domingo, 29 de janeiro de 2017

DORIA, O PROFESSOR


João Brainer Clares de Andrade (*)
Além da comoção popular por, finalmente, vermos um gestor público trabalhar de fato feito gestor, João Doria já é a principal lição de 2017. Desde o primeiro dia, vestiu-se como trabalhador emblemático da maior capital brasileira e desempenhou ofício de quem cuida da cidade: o prefeito-gari usou a alegoria das roupas para mostrar a que estava disposto.
João é objetivo: mesmo que possa ter sido estratégia, definiu metas ao secretariado e multa aos que chegam atrasados; eis a cabeça da máquina privada que funciona aniquilando a rotina do funcionalismo público naturalmente pouco eficiente do País. João é econômico: cortou gastos e forçou que fornecedores da prefeitura também o fizessem; afinal, assim o teria feito como líder de suas empresas.
À equipe, boa parte do mérito. O perfil técnico parece ter nascido de rodas de entrevista de grandes corporações, e o Conselho de Gestão, que integra ex-prefeitos de vários partidos e professores com expertise nos temas da cidade, são a prova de que é preciso ouvir além de tudo.
João é zeloso: anunciou oposição aos que dizem expressar arte nas paredes de prédios e locais públicos; é como um anúncio que ali há dono, feito qualquer um de nós faria em nossas casas. É um zelo pela coisa pública, apesar da rotina brasileira de não zelar porque nunca aparece um dono.
Visitar unidades, providenciar pessoalmente material em falta e reclamar da parede com infiltração é o preço que os políticos de carreira enfrentam com João. A rotina de fazer cegas para agradar aos apadrinhados parece não mais ser tolerada.
João não santificou a pobreza e muito menos demonizou a riqueza. A pobreza nem sempre é a única causa da pobreza: pode faltar moral, como também há na riqueza, para se buscar estudo, seguir regras e, mais ainda, não querer depender do assistencialismo hipertrofiado e, por vezes, eleitoreiro no Brasil. João quer ensinar a pescar; feito ele faz todos os dias.
Fonte: Publicado In: O Povo, de 28/01/2017. Opinião. p.10.
(*) Médico. Professor substituto da Uece.

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