quarta-feira, 25 de abril de 2018

GENES E HUMANIDADE

Meraldo Zisman (*)
Médico-Psicoterapeuta
Apesar de as comparações iniciais terem revelado que, cerca de 40 milhões de pares de genes (somente 1,2% do total), são diferentes do chimpanzé, não é possível elaborar estudos comparativos da espécie humana, exclusivamente, pela quantidade de DNA existente no genoma desse primata, o parente vivo mais próximo do Homem: isto seria tão absurdo quanto a mentalidade das pessoas, nas escolas, desfavoráveis ao ensino da teoria de Darwin.
Essa pequena alteração, porém, possui um grande impacto nas diferenças entre as duas espécies. Ela deu um cérebro maior ao ser humano, a possibilidade de andar ereto sobre os dois pés, as habilidades linguísticas complexas, a percepção do som e a transmissão de sinais nervosos, além da capacidade de adaptação aos mais diferentes ambientes.
Calcula-se entre oito ou doze milhões de anos atrás, a época do maior número de duplicação dos genes, que causou a separação das linhagens dos humanos e dos chimpanzés, para melhor se adaptar às variações climáticas e alimentares. Nesta mudança dos genes surgiram as habilidades cognitivas (o processo ou a faculdade para adquirir conhecimentos complexos), e elas foram se tornando essenciais para a vida na sociedade humana, que é cada vez mais complexa.
Estudos mais recentes comprovam que as pequenas diferenças, entre o genoma humano e o do chimpanzé, são dez vezes maiores do que apontam as pesquisas feitas há poucos anos atrás, quando os estudos genéticos ainda estavam engatinhando. A chave para tal descoberta foi o estudo da duplicação de fragmentos de DNA, repetidos ao longo do genoma, que era difícil de distinguir e, por essa razão, não foi levado em conta no final do século XX. Foi, precisamente, o estudo das duplicações de todo o genoma das espécies de grandes macacos - orangotangos, chimpanzés e gorilas - que permitiu um avanço, através do qual se elaborou o primeiro catálogo específico das regiões, dos diversos genomas, entre símios e seres humanos.
As duplicações dos segmentos são fragmentos do genoma, que, devido a mecanismos moleculares muito complexos, em determinados momentos da evolução, empreenderam múltiplas cópias de si mesmo, e estas foram sendo inseridas em diversos lugares do próprio genoma. O genoma do chimpanzé, por exemplo, revela o que nos faz diferente dele.
Seres humanos e primatas possuem um ancestral comum: alguma criatura, semelhante ao macaco, que, há cerca de seis milhões de anos, viveu na Terra. No entanto, o tempo se encarregou de esculpir os genomas do macaco e do Homem, em sentidos diferentes. Cinquenta e três genes presentes no genoma humano, ou não existem, ou, caso existam, no chimpanzé são de forma imperfeita. Assim, o próximo desafio da genética será descobrir o que esses genes fazem. Será que eles poderiam explicar por que somos humanos? Esperamos que sim, além de esclarecerem muitas patologias que assolam a nossa espécie, particularmente, as doenças mentais.
(*) Professor Titular da Pediatria da Universidade de Pernambuco. Psicoterapeuta. Membro da Sobrames/PE, da União Brasileira de Escritores (UBE) e da Academia Brasileira de Escritores Médicos (ABRAMES). Consultante Honorário da Universidade de Oxford (Grã-Bretanha). Foi um dos primeiros neonatologistas brasileiros.

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