segunda-feira, 9 de outubro de 2017

ONIOMANIA

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
A palavra oniomania significa mania de consumir, compulsão em comprar. Até hoje, na verdade, não se sabe se essa epidemia torna-se mais intensa devido à tradição natalina, ou se é impulsionada pela esperança de renovação, que surge em cada véspera de Ano Novo. Nesta época, a febre de consumo toma conta das pessoas, nas catedrais da modernidade - os grandes shoppings centers - e eles ficam abarrotados de “fiéis”, compelidos pela ânsia de presentear os familiares e amigos.
A mania que se encontrava latente pode eclodir, até, nas pessoas menos predispostas ao consumismo. Cabe aqui um alerta: não devemos esquecer os “surtos” menores, impulsionados, também, pelo comércio, a exemplo do Dias das Mães, do Dia dos Pais, do Professor, da Sogra, da Mulher, da Secretária, entre tantos outros. Sentir necessidade de comprar é um sinal de doença. Estourar o orçamento, repetidas vezes, representa um vício semelhante ao alcoolismo. Esse distúrbio não é novo. Dizem que teve seu início na Grécia Antiga, após a invenção do dinheiro e do surgimento do status (o conjunto de direitos que possuem aqueles que têm poder de barganha).
Não raras vezes, a ação de comprar promove grande sensação de prazer, que acarretam em descargas de endorfina. No princípio do século passado, dois psiquiatras - o alemão Emil Kraepelin (1856-1926) e o suíço Eugen Bleuer (1857-1939) - foram os primeiros a escrever sobre a questão da compulsão por comprar, ou oniomania, uma dificuldade para controlar o impulso de adquirir bens materiais. O distúrbio psicossocial tornou-se cada vez mais global, apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não inclui-lo na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Somente na década de 1990 surgiram alguns artigos sobre o assunto. Devido à gravidade pandêmica do distúrbio, vale questionar se esse comportamento ainda não foi incluído, como doença, pela OMS, em decorrência do poder do mercado consumidor. Será, também, que, devido às pressões exercidas pelo mercado, a importância psicossocial da oniomania vem caindo no esquecimento da literatura especializada?
Dificilmente se encontrará, na Medicina, remédio, diagnóstico ou tratamento para tal patologia. Ela vem sendo muitíssimo bem alimentada, a cada ano que passa, pelas sociedades que incentivam o consumismo, o narcisismo, o egocentrismo, em detrimento de outros valores e comportamentos. E, nessa lógica diabólica, ter que comprar, ter que presentear torna-se imprescindível. As pessoas se endividam e adquirem todas as mercadorias produzidas que foram transformadas, por parte do mercado, em bens fundamentais. Ou seja, não importa o que se compre: o mais importante passou a ser o próprio ato de comprar! E, cada vez, mais...
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha).

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