O Professor Geraldo Gonçalves, regente da
disciplina de Reumatologia da Faculdade de Medicina, era também o responsável
pelo Ambulatório dessa especialidade, no Hospital das Clínicas da UFC.
Suas aulas práticas eram muito concorridas,
mercê da sua competência e bem-querência, associada ao trato humanitário que
dava aos sofridos pacientes que ali chegavam.
Em 1969, Paulo Gurgel, aluno do
quarto ano, estreava nesse ambulatório, um serviço caracterizado pela agilidade
no atendimento e pelo aprendizado propiciado a vários acadêmicos, simultaneamente,
sob a direta orientação do Prof. Geraldo.
Certa vez, depois que o acadêmico Paulo fez
a anamnese, o paciente foi examinado pelo professor, sob os olhares atentos dos
seus alunos. Concluso o exame físico, o docente indaga ao estudante Paulo:
– Enfim, qual é a sua impressão diagnóstica?
– Penso que, de acordo com a história
clínica e também com os achados do exame físico, esse senhor tem artrite reumatoide – respondeu Paulo.
– Parabéns! O seu diagnóstico está correto.
Mas qual será a sua conduta nesse caso, meu rapaz?
– Acho que devo prescrever anti-inflamatórios
e corticoides – explica o estudante.
– Você está no rumo certo; porém, o mais
apropriado é a “Conduta CTA” – estimula o
professor.
– “Conduta CTA”? Desconheço tal conduta,
mestre. É algo novo que ainda não está no nosso livro-texto?
– Isso não é teórico, meu filho; mas, uma
questão prática, bem adequada à nossa realidade.
Nisso, o Prof. Geraldo Gonçalves levanta-se
e vai até o armário para retirar algumas amostras para entregar ao paciente, e
pontifica com toda a sua espirituosidade:
– “Conduta CTA” significa “Conforme Tenha no
Armário”.
Para bem guardar na lembrança, o querido
mestre juntava as amostras grátis, recebidas dos propagandistas de remédios,
que, com regularidade, o visitava em sua clínica particular, para suprir o seu
precioso armário do Ambulatório de Reumatologia do Hospital das Clínicas, os
quais eram dispensados aos enfermos despossuídos. Não era ele um Robin Hood,
tirando dos ricos para dar aos pobres, mas, movido por seus caros princípios da
caridade cristã, guardava para distribuir com quem nada tinha, o que vinha às
suas mãos, de graça e sem nenhum favor.
Fonte:
SILVA, M.G.C. da. Conduta CTA. In: SOBRAMES –
CEARÁ. À flor da pele. Fortaleza: Sobrames-CE/Expressão, 2017. 384p. p.234-4.
* Publicado,
originalmente, In: SILVA, M.G.C. da. Contando Causos: de
médicos e de mestres. Fortaleza: Expressão, 2011.112p. p.28-9.
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