Dar um pulo no Rio ou São
Paulo? Loucura! Longe demais, viagem pra semanas de navio costeiro, pra ir e
por lá ficar
No encontro com amigo ausente havia longo tempo, a conversa resvalou
para comparação entre a vida das pessoas nos dias de hoje e em tempos idos:
Melhorou? Ou piorou?
Éramos crianças nos anos 1940, mas podemos projetar nossa visão de hoje
sobre o que nos trazem as lembranças daquele tempo e comparar, nas duas épocas,
a felicidade das pessoas.
Nesse lapso de tempo, o progresso material foi espantoso, e nisso o
Brasil não veio só; entrou no caudal que envolveu e trouxe a humanidade ao
estágio atual. A longevidade aumentou, graças ao progresso admirável da
medicina; anciãos, hoje, contam 80 ou 90 anos, e não 60 ou 70 como nos dias de
antanho. Os meios de comunicação nos colocam em tempo real nos quatro cantos da
terra; assistimos, da nossa poltrona, aos debates nem sempre edificantes do
Congresso Nacional e os discursos pomposos, gordos e superadjetivados dos
ministros do STF, como se estivéssemos no recinto.
Os meios de transporte riem das distâncias, globalizam a distribuição de
alimentos e tornam as pessoas quase onipresentes, por isso sertanejos não
morrem mais de fome nas secas; pego um avião de manhã como quem pega um táxi e
vou ali a Brasília, participo de uma reunião, e à noite estou em casa. Inúmeros
são os exemplos. Difícil citá-los todos em espaço curto.
Vejamos, agora, o outro lado. Se a medicina engatinhava e médicos eram
raros, abundavam ervas e meizinhas, e elas bastavam. Sessenta anos era idade
avançada e a todos parecia prêmio a já tão longa vida. Meios de comunicação
eram rudimentares mas satisfaziam; saber o que se passava mundo afora? Pra quê?
Bastavam as ruindades dali mesmo, as fofocas locais. Dar um pulo no Rio ou São
Paulo? Loucura! Longe demais, viagem pra semanas de navio costeiro, pra ir e
por lá ficar.
Não se deseja o que não se conhece. O que hoje se apresenta como
indispensável, nos bons tempos não existia e não fazia falta. Por isso a vida,
na sua simplicidade, era devagar e macia. As novidades de hoje trazem uma carga
de exigências que a tornam sufocante, irritante até. Os problemas pessoais se
atropelam.
Bons tempos aqueles dos papos de calçada nas bocas de noite sobre almas
e lobisomens, das caminhadas noturnas tranquilas em ruas, e viagens a pé por
estradas desertas onde só entes do outro mundo metiam medo.
E ao leitor a pergunta: A felicidade das pessoas melhorou? Ou piorou?
(*) Engenheiro civil e
militar e membro do Instituto do Ceará – Histórico, Geográfico e Antropológico.
Fonte: Publicado In: O Povo.
Fortaleza, 29/11/2016. Opinião. p.11.
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