É assim como alguns o chamam. Jocosamente. O respeitado escritor paulista Mário da Silva Brito, contudo, afirmava – com arrojo (atrevimento) ou certa imodéstia - ser o léxico (dicionário) “o pai dos inteligentes: os burros dispensam-no”. A seu respeito, Graciliano Ramos, alagoano de Quebrângulo (1892), um dos sóis da literatura brasileira no Nordeste (“São Bernardo”, “Angústia”, “Vidas Secas”) reconheceu: “não poderíamos trabalhar sem eles, como ( ) sem couro ou tijolos se fossemos sapateiros ou pedreiros”.
Penso assim também. Há muito estão meus dedos calejados
de tanto abrir e folhear dicionários. Sempre cortejei-os, e – geralmente – fui
recompensado. Aqui se impõe o advérbio, pois a palavra procurada, às vezes, ali
não está.
Mesmo assim, nesses casos (raros) deparamos (encontramos)
seus sinônimos ou correlatos. Ressalte-se, por igual, a prestimosidade destes
livros, eis que respondendo nossas perguntas definem outros termos, acima e
embaixo, nos dirimindo (anulando) outras dúvidas vernaculares, i.e., relativas
à língua. Este é mais um dos seus encantos, estimulando maior conhecimento dos
consulentes (quem consulta). O português originou-se do latim, e – consoante
historiadores fidedignos os romanos ocuparam demoradamente a Inglaterra (do ano
55 antes de Cristo ao 6º século) ali inseminando esse idioma. Sua importância
para os utentes (usuários) do português foi explicitada por um certo senhor
Brander Mttheus, ao asseverar (assegurar, declarar): “não é preciso saber latim, mas
devemos, pelos menos tê-lo esquecido”.
Com menos vocábulos contribuíram os gregos, sendo dos
helênicos (da Hélade, ou Grécia Antiga) a formação da palavra “epicaricácia”,
termo estrambótico (estapafúrdio ou bizarro, excêntrico) pouco conhecido. Vinda
até nós pelos ingleses, “epicaricácia” não se encontra no Aurélio ou no Houaiss, mas na
internet (Wikipedia). Deriva de “epi” = sobre + “chara” = alegria + “kakon” =
mal, traduzindo-se por “alegria pela infelicidade de outrem”. Talvez seja mais
conhecida em Alemão: “Schadenfreude” (“Schaden” = prejuízo; “Freude” = alegria) (In “Dictionary
of Early English”. Joseph T. Shipley, Editor: Littlefield, Adams & Co.
Paterson, New Jersey, EUA, 1963). Segundo o escritor norte-americano Gore
Vidal, o fracasso dos amigos seria uma forma de felicidade. Já fui vítima dessa
desfeita, perpetrada (cometida) por um colega, ex-estagiário, alegado
“amigo–irmão”. “Hélas”!
Alguns leitores acusam-me de usar “palavras difíceis”,
embora logo a seguir as defina. Faço-o, entretanto, para enriquecer-lhes o
patrimônio vocabular, atualmente minguado pela falta de leitura, pela TV e pela
internet. Recomendo ler/reler meu artigo “Vox barbara”, no O POVO, 14/10/2009.
O primeiro léxico de Português foi a “Dictionarium Lusitanico in Latinum Sermonen”, por Jerónimo Cardoso, publicado em 1569.
Concluindo, tirante os dois acima mencionados,
exemplifico com os clássicos Morais Silva (12 volumes), 1954; Laudelino Freire
(5 volumes), 1940; Cândido de Figueiredo (2 volumes), 1945, além daqueles de
Francisco Fernandes (Verbos e Regimes; Sinônimos e Antônimos; Regimes de
Substantivos e Adjetivos). Lembro ainda os dicionários Latino – Português e
Português – Latino, de Francisco Torrinha (Porto, 1942), além de inúmeros
outros que tais, venerandos habitantes da minha biblioteca.
(*) Professor Emérito da UFC.
Titular das Academias Cearense de Letras, de Medicina e de Médicos Escritores.
Fonte: O Povo, 13/09/2017.
Opinião, p.14.
Justo o que eu procurava sobre etiqueta patrimonial, etiqueta poliester e plaqueta pvc. Obrigada!
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