O Professor Geraldo Wilson da Silveira
Gonçalves, quando diretor do Centro de Ciências da Saúde da UFC, recebeu em seu
gabinete, uma dona, de boca carnuda e longas madeixas negras, que assim se
apresentou:
– Muito prazer, Prof. Geraldo. O meu nome é
Carmem.
– O prazer é todo meu – acusou o Prof. Geraldo, que para animar a conversa e
fazer uma referência à famosa ópera-cômica em quatro atos do compositor francês
Georges Bizet, arrematou:
– É a Carmem de Bizet?
– Não, professor! É de Oliveira. O meu nome
completo é Carmem Felino de Oliveira.
– Oh, desculpe-me, senhora! Não sei de onde
tirei esse sobrenome.
– Por nada, foi um enorme prazer conhecê-lo,
Prof. Geraldo. Até mais ver!
– Até mais, moça!
E enquanto ela se retirava, ele começou a
assobiar trechos da “Havanaise” ou “Habanera”, lembrando que o amor é livre
como um pássaro rebelde, e falou baixinho:
– “La voilà! Voilà la Carmencita!”
A propósito, ela nem dissera a que viera, o
que intrigou ainda mais o professor, que passou a imaginar ter visto a
assombração de uma morena andaluza, com um xale nos ombros, batendo as
castanholas e deixando espalhados no ar, sopros da tão conhecida Ópera Carmem.
Abrindo bem os olhos, nada restava ali, a
não ser uma lembrança leve do cheiro de azeite de oliva, evocando o sobrenome
da “gata” que, por acaso, tinha também um Felino, para acompanhar aquela
aparição repentina, que tal como entrou, acabou saindo, deixando no rastro a
ilusão de um contato de primeiro grau com “une femme fatale”.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Carmem de Bizet?. In: SOBRAMES –
CEARÁ. À flor da pele. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2017. 384p.
p.233-4.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de
médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.27-8.
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