quarta-feira, 7 de junho de 2017

MEDICINA & POLÍTICA

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A medicina atual deveria cuidar, além da prevenção e terapia das doenças, dos cuidados paliativos. O mais grave é quando os valores econômicos e médicos se cruzam, fazendo-nos sentir desconfortáveis e – compreensivamente – embaralhamos os fatos. Neste momento surgem os pescadores de águas turvas.
Sem desejar relatar casos vividos por mim, descreverei algum fato envolvendo o que denomino de “cuidados paliativos” que no Brasil ainda não são reconhecidos por Lei. Os economistas afirmam que a população mais doente gasta cerca de 15% do produto interno bruto com saúde e que os gastos subirão exponencialmente, chegando em duas décadas a quase 60% do PIB.
O peso do descontrole econômico e financeiro, adicionado aos gastos mais intensos, foram concentrados naqueles que mais sofrem.  Nos Estados Unidos os gastos maiores – e com menor sobrevida – concentraram-se nas pessoas que mais sofrem. E deixando as estatísticas de lado, os gastos com a saúde e com suas derivadas gírias de economês são tão altos neste país do Norte que deveria estar entre os primeiros lugares do mundo no tocante a qualidade de saúde de sua população. Não está!
Faço as seguintes perguntas: O que vamos fazer sobre isso? O que estamos fazendo sobre isso? E por que é assim?
A realidade é que a indústria de cuidados da Saúde se esquece de fazer uma única pergunta: — O que o paciente deseja? Será que estão sendo roubados da oportunidade de escolher como desejam viver no contexto de uma doença?
A Indústria da Saúde está apontada e centrada nas patologias, cirurgias, farmacologias, imagens, e se esquece do ser humano. Deveria pensar em diminuir as despesas per capita com menos exames e parafernálias e mais tempo gastos para e com o paciente.
O resultado será a soma de menores gastos, menos exames, menos aparelhos, menos hospitais, menos UTIs e outras parafernálias. Com isso, sem aumentar a despesa, levaríamos melhor medicina a todos. Isto não é balela nem bondade nem muito menos sermão de boa vontade.
Quem trabalha com doentes com câncer, doença cardíaca, doença pulmonar, doença renal, demência, sabe disto e a melhoria da qualidade de vida e duração da vida é melhor e muito maior quando dispomos de cuidados paliativos.
Nos países desenvolvidos 94% da população jamais teve de ser hospitalizada. E nem por isso estão com péssima qualidade de vida. Muito pelo contrário. Não foi necessário ir para o hospital. O problema é quem realmente necessita de hospitalização e não acha vaga, não tem o necessário, quando necessário. E não medicalizar (tratar um problema social como se fosse um problema médico). Bastaria fazer uma política médica centrada nas pessoas e não como é, atualmente.
Para ficar na Medicina, que é minha praia, não entendo a causa de tanta dificuldade em aprovar a PEC 241, usando o engessamento com os gastos da saúde como argumentação contrária.
Aos meus colegas, o meu governo, a todos os brasileiros, aqui estou a exigir o melhor cuidado possível para que possamos viver com mais qualidade hoje e garantir uma vida melhor amanhã. O que mais me alegra é que por vez primeira estamos projetando alguma política de longo prazo no Brasil.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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