qual o uniforme exigia”.
No dia do pagamento da universidade, segundo
a sua viúva, ele fazia questão de ir ao banco com todos os funcionários do Departamento;
a fila que se formava ao redor dele, tinha um aglomerado de “amigos” que tinham,
com certeza, uma "pontinha" dada por ele, subtraída dos seus parcos
vencimentos de docente.
Esse Capelo, que era Recamonde e que também
era Luiz, lembra um outro, o Fernão Capelo Gaivota, autor da sentença que se
tornou célebre: “Longe é um lugar que não existe”. É isso mesmo: o Capelo da
gente, continua no meio da gente, protagonizando “causos”, como este contado,
“gloriosamente”, por sua parceira de profissão e de vida.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Capelo, o
mão-aberta. In: SOBRAMES – CEARÁ. Semeando cultura. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão,
2016. 320p. p.234.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de médicos
e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.75-80.
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