quinta-feira, 22 de junho de 2017

NANOMEDICINA

Pedro Henrique Saraiva Leão (*)
Tornou-se modernamente reconhecida a função premonitória da Literatura na Ciência. (Ótimo título para um ensaio!). Como se aquela profetizasse esta. Exemplos irrefragáveis (incontestáveis) estão no francês Jules Verne (+1905): “Vinte mil Léguas Submarinas”, e nos ingleses H(erbert) G(eorge) Wells (+1946): “A Máquina do Tempo” (1895); “Os primeiros Homens na Lua” (1901) e Aldous Huxley (+1963): “Admirável Mundo Novo”, este (1932) adivinhando o bebê de proveta.
Quando menino e mancebo, abismava-me, boquiaberto ante as histórias fantásticas de ciência/ficção de seus cultores exponenciais, como estes “plus” Asimov, Arthur Clarke, Robert Heinlein. Realmente, os robôs invadiram nosso planeta, e alongadamente temos discorrido aqui em “Dr. Robô” (20/1/1992), “Doutor Internet” (12/XI/2008), “Transhumanismo” (06/1/2013), e “Robô da Vinci” (23/2/2016). Deles já nos dera ciência a Literatura, esta, em parte, imemorial. Aludidos engenhos semelhando pessoas biônicas, autômatos androides ou ginecoides (tais quais homens ou mulheres) começaram mencionados no livro XVIII da “Ilíada”, (atribuída a) Homero. Ali compunham um exército arregimentado por Hephaestus, o deus do fogo (Vulcan, entre os romanos) para o herói Achiles.
Estes petrechos só em 1920 foram denominados “robôs” pelo escritor tcheco-eslovaco Karel Capek. Nas línguas dessa região, “robota” significava “trabalho forçado” (faz sentido!). Já na aurora dos tempos as mitologias chinesa, grega e egípcia disso se ocuparam. E no século XVI Leonardo da Vinci desenhara robôs humanoides, como atestam seus cadernos, redescobertas em 1950. Assim, a ficção veio-se fazendo fato nas novelas de Arthur Clarke, e nos contos dos mais de 500 livros de Isaac Yudovich Asimov (+1992), Máxime em “Viagem Fantástica” (1966), em que robôs percorrem o interior do corpo humano. Portanto – salientado eclesiasticamente pelo lusitano Pe. Antônio Vieira (+1697) – “Nihil sub sole novum”. Robôs bípedes já nos substituem na Indústria, na Medicina, e até nos campos de batalha, comportando-se qual “Wild Cat” (gato selvagem) (“In” revista INFO, XI/2013).
É a nanomedicina que se agiganta, cujo prefixo significa “anão” em grego. Impressiona sobremodo o desempenho destes nano-robôs – medindo tão somente 1 bilionésimo de metro, ou 6 x menos do que um glóbulo vermelho – quando injetados por via parenteral (vascular). Destarte, facilitam diagnósticos precoces, administram drogas anticancerígenas de maneira dirigida (poupando tecidos sadios), e tratam o diabetes e outras doenças.
Nano-robôs cirurgiões existem nos EUA desde 1990 e surgiram nos quirófanos (salas de operação) brasileiros em 2008. Lemos também que há pouco (2014) foram documentados agindo em organismos vivos, na Universidade da California (EUA) (San Diego). Em verdade, representam a realização dos sonhos e cerebrações dos norte-americanos Kim Eric Drexler (1955) e Richard Feynmann (1988), verdadeiros “míssilnários” da bioengenharia molecular. Eia, o futuro dobrou a esquina, aventando-se até mesmo cérebros artificiais daqui a dois anos, precedendo os “cyborgs” (homens/máquinas), e a inteligência robótica prevista para 2045. (Sugerimos ler/reler nosso artigo aqui divulgado em 27/3/2013). Pasmem! “Ereiupe”! (bem-vindos), diziam nossos índios.
(*) Professor Emérito da UFC. Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 17/05/2017. Opinião, p.10.

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