Médico-Psicoterapeuta
A medicina atual deveria
cuidar, além da prevenção e terapia das doenças, dos cuidados paliativos. O
mais grave é quando os valores econômicos e médicos se cruzam, fazendo-nos sentir
desconfortáveis e – compreensivamente – embaralhamos os fatos. Neste momento
surgem os pescadores de águas turvas.
Sem desejar relatar casos
vividos por mim, descreverei algum fato envolvendo o que denomino de “cuidados
paliativos” que no Brasil ainda não são reconhecidos por Lei. Os economistas
afirmam que a população mais doente gasta cerca de 15% do produto interno bruto
com saúde e que os gastos subirão exponencialmente, chegando em duas décadas a
quase 60% do PIB.
O peso do descontrole
econômico e financeiro, adicionado aos gastos mais intensos, foram concentrados
naqueles que mais sofrem. Nos Estados
Unidos os gastos maiores – e com menor sobrevida – concentraram-se nas pessoas
que mais sofrem. E deixando as estatísticas de lado, os gastos com a saúde e
com suas derivadas gírias de economês são tão altos neste país do Norte que
deveria estar entre os primeiros lugares do mundo no tocante a qualidade de
saúde de sua população. Não está!
Faço as seguintes
perguntas: O que vamos fazer sobre isso? O que estamos fazendo sobre isso? E
por que é assim?
A realidade é que a
indústria de cuidados da Saúde se esquece de fazer uma única pergunta: — O que
o paciente deseja? Será que estão sendo roubados da oportunidade de escolher
como desejam viver no contexto de uma doença?
A Indústria da Saúde está
apontada e centrada nas patologias, cirurgias, farmacologias, imagens, e se
esquece do ser humano. Deveria pensar em diminuir as despesas per capita com
menos exames e parafernálias e mais tempo gastos para e com o paciente.
O resultado será a soma
de menores gastos, menos exames, menos aparelhos, menos hospitais, menos UTIs e
outras parafernálias. Com isso, sem aumentar a despesa, levaríamos melhor
medicina a todos. Isto não é balela nem bondade nem muito menos sermão de boa
vontade.
Quem trabalha com doentes
com câncer, doença cardíaca, doença pulmonar, doença renal, demência, sabe
disto e a melhoria da qualidade de vida e duração da vida é melhor e muito
maior quando dispomos de cuidados paliativos.
Nos países desenvolvidos
94% da população jamais teve de ser hospitalizada. E nem por isso estão com
péssima qualidade de vida. Muito pelo contrário. Não foi necessário ir para o
hospital. O problema é quem realmente necessita de hospitalização e não acha
vaga, não tem o necessário, quando necessário. E não medicalizar (tratar um
problema social como se fosse um problema médico). Bastaria fazer uma política
médica centrada nas pessoas e não como é, atualmente.
Para ficar na Medicina,
que é minha praia, não entendo a causa de tanta dificuldade em aprovar a PEC
241, usando o engessamento com os gastos da saúde como argumentação contrária.
Aos meus colegas, o meu
governo, a todos os brasileiros, aqui estou a exigir o melhor cuidado possível
para que possamos viver com mais qualidade hoje e garantir uma vida melhor
amanhã. O que mais me alegra é que por vez primeira estamos projetando alguma
política de longo prazo no Brasil.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco.
Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE)
e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da
Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).
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