Por Barros Alves (*)
Seis décadas de tirania
deixaram a ilha mais pobre em economia e liberdade
A
morte não santifica os maus nem concede virtuosidade aos cafajestes. Por isso,
em face do passamento do mais cruel ditador latino-americano do século XX,
Fidel Castro, esqueço o axioma latino que ensina não se falar dos mortos a não
ser de bem (De mortuis nil nisi bonum).
Prometendo o paraíso, o revolucionário de Sierra Maestra chega ao poder em
1959. Desde então, Cuba vive sob um governo comunista que castrou as liberdades
e ainda usa o terror como política de Estado. Fidel soube usar seu carisma
pessoal para conquistar um séquito de ingênuos e mal informados, por um lado;
de militantes de mau caráter, por outro. Intelectuais, inclusive. Teceu uma
rede internacional de defesa da ditadura nepótica, violenta e corrupta que
implantou na ilha.
Paradoxalmente,
ao longo da segunda metade do século XX, gradas organizações que pregam a
liberdade, como a Igreja e a universidade, quedaram encantadas diante do
discurso vitimista do ditador cubano em face da democracia norte-americana, que
reagiu ante os desatinos do ditador. A universidade deixou-se contaminar pelo
canto de sereia de figuras paradigmáticas como “Che” Guevara, respeitável
guerrilheiro, de quem Fidel ardilosamente se livrou para que não lhe fizesse
sombra na disputa interna de poder. Che não era menos assassino do que Fidel. O
comandante, porém, ladinamente, o transformou em ícone.
A
Igreja, por sua vez, embarcou na heresia da Teologia da Libertação, pregando
uma analogia barata entre o Reino de Deus e o governo da Revolução
marxista-leninista. Essa “teologia” surgiu do pensamento vesgo de religiosos
militantes da América Latina, sendo pioneiros na década de 1960, os pastores
Richard Shaul e Rubem Alves, o frade Gustavo Gutierrez e, posteriormente, os
irmãos franciscanos Clodovis e Leonardo Boff. Sem esquecer o irmão leigo e
ardoroso defensor da ditadura cubana, dito equivocadamente “frei” Betto, porque
até nisto ele constitui uma fraude, uma vez que não é frade dominicano como
pensam os incautos.
Fidel
morreu aos 90 anos sem cumprir o prometido aos cubanos. Seis décadas de tirania
deixaram a ilha mais pobre em economia e liberdade, sufocada pela indignidade
imposta e pela propaganda unilateral do Estado comunista. Os césares comunistas
da ilha, porém, vivem burguesmente. Por mais que rezem os teólogos da
Libertação, só a misericórdia de Deus livrará o ditador das penas infernais.
(*) Jornalista, poeta e assessor
legislativo.
Fonte: O Povo, de 29/11/2016.
Opinião. p.11.
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